Desde o momento em que me deparei com o cartaz deste filme eu fiquei encantada. Quando assisti ao trailer, alguns meses atrás, eu me senti ainda mais ligada a história, gostei tanto que corri para a página do Estante Diagonal no Facebook e compartilhei o trailer com todos os nossos queridos leitores. A verdade é que desde então eu fiquei com o título do filme em minha mente, a história vagava pelos meus pensamentos e chamava a minha atenção sempre que estava desocupada, pensando em nada para então pensar em Alice.
Desde aquele momento eu sabia que seria algo interessante, algo sensível, acreditava (mesmo sem ter assistido ao filme) que Julianne Moore teria feito um bom trabalho, por isso fiquei muito feliz quando, durante a premiação do Oscar deste ano (2015), a atriz levou para casa sua primeira estatueta dourada. Quando soube que Moore havia ganhado o Oscar de melhor atriz eu tive a certeza de que precisava assistir, e hoje estou aqui para compartilhar com vocês as minhas opiniões, pensamentos e sentimentos com relação ao filme e sua história.

O filme se inicia de maneira lenta e gradativa, da mesma forma que o Alzheimer, da mesma forma que a descoberta e diagnóstico da doença acontece. O filme nos apresenta a história e o caso específico de Alice (Julianne Moore), uma professora e pesquisadora de linguística; uma mulher chegando aos seus cinquenta anos; mãe de três filhos ela é aquela mulher que sempre teve uma ótima memória, possui um emprego que adora, um casamento duradouro e feliz. Porém como nada na vida é perfeito, e para provar que não sabemos de tudo e que devemos deixar nossas certezas de lado, o filme nos mostra um caso raro. Alice sofre de um tipo de Alzheimer genético, passado de pai para filho, ou de mãe para filho, e como se não fosse o suficiente, ela descobre a doença (que muitos acreditam se tratar de uma doença de pessoas idosas) quando está chegando na casa dos cinquenta anos.
Tudo se inicia de forma sutil, a personagem esquece pequenos detalhes, palavras de sua palestra, expressões que queria contar, objetos entre outros elementos comuns e muitas vezes sem valor em meio a correria e atividades de nosso dia a dia, coisas que muitas vezes não percebemos que esquecemos após alguns minutos de termos lembrado ou encontrado. Porém, Alice começa a sentir que existe algo errado quando a mesma se vê perdida no meio do campus em que leciona. Neste momento, quando se encontra em um lugar e não consegue entender como foi parar lá, o que estava fazendo lá, porque diabos foi correndo até o campus, Alice entende que precisa de um médico, precisava compreender o que estava acontecendo, quais eram os motivos para que ela estivesse tão esquecida. Após diversos testes, perguntas, imagens e mais perguntas e testes, o médico conclui que Alice sofre sim de Alzheimer, e assim acompanhamos a forma como a doença progride.
Não é intenção do filme trazer cenas mirabolantes, despretensiosas ou cheias de ação, mas sim, mostrar com perfeição, verossimilhança e sensibilidade as consequências da doença, não apenas para com os pacientes, mas também para com os familiares. O filme também aparece como um grande alerta, uma quebra naquele sentimento de que apenas os idosos têm Alzheimer. Indo mais além e quebrando mais uma vez a ideia popular da doença, o filme nos mostra que mesmo aqueles com uma vida calma, aqueles que estudam, leem e exercitam o cérebro constantemente podem desenvolver a doença, como foi o caso de Alice.
Os atores conseguiram representar e demonstrar muito bem tudo aquilo que familiares e pessoas próximas aos pacientes sentem, pensam ou fazem quando da descoberta e progressão da doença. Através deles somos capazes de observar um primeiro estágio demonstrado por familiares, a negação. Observamos muito bem a negação do marido de Alice (Alec Baldwin), vemos que ele não acredita que sua esposa tenha desenvolvido a doença, observamos o seu comportamento, o modo como ele indaga o médico, não querendo acreditar que Alice possui mesmo Alzheimer. Percebemos também como o marido tenta, após a confirmação do estado de sua mulher, se solidarizar, se integrar a vida dela, se manter até certo ponto presente. Observamos como ele tenta compreender sua situação e ajudá-la das maneiras que encontra em seu caminho, mas assim como muitas pessoas (reais, aquelas que possuem parentes com a doença ou não), ele se distancia, busca maneiras de encontrar outras pessoas para cuidar dela, e em seguida segue sua vida em busca de seus próprios caminhos.
Por outro lado, como nada é preto no branco, conhecemos também o outro lado da moeda. Observamos de perto aquelas pessoas que mal faziam parte da família, aqueles que nunca estavam presentes, aquelas pessoas que permaneciam de certa forma a margem de tudo. Toda família tem aquele parente que não visita os outros, não é mesmo?! Infelizmente, algumas famílias possuem parentes que mal visitam o doente. Essas pessoas mal percebem o quanto sua presença é importante, não apenas para o paciente com a doença, mas também para aqueles que cuidam dele.O filme também exemplifica perfeitamente, casos onde os familiares não entendem, casos em que essas pessoas perdem sua paciência pois não conseguiam compreender o que um paciente com Alzheimer sofre. Nesse lado temos a filha mais nova de Alice, Lydia (Kristen Stewart), filha esta que muitas vezes se desentendia com a mãe ou não conseguia compreender sua situação. Porém como a vida não é perfeita, mas é muito muito bela, percebemos como essas pessoas podem se tornar pacientes e compreensivas com seus parentes com Alzheimer, percebemos que essas pessoas podem ser úteis, podem ajudar, podem se importar. Então aquele parente que nunca esteve presente torna-se alguém importante na vida e na rotina do doente.

