O ano de 2015 foi repleto de surpresas literárias para essa pessoa que vos fala. Foi nesse ano que eu finalmente passei a me dedicar muito mais em minhas leituras, e graças a essa dedicação toda fui capaz de ler um total de quarenta livros (confesso que estou toda orgulhosa desse número), coisa que durante anos era inimaginável.  É claro que após ler quarenta livros em um ano, após descobrir histórias maravilhosas e surpreendentes, você acaba selecionando seus favoritos, e Perdido em Marte está entre os meus favoritos de 2015. Sabendo que esse livro maravilhoso está entre meus favoritos, acredito que você podem imaginar o quanto eu fiquei animada quando sua adaptação foi lançada, em outubro do ano passado. E já que o filme está entre os indicados ao Oscar desse ano, seria um ultraje não traze-lo aqui para o Estante Diagonal, não é mesmo?

Perdido em Marte é mais um daqueles filmes que entram para o cantinho especial das ficções científicas voltadas para o espaço sideral. Posso até estar fugindo um pouco do assunto, falando além da conta, talvez, mas a verdade é que me sinto muito sortuda por vivenciar esse momento em que tantos filmes de ficção científica ganham destaque, são produzidos e apreciados, e melhor do que tudo isso, são fiéis a muitos conceitos conhecidos na física e astrologia.

Perdido em Marte está nesse hall, o filme está naquela categoria de amorzinhos que nos trazem muito mais do que uma história que te prende do início ao fim, ele te leva para o mesmo patamar que Gravidade (resenha aqui) e Interestelar (resenha aqui) levaram, porém, abusa de detalhes que não foram empregados até então. O filme possuí o diferencial de que aqui, a narrativa é acessível, e o bom humor supera a presença de referências a dados e pesquisas científicas, deixando tudo mais leve e divertido.

Ao longo deste filme, nós iremos acompanhar a triste sorte de Mark Watney (Matt Damon). Mark fazia parte da equipe especial da NASA, enviada para Marte para realizar pesquisas no solo do planeta vermelho. Infelizmente, durante um dia de coleta de amostras de solo, uma terrível tempestade de areia atinge a equipe, fazendo com que a Comandante Lewis (Jessica Chastain) decida realizar a retirada de todos os membros para fora do planeta. Durante a fuga, Mark Watney é atingido por uma torre de transmissão que acaba se afastando do grupo. Por não ser encontrado e não estar mais enviando sinais de transmissão, a equipe o considera morto e o deixa para trás. Felizmente Mark consegue sobreviver ao acidente, mas isso você já sabia! A partir do momento em que nosso querido personagem volta para o HAB, toda a história toma rumo e iremos acompanha-lo durante todos os momentos que dão errado, durante todas as coisas que dão certo, e seremos contagiados por seu bom humor e sua lógica afiada, únicas ferramentas capazes de mante-lo firme e são, para conseguir continuar vivo até que seja resgatado.
Para conseguir realizar a resenha desse filme, não posso simplesmente ignorar o fato de que já li o livro, por esse motivo irei demonstrar meus pensamentos com base no que vemos no filme e suas diferenças e semelhanças com a obra literária. E para começar, acredito que nada melhor do que comentar sobre o roteiro.
Para que vocês entendam o que eu tenho a dizer sobre o roteiro desse filme, primeiro vocês precisam entender que Perdido em Marte é um livro absurdamente completo, ele possuí drama e comédia na medida certa, uma pesquisa muito bem fundada e explicada ao longo de todo o livro, personagens cativantes e acontecimentos que nos enchem os olhos. O problema ao realizar a adaptação de um livro como esse é que a narrativa deve ser seletiva, e foi exatamente isso que aconteceu. Apesar de garantir que a a essência do livro estivesse presente, o roteiro teve que eleger acontecimentos, excluir explicações, reduzir a quantidade de presença de certos personagens e ainda modificar certos detalhes para garantir que tudo estivesse conectado de uma maneira lógica. Ao realizar essas escolhas e promover essas modificações, a história acabou perdendo pontos maravilhosos que só podem ser observados na obra literária, com os cortes o filme ficou leve e acessível, mas também corrido. Apesar de ter gostado muito do resultado final, não posso deixar de mencionar que se o filme tivesse uma duração maior, acredito que poderia ter sido uma obra digna do patamar em que estão Gravidade e Interestelar.
Apesar de ter me decepcionado um pouco com o roteiro e a narrativa do filme, fiquei feliz ao ver que todo aquele jeitinho adorável e encantador de Mark Watney está presente no filme. Aqui, assim como no livro, podemos observar muito bem todo o bom humor e as piadinhas realizadas pelo personagem, acompanhamos sua forma de pensar, sua lógica e a forma como o personagem é capaz de empregar seus conhecimentos de botânica e engenharia para sobreviver aos mais diversos problemas. E não podemos falar no personagem sem comentar a vida que Matt Damon trouxe ao querido Mark. Apesar de achar que Matt Damon fez um bom trabalho, e que conseguiu equilibrar muito bem as piadinhas, o drama e a tensão vivida pelo personagem ao longo de toda a sua jornada pelo planeta vermelho, confesso que não considero sua atuação de grande destaque. Ele fez um bom trabalho?! É claro que sim, mas observei atores se destacando muito mais do que ele, e odiaria ver a estatueta sendo entregada para ao ator, sendo que outros obtiveram um desempenho muito melhor.
De forma geral, acredito que o filme pecou e acertou em cheio ao tornar a história mais acessível. Acertou pois as escolhas realizadas nessa adaptação deixaram a narrativa mais leve, bem humorada, acessível e de fácil entendimento. Com tudo o que se decidiu ao longo desse filme, pudemos observar muito bem os acontecimentos na Terra e em Marte. Mas o pecado está no fato de que o filme dividiu de maneira quase exata Marte e Terra, quando acredito que deveria ter focado mais no que Mark estava vivendo em Marte. Além disso, ao dividir de maneira igualitária os acontecimentos nos dois planetas, nós perdemos a maioria das explicações lógicas e científicas presentes ao longo da narrativa, e essa foi a pior perda de todas.

Confesso que é difícil para mim, falar sobre o filme sem lembrar de todas as passagens que me encantaram no livro, por esse motivo, não pude deixar de ser mais crítica com relação ao resultado  final. Se observarmos todas as categorias técnicas em que esse filme foi indicado, tenho certeza de que ele é um forte concorrente, porém, ao observar seus concorrentes nas categorias mais importantes do Oscar, eu não o vejo ganhando nenhuma. Porém não se enganem, o filme cumpre o que pretendia fazer, trazer uma história maravilhosa, acessível, bem humorada e cheia de emoção, é com toda a certeza uma ótima dica para todos aqueles que amam ficção científica. Mas se me permitirem dar um conselho, caso você não tenha lido e nem assistido o filme, recomendo que assista o filme primeiro, assim quando ler o livro irá descobrir todos os detalhes que não foram destacados nesse filme maravilhoso, que nos mostra, acima de tudo, a luta pela sobrevivência, e a união para salvar a vida de um homem.

  • The Martian
  • Lançamento: 2015
  • Com: Matt Damon; Jessica Chastain; Kristen Wiig; Jeff Daniels
  • Gênero: Ficção Científica; Drama
  • Direção: Ridley Scott

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