Não posso dizer que sou a pessoa mais aventureira quando o assunto são os mais diversos gêneros literários. Porém gosto de pensar que não tenho preconceitos – tirando, talvez uma certa ojeriza para uma moda da literatura atual, mas prefiro deixar o assunto em aberto – sempre encontro um ou outro exemplar que me encanta e deixa curiosa nos mais diversos gêneros, e é por conta desses exemplares que me aventuro por terras antes inexploradas. Foi com muita curiosidade e encantamento, além é claro, das indicações da minha rainha Elizabeth Gilbert, que decidi conhecer a obra de Brené Brown.

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A autora, até então desconhecida de minha parte, é formada em Assistência Social. Porém, sua graduação chegou de forma tardia, sendo iniciada quando a mesma já se encontrava na casa dos trinta anos, mostrando para o leitor que a conhece bem, ou aquele que a está descobrindo agora, que uma mente sedenta por conhecimento não encontra barreiras na idade. Apesar de sua graduação tardia, o que mais chamou minha atenção não foi o fato de que após sua inserção no mundo acadêmico nada mais a parou, tendo completado tanto mestrado quanto doutorado, ou então, o fato de que a autora passou treze anos pesquisando, teorizando e estudando a temática encontrada em seus livros. O que mais chamou minha atenção ao ler pela primeira vez uma obra sua, foi a forma maravilhosa com que a autora passeia pelo mundo acadêmico e aquele que costumo chamar de “mundo normal”.

Se em muitos ambientes ser uma pessoa pedante é um insulto, na torre de marfim do mundo acadêmico somos instruídos a vestir o formalismo como se fosse uma armadura.

Não se deixe enganar pela pegada autoajuda da obra. A Coragem de Ser Imperfeito é muito maior do que o gênero literário, apesar de ser também em determinada medida, um livro autoajuda. Como mencionei no parágrafo anterior, Brené Brown passou treze anos estudando o tema que permeia seus livros. Passou esses anos empregando uma metodologia acadêmica para a coletânea de dados, bem como para a abordagem de suas informações e pesquisas. A autora conversou com pessoas comuns, conversou com pais e professores, alunos, homens e mulheres que passavam, passaram com toda a certeza ainda passam por experiências relacionadas a vergonha e a vulnerabilidade. Mas ela foi mais fundo do que isso, além de entender, teorizar, organizar os dados que colheu, ela observa a sociedade e mostra que, mais uma vez, tudo está intimamente conectado.

Ao nos mostrar o que é a vulnerabilidade, ela nos mostra também toda a carga positiva que podemos receber ao entrar com a cara e a coragem na arena da vida. Ao encorajar atos e ações, ao mostrar que somos imperfeitos e mostrar que não existe problema algum em se tornar, se mostrar vulnerável, ela também analisa como a sociedade, mesmo que indiretamente, julga e entende as tão assustadoras vulnerabilidade e vergonha. Muito mais do que trazer regras para uma vida melhor, conselhos para encontrar o amor, a paz interior e a coragem para ser imperfeito, a autora observa a sociedade e nos mostra que somos como somos por algo muito maior do que as tristezas da vida e os desencontros amorosos. As patologias encontradas na sociedade, reproduzidas no ambiente familiar, de trabalho e até nos relacionamentos amorosos, acaba nos distanciando de tudo o que deveria estar sempre em nosso campo de visão. Conselhos irão aparecer com toda a certeza, afinal, como disse, este também é um livro autoajuda, porém é através da observação, da análise do problema como um todo, dos exemplos e histórias de pessoas como nós, e de como a sociedade se manifesta que, guiados pelas palavras da autora, seremos capazes de encontrar nosso próprio caminho para uma vida plena.
A ironia é que a pesquisa revela que julgamos as pessoas nas áreas em que nós mesmas somos vulneráveis à vergonha, atingindo sobretudo quem está fazendo as coisas pior do que nós.
Gosto de pensar em A Coragem de Ser Imperfeito como uma conversa amigável vestida de palestra acadêmica. Com maestria e graça, Brené Brown nos apresenta um livro de autoajuda acadêmico, ou se preferir, um acadêmico de autoajuda. Ela nos apresenta fatos, dados, análises e histórias de pessoas como eu e você. Muito mais do que a busca por conselhos e regras a serem seguidas, a obra é uma conversa agradável, uma exposição de elementos tão impregnados em nosso cotidiano que muitas vezes nos cegam para os pontos cruciais de resolução dos problemas. Muito mais do que nos mandar seguir desta ou daquela forma, nesta ou naquela direção, o livro nos acompanha na jornada imperfeita e confusa que é seguir nessa vida difícil e adorável que todos vivemos.

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  • Autor: Brené Brown
  • Tradução: Joel Macedo
  • Ano: 2016
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 206
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