Quando soube que esse livro seria lançado pela editora Novo Conceito, no final do ano passado, confesso que uma grande curiosidade começou a surgir. Por motivos que eu não sei decifrar, e confesso que não sei dizer com precisão o que se passava na minha mente naquela época, senti que essa história traria algo surpreendente, traria um clima de Garota Exemplar (já resenhado aqui).  Então vamos a resenha!George Foss é um homem acomodado, ele trabalha em um emprego estável, mora no mesmo apartamento a vários anos, vai sempre ao mesmo bar e possuí uma relação de vai e vem com a mesma mulher a algum tempo. Olhando apenas por esse ângulo já podemos perceber uma fórmula básica sendo seguida pelo autor, mas existe muito mais tempero comum nesta história.

“Ele entrou naquela casa fresca, esperando ser consumido pelo medo assim que pusesse os pés lá dentro. Em vez disso, sentiu uma sensação surreal de tranquilidade, como se estivesse num sonho acordado.

Como homem acomodado que é, e sem grandes expectativas em sua vida, George se vê instigado quando encontra, no bar que costuma frequentar, uma mulher extremamente parecida com uma antiga namorada da época da faculdade. Decidindo ir até a mesa da moça para verificar se ela é a pessoa que pensa que é, George estará fazendo muito mais do que ir apenas bater um papo. Quando menos perceber ele será adicionado a uma grande teia de mentiras, conspirações, assassinato e manipulação.
A fórmula de A Desconhecida é simples. Pegue um homem acomodado; então adicione um amor de faculdade que terminou de forma brusca, nunca foi bem resolvido e desapareceu de repente e
sem deixar rastros; para completar acrescente intrigas, assassinatos e uma dívida de dinheiro com algum bandido importante. Unindo todos esses fatores você terá uma história de suspense clássica, uma fórmula que funcionou muito bem em vários livros e filmes ao longo da história, porém, nesse caso, ficou sem sal. Foi como se no meio de ingredientes tão comuns nos faltasse o fator inovação, algo que unisse todos os elementos em algo instigante e emocionante.
O problema com esse livro é que a narrativa é morna. Pelo menos, em minha experiência com a leitura do livro, não houve conexão com a história, identificação, não houve aquele momento em que você percebe que algo está para acontecer e fica esperando ansioso pelo que vem a seguir. A leitura foi mecânica, sem grandes pontos altos, sem reviravoltas surpreendente ou revelações admiráveis.

Apesar de ter em suas mãos uma boa história, senti que Peter Swanson não foi capaz de aproveitar o potencial que ela oferecia. Esse é aquele tipo de livro que te frustra pela possibilidade de que poderia ter sido algo maior do que realmente é. Mas não me levem a mal, por favor, não pensem que odiei esse livro, minhas críticas não estão relacionadas ao fato de que não gostei da obra, pois eu gostei. Elas estão direcionadas o potencial que não foi aproveitado, a perca do fator surpresa e a falta que senti por encontrar apenas o fator comum.

George olhou para as outras fotos em cima da televisão. Havia vários retratos de colégio da mesma garota, mas nenhuma de Audrey.

Outro ponto que me irritou e fez com que a leitura se tornasse menos atraente, foi o próprio personagem principal. O que prejudicou a história, pelo menos para mim, foi observar um adulto maduro e consciente de coisas que ocorreram no passado e não foram nada agradáveis, optar por seguir os mesmos caminhos, optar por deixar suas dúvidas de lado e agir como um tolo. Em vários momentos o personagem faz escolhas bobas, dignas de um adolescente, coisa que ele não é mais e que por seus sentimentos e pensamentos o levam para situações que poderiam ter  facilmente sido evitadas. Caso o autor tivesse modificado um pouco a personalidade de George, e alterado de forma simples a maneira como ele é inserido em toda a confusão desse livro, acredito que a narrativa se mostrasse mais instigante e bem montada.
Mas não estou aqui apenas para criticar. Mais uma vez venho parabenizar a editora Novo Conceito pelo trabalho realizado em suas publicações. Apesar de possuir uma formatação simples A Desconhecida é um livro belo em sua simplicidade. Sua edição proporciona uma leitura agradável e, o que me deixou mais feliz foi o fato de que não encontrei nenhum erro de revisão ao longo da leitura. São detalhes como esse que deixam os leitores mais animados, felizes com a edição que possuem em mãos e ansiosos pelos novos lançamentos!
Para finalizar, preciso destacar novamente que gostei desse livro e achei sua história interessante, mas a forma como ela foi escrita, moldada e pensada fez com seu potencial ficasse para trás e não atingisse o nível máximo. Um suspense é bom quando nos deixa instigados, nos faz querer desvendar os mistérios por trás de cada página, faz com que nossas mentes trabalhem como loucas para tentar identificar a verdade por trás das mentiras, e infelizmente, isso não aconteceu nesse livro.Pensava que esta seria uma história incrível e instigante, seria uma narrativa confusa (no bom sentido) e maravilhosa. Não nego que as minhas expectativas estavam nas alturas com relação ao livro, pois adoro um bom suspense. Mas é como dizem: “quanto maior a altura, maior a queda”, e apesar de garantir que minha queda não foi terrível, tenho que dizer que esperava mais, muito mais dessa história.

O suspense existe sim, mas foi mal executado, criando uma narrativa sem muitos atrativos que não nos leva para uma jornada de descobertas e confusão. Pensando em tudo isso, recomendo e não recomendo A Desconhecida. Deixo a critério de cada leitor decidir por ler ou não esse livro, e peço que aqueles que já o leram, me digam o que pensaram dessa história, o que acharam do resultado final e se o livro atingiu suas expectativas ou não.

O que estou dizendo é que talvez as pessoas nas quais nos transformamos sejam a realidade de quem somos.

  • The Girl With a Clock for a Heart
  • Autor: Peter Swanson
  • Tradução: Leonardo Gomes Castilhone
  • Ano: 2014
  • Editora: Novo Conceito
  • Páginas: 285
  • Amazon

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