Há seis anos a cidade de City Jewell sofre uma terrível mudança após o “Acontecimento”. O evento que matou de 1 a 4 milhões de pessoas e que abriu uma espécie de portal entre a terra e o mundo dos mortos permitindo assim, que fantasmas passem a conviver conosco diariamente. Esses fantasmas despertam medo, fascinação e caos entre as pessoas. Alguns suspeitam que eles sejam apenas projeções, pois aparecem sempre no mesmo local, mesmo horário e realizando a mesma ação, logo após, desaparecem.

Verônica Calder é uma das pessoas que parecem não se importar com o aparecimento dessas entidades. Ela mora com a mãe e convive com a presença do pai todos os dias de manhã lendo o jornal e tomando café sentado à mesa, logo após esse ritual ele desaparece. O pai foi uma das vítimas do Acontecimento. Para sua surpresa, um dia de manhã ao sair do banho ela se depara com um garoto de cabelos compridos e loiro no seu banheiro. Um novo fantasma é sempre motivo de especulações e ela fica tentada a descobrir mais sobre ele, pois por mais estranho que pareça ela se sente atraída por ele.

Em um mundo onde passar por fantasmas de antigos conhecidos, assim como desconhecidos, é normal algumas pessoas não aceitam bem essa ideia. Uma delas é a amiga de Verônica, Janine, que passou a ser uma menina retraída e medrosa bem diferente da líder corajosa que fora e que jogava futebol no time da escola, todos esses fantasmas acabaram sugando a bravura da garota. Todos os dias elas passam pela casa do professor de história August Bittner, um viúvo esquisito e solitário que há alguns anos perdeu a filha Eva e logo depois a mulher Madeline. Na porta da sua casa o fantasma de uma garota aparece constantemente, ela é Mary e está sempre realizando a mesma ação: indo com sorriso até a porta da casa do seu antigo professor. Acontece que o principal suspeito da morte da garota é August. Que mistérios esse homem esconde?

Cada vez mais fantasmas estão aparecendo na cidade e muitos estão receosos de que isso seja um indicativo de um novo Acontecimento. Isso tudo desperta a curiosidade de Kirk, que é apaixonado por Verônica há muito tempo e para se aproximar dela passa a pesquisar com a sua ajuda e do professor de filosofia o senhor Pescatelli, essas aparições e anotar dados para que seja possível traçar um paralelo entre eles e encontrar um padrão nessas aparições. Dentre corridas para capturar imagens de todos os fantasmas da cidade, um louco com um ritual em todo o dia 29 de fevereiro e o súbito interesse de um professor pela sua aluna, passamos a encaixar os fatos e desvendar os mistérios que envolvem essa cidade.
Essa história é diferente de tudo que eu já li. Um tema que nos deixa sempre em dúvida: a existência de fantasmas. Imagine se isso fosse conosco? Passar a conviver pacificamente com aparições e até achar isso normal. Encontrar velhos conhecidos realizando ações que eram corriqueiras para eles. Para muitos isso seria motivo de euforia e geraria uma extensa pesquisa, mas para outros seria uma profunda dor de encontrar entes queridos que já se foram. Tornaria o “seguir em frente” muito mais difícil.

A todo o instante nos perguntamos sobre o porquê desses fantasmas aparecerem e qual o motivo de terem sempre o mesmo local, horário e ato praticado. Qual seria a relação? O padrão seguido? Seria a última memória feliz? Por isso, o professor Pescatelli está organizando um livro e conta com a ajuda de Kirk e Verônica para catalogar esses fantasmas. Sejam morte, apego, crise ou hábito. Eles passam a pesquisar e tentam juntar os pedaços até montar esse grande quebra-cabeça.

O livro é bem confuso no começo e demora para começar a fazer sentido. Ele nunca dá detalhes sobre esse Acontecimento que é constantemente citado na narrativa. Não sabemos o que de fato aconteceu, só das consequências que ele trouxe para essas pessoas. Todos o caos que foi gerado. Amei a proposta do livro e o desenvolvimento da história estava muito bom até a sua metade, mas no final acredito que o autor se perdeu e acabou deixando algumas lacunas que não são explicadas. Acredito que ele poderia explorar mais o fantasma do banheiro, achei ele um personagem muito raso, apesar da importância que tem na história.

Por muitas vezes fiquei me questionando se esses arrepios que os habitantes da cidade sentem ao serem transpassados pelos fantasmas são pelo mesmo motivo que sentimos os nossos arrepios. Além disso, Verônica foi uma personagem que me deixou extremamente dividida. Amamos ela e essa coragem e firmeza para seguir em frente, enquanto tantos já desistiram, mas, por muitas vezes, ficamos consternados com as decisões que ela toma e que não combinam em nada com a garota inteligente que ela é. Fora que o autor não explica essa ligação que ela sente com o fantasma do banheiro.

Enfim, esse é um livro indicado para aqueles que adoram fantasmas e a forma com que eles influenciam as nossas vidas, mesmo quando não podemos vê-los. Apesar das perguntas que ficam sem respostas e do final que é meio óbvio o livro é muito bom e uma continuação seria muito interessante. Eu li o livro em apenas um dia, pois os capítulos são bem curtos e a história flui facilmente, além disso, por trás de toda essa história com os fantasmas temos um lunático que acredita que ao matar alguém pode trazer um ente querido de volta e esse acaba sendo o combustível para diversos outros acontecimentos.

  • Break My Heart 1000 Times
  • Autor: Daniel Waters
  • Tradução: Denise de Carvalho Rocha
  • Ano: 2016
  • Editora: Jangada
  • Páginas: 317
  • Amazon

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