Resenha: Carry On

28 jun, 2016 Por Joi Cardoso

Hoje é dia 28 de junho e também o Dia Internacional do Orgulho Gay, e por este motivo, em parceria com a Editora Novo Século, hoje trago a resenha de Carry On.
Carry On é o recente livro lançado pela autora Rainbow Rowell e também sua primeira fantasia. E se este, assim como eu, é seu primeiro contato com a autora, falarei algumas dicas necessárias para você se situar no enredo. No livro Fangirl, a personagem principal, Cath, é fã e escreve fanfics sobre uma fantasia muito conhecida. Esta fantasia é equivalente a Harry Potter para nós e em sua fanfic, Cath une em um relacionamento amoroso os personagens mais improváveis. Ela une o personagem principal com seu arque inimigo.
Simon Snow, é o Herdeiro do Mago, profetizado como O Escolhido, e está se encaminhando para seu último ano na escola para bruxos Watford. Junto com ele, estão sua melhor amiga Penélope e sua namorada Agatha. Desde seus 11 anos, Simon vem carregando um peso enorme em suas costas, segundo a profecia, ele é o único capaz de derrotar o temido Insípidum, uma entidade maligna, que vem sugando a magia do Mundo Mágico. Este mundo está quase em guerra e além deste mal maior, as antigas famílias estão insatisfeitas com a liderança do Mago, tutor e pai adotivo de Simon.
Além de tudo isso, Simon também precisa lidar com seu colega de quarto e integrante de uma das famílias mais antigas e impiedosas do mundo bruxo, Bazilton, ou simplesmente Baz. Inimigos declarados, mas também obrigados a compartilharem o mesmo quarto, Simon e Baz apenas não se matam enquanto dormem por um encanto que os assegura enquanto estiverem dentro do quarto. Tirando este lugar, já houveram outras oportunidades em que Bazil quase conclui seu propósito.
O livro além de falar sobre o relacionamento conflituoso destes dois personagens e a maneira que o relacionamento deles vai evoluindo, paralelamente, também iremos descobrir toda a fantasia que existe em Carry On.
Apesar de já pegarmos o bonde andando nesta história, é fácil nos ambientar no enredo. A autora consegue apresentar bem a tensão que existe entre Baz e Simon, a profundeza da amizade de Simon com Penélope, e sua confusa relação com Agatha. Dito tudo isso, provavelmente você já deve estar de perguntando, “eu acho que já ouvi esta história antes” e sim! O outro fato que ajuda na ambientação de Carry On é as semelhanças que a história tem com o universo de J. K Rowling.
Em Carry On temos vários personagens facilmente relacionados aos personagens de Harry Potter, mas com destinos e personalidades totalmente diferentes. E isso é o mais interessante da obra, é uma desconstrução, construída com sua própria cara, com as várias vontades de muitos fãs, ou seja, não é uma cópia e nem tem a intenção de ser.
O livro é separado em quatro livros e um epílogo, sendo o primeiro apenas a apresentação do enredo e provavelmente aquele que mais se assemelha a Harry Potter, ou melhor dizendo, a história original de Simon Snow. Depois sim, a partir do segundo livro, que percebemos o quanto Carry On pode se sustentar como uma obra única, sem a influência de nenhum outro livro como parâmetro, nem mesmo de Fangirl. É a partir deste, que Rainbow começa a desenvolver diversas metacríticas que os fãs de Harry ainda discutem até hoje. Harry é mesmo o protagonista desta história? Ele é o maior bruxo que existe? Dumbledore é tão bom assim? Por que Harry sempre precisou ficar com Gina? Por que Draco precisa ser o vilão? Por que não existe tecnologia em Hogwarts? Por que não existem protagonistas negros? Por que Harry não pode ser gay?
Nesta história, irá acontecer de dois inimigos jurados, diante uma convivência forçada, agora não apenas pelas regras da escola, mas por novos motivos maiores que iram aparecer ao longo da trama, serão obrigados a se aturar e lentamente começarão a entender um ao outro. A evolução deste relacionamento é notada lentamente e não é nem um pouco forçada. Todas as cenas que os envolvem transmitem muita tensão e expectativa, principalmente diante a obsessão que ambos têm um pelo outro, e nesta parte você pode encaixar os sentimentos de medo, ódio e amor.
Com certeza as cenas com os dois, foram as que mais me deixaram satisfeita e que mais me chamaram a atenção. E tudo isso não termina quando finalmente um beijo acontece, aliás, pontos para a autora que desenvolveu este relacionamento de uma forma muito mais profunda que eu esperava, os personagens conseguem lidar com o fato de serem um casal, mesmo com poucas esperanças para um futuro. E nisso a autora mostra muito bem ao leitor os diversos conflitos que surgem, a confusão de sentimentos, a aceitação e as descobertas interiores.
A narrativa em primeira pessoa, neste ponto, foi bem explorada pela autora. O livro é todo narrado desta maneira, pela perspectiva de vários personagens diferentes, não só os principais, mas sob a visão de todos que precisam para uma compreensão completa da história, sejam perspectivas presentes, passadas ou atemporais. E apesar dessas várias narrativas, a autora soube diferenciar cada personagem, transmitindo a personalidade de cada um em seus capítulos.
Outros personagens não tiveram um foco merecido ou um desfecho satisfatório e isso foi um pouco decepcionante, como no caso de Ebb e Nicodemus, outro ponto que preciso comentar, é sobre a tradução do nome de um personagem em especial e sobre os nomes para as magias, que as vezes, eram traduzidas, as vezes não. Mas como li a prova não revisada, pode ser que ainda existam ajustes. Apesar disso, elas são totalmente compreensíveis, pois realmente são interpretadas ao pé da letra neste mundo bruxo.
Se focarmos na fantasia, ou se focarmos apenas no relacionamento de Simon e Baz, de qualquer maneira você vai retirar uma boa mensagem de Carry On. O livro como um todo, cumpre seu propósito, seremos encantados pela fantasia do livro, mas também seremos envolvidos pela história desses dois personagens que lidam como podem sobre seus conflitos internos, sobre sentimentos aprisionados devido ao preconceito da sociedade ou da própria família. O livro aborda o quanto é importante se aceitar, tentar compreender e conviver bem com os outros, mas principalmente, fala sobre aceitação, sobre ser homossexual, sobre se descobrir homossexual e apenas de jogar nisso. A autora foi muito feliz na maneira que ela equilibra todos os sentimentos que envolvem estes personagens com a fantasia e o enredo por trás do livro.

– Eu te escolho – digo. – Simon Snow, eu escolho você.

Carry On é um livro despretensioso, recheado de diálogos inteligente, apaixonantes e divertidos. A autora desconstruiu todo o mito do “personagem escolhido”, que já estamos cansados de encontrar por aí, e mostrou algo a mais. Nos apresentou personagens incríveis, humanos e tão reais como nós. Sem qualquer tipo e comparação ele é único e completamente encantador. Como um primeiro contato com a autora, posso dizer que Rainbow é direta no que faz, sem delongas, apenas faz o que precisa ser feito. Ela sabe causar uma resposta emocional no leitor numa simples frase e se isso não é mérito de uma autora incrível eu não sei o que é. Dizem que ela é uma das melhores autoras de YA da atualidade, depois de Carry On, eu acredito.

  • Carry On
  • Autor: Rainbow Rowell
  • Tradução: Marcia Men
  • Ano: 2016
  • Editora: Novo Século
  • Páginas: 480
  • Amazon

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