O livro escrito por William March, original de 1954 e que ganhou sua adaptação cinematográfica em 56, ganha uma nova e belíssima edição pela editora DarkSide. Menina Má é um lançamento de maio e nele conheceremos Rhonda Penmark. Rhonda é uma criança de 8 anos de idade, é uma menina adorável, bem-educada e essencialmente encantadora aos olhos de quem vê.
Sua família é nova na cidade, seu pai é um militar que está sempre em viagens, e sua mãe, Christine, é uma dona de casa, dedicada, e principalmente, bondosa com a filha. Logo no começo do livro vamos conhecer o desejo da menina em ganhar a medalha de melhor caligrafia de sua turma. Rhoda se esforça para isso, mas quem acaba levando o prêmio, é seu colega Claude Daigle. Isso é o suficiente para que Rhoda comece a perseguir o menino e crie uma obsessão pela medalha que segunda ela, seria dela por direito.
A cidade entra em choque quando um acidente acontece na excursão anual das Irmãs Fern, proprietárias da escola que Rhoda frequenta. Claude havia sido encontrado morto em um velho cais. Obviamente que todos os moradores se envolvem com o caso e se solidarizam com a família Daigle. Christine como boa mãe que é, está preocupada com a filha que, tão jovem, tinha presenciado de perto uma lamentável tragédia. Assim ela tentou explicar para Rhoda o que tinha acontecido.

A reação de Rhoda é de indiferença. A menina não esboça qualquer sentimento em relação a morte do menino. Apesar de surpresa, Christine não estranha a atitude da filha, pois apenas ela e o marido sabem que Rhoda sempre fora uma menina apática, de comportamento frio, e acima de tudo, mesmo com sua pouca idade, sempre se mostrou gananciosa e egoísta quando realmente queria alguma coisa. Segunda Christine, isso seria apenas uma fase e logo a filha seria mais sociável.

A narrativa de Menina Má é feita em terceira pessoa pela visão de diversos personagens, então, aos poucos vamos montando a personalidade de cada um, vamos entendendo como cada um deles se sente em relação ao acidente. Sentimos a dor e o luto da Sra. Dagle, e entenderemos também, o receio das irmãs Ferns em relação a Rhoda. Christine tem um destaque maior na história, pois é através do seu olhar materno que desvendaremos Rhoda e de tudo que ela é capaz. Monica Breedlove, melhor amiga de Christine, faz um contraponto nesta história quebrando um pouco o clima tenso da narrativa.
A relação de Rhoda com o zelador Leroy também é bastante explorada pelo autor. É pela perspectiva dele que iremos desmascarar a nossa pequena Rhoda, pois ele parece enxerga-la como ninguém mais.

Eu gostei bastante da maneira que esta história é contada e, principalmente, gostei dos conflitos que existem nesta relação de mãe e filha. Rhoda é uma personagem com muitas faces e conforme a verdade aparece ela vai mostrando sua real identidade. Isso, de certa forma, é perturbador demais, pois Rhoda é uma criança de apenas 8 anos. É conflitante o que esta história nos transmite, pois para qualquer leitor, está história se parece totalmente inconcebível.  Existe muita coisa por trás dessa narrativa, muita coisa por trás da escrita do autor, e apesar de parecer que eu contei demais, eu não falei nada mais do que a sinopse.

Menina Má vai te surpreender, e com certeza vai te perturbar. O autor soube mesclar o livro com momento reveladores e chocantes. Usou a medida ideal para prender o leitor durante toda a leitura e fisga-lo desde a primeira página. É uma pena que o autor não tenha desfrutado do sucesso que foi seu livro que, além da adaptação, acabou ganhando uma peça na Broadway. Para todos que leram o livro, sugiro que também vejam o filme (no Brasil “Tara Maldita”) e confiram a surpreendente interpretação de Patty McCormack como Rhoda, ela que acabou sendo indicada ao Oscar.

No verso do livro, me deparei com a seguinte frase: “Será a maldade uma espécie de semente que carregamos dentro de nós, capaz de brotar na mais adorável das crianças?” Ao finalizar a leitura perceberemos que seremos indagados a esta questão em especial. A obra original, que recebeu o nome de “The Bad Seed”, que neste contexto faz todo o sentido, aborda este conflito e apenas concluindo a leitura para você tirar suas próprias conclusões. Espero que esta resenha tenha despertado a curiosidade em vocês e por favor, apostem nesta leitura, com certeza vai agradar aqueles que gostam de leituras polêmicas, perturbadoras, e neste caso, com uma crueldade disfarçada de inocência.

  • The Bad Seed
  • Autor: William March
  • Tradução: Leandro Durazzo
  • Ano: 2016
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 272
  • Amazon

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