Tenho quase certeza que escrever essa resenha, vai ser umas das mais difíceis que já escrevi. Por diversos aspectos. Antes de mais nada, gostaria de dizer que este livro entrou para os meu favoritos. Ele já estava entre os meus top-top, enquanto eu ainda estava na metade. Pois ali, eu já havia notado, que não importando qual seria o final (que eu já observava dois possíveis e prováveis) continuaria sendo um livro incrível. Pois bem, já alerto, que esta resenha terá SPOILERS, pois muitos já sabem a história do livro, e, para que eu possa expressar muitos dos meus sentimentos, terei que falar de algumas coisas. Primeiramente, vamos à história.

Lou Clark é uma jovem de 26 anos. Mora em uma cidadezinha da Inglaterra, onde tudo gira em torno de um ponto turístico, o castelo medieval. Lou mora com os pais, o avô, a irmã Treena e seu filhinho Thomas. Treena é mais nova que Lou, porém, parece que a irmã é sempre a primeira em tudo. É a mais inteligente, a mais bonita, a que se formou primeiro, a que foi para a faculdade. Já Lou, sempre foi a mais desastrada, a com estilo excêntrico para roupas e sem muitas ambições. O seu namorado de 7 anos Patrick, está atualmente obcecado com o corpo, tudo gira em torno de treinos, dietas e afins, mas Lou está feliz acostumada com esse relacionamento sem graça.

Ela é relativamente feliz com vida que leva, até que tudo parece sair dos eixos, quando perde o confortável emprego de garçonete no café da cidade. O dinheiro que ganhava era pouco, porém, ia todo para os pais, para ajudar a manter a casa, uma vez que a mãe não trabalha para cuidar de seu avô, seu pai ganha muito pouco, e a irmã ganha menos ainda. Com o desespero da situação, Lou aceita um ou dois empregos deploráveis, até que uma nova e diferente oportunidade bate à sua porta. E Lou aceita o desafio.

A última coisa que vê é uma luva de couro, um rosto dentro de um capacete, o choque nos olhos do homem refletindo o dele próprio. Há uma explosão quando tudo se parte em pedaços. E então não há nada.

Seu trabalho será cuidar por 6 meses do filho da Sra. Traynor e deveria começar imediatamente. Will Traynor é um jovem de 35 anos. Há 2 anos atrás, morava em Londres. Tinha a vida que todos os jovens sonhavam. Uma carreira promissora, dinheiro, lindas mulheres, viagem exóticas e excitantes. Até que um dia pela manhã, ao atravessar a rua em frente a sua casa, é atropelado por uma moto. Sofre um TRM (Trauma Raquimedular) em nível C5-C6 (mais ou menos no meio do pescoço). A lesão é gravíssima, e Will torna-se um tetraplégico. Após o acidente, sua mãe o leva para viver com ela em Stortfold, para que ele possa ter (quase impossível) um pouco de privacidade. Will leva agora uma vida (se é que se pode chamar de vida) em que não pode fazer nada por ele mesmo. Depende de outras pessoas para absolutamente tudo.

Eu não era mais a única responsável por um pobre tetraplégico. Estava apenas sentada com um sujeito particularmente irônico, batendo um papo.

Lou chega para o trabalho, e é levada até o quarto de Will, e o conhece. É um rapaz de cabelos compridos, e com barba por fazer. Irritadiço, e quando fala com o Lou é apenas para fazer com que ela se sinta uma total idiota. Nathan é o enfermeiro de Will, e aparece no início da manhã, no meio dia e no final do dia para fazer curativos, realizar trocas de cateteres e a limpeza de Will. O trabalho de Lou, é fazer companhia para Will, dar os remédios do dia, alimentá-lo e tentar animá-lo. Will passa seus dias olhando para as vidraças que dão para os jardins, ou ouve um pouco de música, ou assiste a um filme. Nunca convidá Lou para participar, e ela passa os dias apenas mantendo o local limpo e evitando Will.

Mais ou menos no segundo mês de Lou no emprego, ela sem querer, ouve uma conversa da Sra. Traynor com a irmã de Will (que mora na Austrália), e descobre o porquê de apenas 6 meses de contrato.