A atuação de Julianne foi totalmente digna do Oscar, não é à toa que a atriz levou para casa a estatueta por sua performance no filme. Fiquei impressionada com a forma com que a atriz conseguiu demonstrar todos os sentimentos de uma pessoa que descobre a doença e tenta conviver com ela. Outro fato que eu preciso destacar é que, do meio para o final do filme, a atuação de Julianne estava tão impecável que eu tinha certeza de que ela sofria da doença. Não tenho palavras para descrever o quanto ela se saiu bem nesse papel, mas ouso selecionar alguns adjetivos que talvez consigam exemplificar o que foi a atuação dela nesse filme, ela foi extraordinária, sensível, palpável, extremamente condizente com a realidade, o que a atriz interpreta no filme é sim o comportamento de um paciente com Alzheimer.
Para finalizar minha resenha deixo aqui o meu mais sincero conselho e pedido, todos deveriam assistir esse filme, todos deveriam conhecer essa história com o coração aberto, todos deveriam aprender com as lições e conselhos que esse filme quer nos passar. Digo isto do fundo do coração, digo isso com humildade e por conhecer e ver de perto o que o Alzheimer pode fazer com alguém, com uma pessoa querida. Infelizmente não se trata de uma história feliz, infelizmente o ser humano ainda não descobriu como reverter, evitar ou curar essa doença. Mas nós não podemos deixar de tentar, não podemos deixar de lutar e fazer o possível para ajudar, conviver ou mesmo entender essas pessoas.
As lições desse filme vão muito além dos personagens, elas se encaixam em nossas vidas. Precisamos ser mais pacientes, precisamos ser mais compreensivos, precisamos parar com julgamentos e preconceitos. Como uma pessoa que possui uma vózinha sofrendo de Alzheimer, eu sei o quanto essas coisas são importantes, sei que não devemos parar de tentar, sei que a convivência do paciente com os familiares, com pessoas queridas, é muito importante. Acredito que uma mensagem muito bonita que o filme quis passar é que não devemos nos esquecer daquelas pessoas maravilhosas que hoje não são mais as mesmas por causa da doença. É por causa dessa doença que provavelmente eles não se lembrem mais de nós, mas com doença ou não, eles estarão sempre vivos em nossa memória.

  • Still Alice
  • Lançamento: 2015
  • Com: Julianne Moore; Kristen Stewart; Alec Baldwin
  • Gênero: Drama
  • Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland

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