Antes de qualquer coisa devo dizer que Carta de Amor aos Mortos falará sobre perdas, depressão, abuso e a importância da estrutura familiar para jovens adolescentes. Mas o principal falará também sobre suporte e superação. Mas fique tranquilo, tudo isso é abordado de uma maneira muito sutil pela autora Ava Dellaira, de forma que você vai se adaptando a tudo, naturalmente conforme vai lendo está bela e exemplar história.
Aperte o Play e boa leitura!

O livro é narrado por Laurel no formato de cartas, o que torna a leitura muito mais interessante e fluida. Ela começa a escrever estas cartas através de uma tarefa dada por sua professora de inglês e o objetivo era escrever uma carta para alguém que já havia morrido. A tarefa passa a virar um hábito de Laurel e é aí que a nossa protagonista começa a colocar para fora toda sua história e seus segredos mais obscuros.
Um dos pontos que mais me chamaram a atenção no livro, foi o fato de que algumas dessas cartas tinham como destinatários artistas do qual eu sou muito fã, dentre eles Kurt Cobain, Amy Winnehouse, Heath Ledger, etc. E o fato de muitas dessas cartas carregar também, parte da biografia desses artistas torna tudo ainda mais real. Ah e é claro, além de trazer uma trilha sonora igualmente inspiradora e nostálgica para mim.
Há poucos meses, Laurel perdeu sua irmã e melhor amiga May. Sem o apoio da sua mãe e com a ajuda limitada de seu pai e de sua tia, Laurel com apenas 15 anos tenta agora não se sentir perdida, culpada e sozinha. Ao se mudar para outra cidade e escola, ninguém saberia de nada daquilo que a atormentava e esta era sua chance para construir um novo futuro, deixando no passado sua tragédia familiar. Porém nem mesmo ela saberia se seria capaz de superá-lo.

É possível ser nobre, corajoso e lindo e ainda assim desabar.

O livro parece ter todo seu enredo claro para o leitor, como se fosse apenas uma jovem tentando seguir em frente, que busca forças para compartilhar sua história e que grita por ajuda. Laurel sabe que sozinha ela ficará estagnada em sua tristeza deixando passar por seus olhos os melhores momentos da sua vida mas não para por aí, vamos ser surpreendidos por algo a mais por trás de tudo isso, e isso que engrandece o livro.
Apesar do livro ter uma temática pesada, sua rotina na nova escola faz que o livro também tenha partes mais leves, como o surgimento de novas amizades. Eu sinceramente, não poderia pedir amigos melhores para a vida de Laurel. E sim, eu vibrei com o desenvolvimento do romance lindo entre ela e o mais do que especial Sky. Obviamente, estes personagens também têm seus dramas, mas é nesta “troca” de experiências que Laurel encontra mais coragem para sua vida.

Queria que Sky me visse como perfeita e linda, como eu via May. Mas na verdade, todos nós temos sangue e entranhas. E, por mais que eu estivesse me escondendo dele, acho que parte de mim sempre quis que Sky me visse de verdade – e soubesse das coisas que tinha muito medo de contar. Mas não somos transparentes. Se quisermos que alguém nos conheça, precisamos nos revelar a essa pessoa.

Fico aqui imaginando quantos pessoas têm, tiveram ou terão uma experiência de vida como Laurel, Com apenas 15 anos de idade, quantas pessoas conseguem forças para superar tudo, a o que elas se agarram? Por que outros não conseguem? Diálogo, família, laços e compreensão, para mim são a chave para que nada disso aconteça.
Mesmo assim, Carta de Amor aos Mortos não foi um livro que mexeu totalmente comigo sabe? Fiz uma comparação injusta dele com Um Caso Perdido e admiro a coragem da autora por abordar temas tocantes e desenvolvê-los muitíssimo bem. Por estes temas, não é uma leitura super rápida mas tudo é válido pela quantidade de frases tocantes e bem inseridas que a autora consegue colocar no livro (haja posts’it!), que é do tipo que te passa uma mensagem gratificante ao finalizá-lo, mostra sem dúvidas, o quanto as pessoas precisam de suporte e que sozinhas o caminho é muito mais perigoso.
Mesmo aos pedaços, temos que ter forças para gritar por socorro e só assim poderemos ter ajuda, podemos recomeçar e reconstruir a alma, superar o luto ao qualquer outro tipo de dor que esteja presente. Nada será como antes, é verdade, mas tiramos algo como aprendizado e que podemos encontrar nas pessoas, outras motivações.

Talvez ao contar as histórias, por pior que sejam, não deixemos de pertencer a elas. Elas se tornam nossas. E talvez amadurecer signifique que você não precisa ser uma personagem seguindo um roteiro. É saber que você poder ser a autora.

Laurel aprendeu e você leitor também aprenderá que não é se fechando para o mundo que conseguiremos nos libertar dos nossos fantasmas mais sombrios e sim é compartilhando seus sentimentos para que alguém te escute e te estenda a mão pois sempre haverá alguém para te puxar. Na capa do livro temos uma mensagem de Stephen Chbosky, autor de As Vantagens de ser Invisível que fala que Cartas de Amor aos Mortos é o anúncio do surgimento de uma nova voz literária corajosa. Eu concordo plenamente.

  • Love Letters to the Dead
  • Autor: Ava Dellaira
  • Tradução: Alyne Azuma
  • Ano: 2014
  • Editora: Seguinte
  • Páginas: 344
  • Amazon

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