A PARTIR DAQUI, SPOILER IMPORTANTES APARECERÃO
Se você pretende ler o livro, não leia!
Will quer fazer um suicídio assistido. Quer ir a um lugar chamado Dignitas na Suíça. Uma clínica onde o ato é legal. A mãe de Will reluta muito, mas no fim, concorda, uma vez que o filho já tentou se matar antes, com a condição de que o filho tente por mais 6 meses. Assim, Lou é contratada para ser babá de Will. Ela deve garantir que ele não tente se matar antes dos 6 meses, e ainda tentar animá-lo um pouco. Lou pede demissão, pois não poderia participar de algo assim. Não entende como a mãe do rapaz pode concordar que ele se mate. Justo agora que ela e Will estão se dando bem.
Após a insistência da mãe de Will, Lou decide continuar, mas fará de tudo para fazer Will mudar de ideia, mesmo que ele não saiba que Lou sabe o que ele planeja fazer. Pois bem, não quero contar todos os detalhes, mas mesmo após todas as tentativas de Lou, não é o bastante para Will. Ela declara-se para ele, ela ama o rapaz, de uma maneira que nunca achou possível. Ele gosta dela, mas não consegue conviver sabendo que nunca será um homem de verdade para ela. Will viaja para Suíça, e faz o que julga certo, cercado pelas pessoas que o amam.

Imaginando essa improvável cena, continuamos andando, dando risadas de vez em quando, até onde guardavam barcos. Então, Will teve pneumonia.

Algumas coisas me chamaram muito a atenção nesse livro. Sou fisioterapeuta e convivo diariamente com pessoas com as mais diversas incapacidades, inclusive parecidas ou até piores que as de Will. É muito real as dificuldades enfrentadas por cadeirantes de todo o mundo, não apenas pela acessibilidade, questão amplamente discutida, mas a apreensão de fazer qualquer atividade fora de casa e lidar com aqueles olhares disparados de todos os lados.

Outro aspecto que me revoltou um pouco, é o fato de o enfermeiro Nathan, ser o responsável pela fisioterapia de Will. Ele não estudou para isso, e não pode ser comparado um atendimento realizado por um profissional especializado, por um que nem sabe o que está fazendo. Obviamente um Fisioterapeuta não poderia ter curado Will, ninguém poderia, mas, com os estimulo certos, ele possivelmente poderia ter recuperado melhor os braços, o que mudaria em muitos aspectos a condição de Will.

Agora o ponto principal da discussão acerca deste livro. Nós, saudáveis, não podemos julgar a atitude de Will. Não sabemos o que é não poder coçar o pé, fazer a higiene pessoal, não tocar em outra pessoa, não poder fazer absolutamente nada. Passar anos preso numa cadeira, querendo mudar de posição, pois os quadris estão doendo, mas não poder, a não ser que outra pessoa venha fazer isso por ele. Isso é viver? Que tipo de vida é essa?
Por outro lado, podemos decidir quando não queremos mais viver. Minha opinião é muito concreta. Não. Não podemos decidir quando não queremos mais viver. Mas eu aplico isso a pessoas completamente saudáveis, que por dívidas ou outros problemas, desistem de tudo. Agora, como aplicar essa minha teoria em casos como o de Will? Impossível. Ele é quem está passando pelas dificuldades, ele tem total ciência de tudo o que se passa com ele, as dores que sente, as infecções que o acometem (80% desses casos a morte vem por infecção respiratória). Por isso, não o condeno.
Acho muito estranho as pessoas que não gostam deste livro por conta do final. A vida não é um conto de fadas. Eu, particularmente, sei que está longe disso. E sinceramente, ficaria aliviada se, caso um acidente como esse ocorresse comigo, pudesse pensar que há uma válvula de escape.
Curiosidade: A adaptação da obra foi lançada em 2016, como Lou teremos Emilia Clarke, nossa linda Daenerys, de Game of Thrones e como Will, teremos Sam Claflin nosso querido Finnick, de Jogos Vorazes. Preparem os lencinhos.

  • Me Before You
  • Autor: Jojo Moyes
  • Tradução: Beatriz Horta
  • Ano: 2012
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 318
  • Amazon

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