O Último Adeus é um livro especial, lindo e que ao final da leitura precisa ser processado. Você precisa pensar no leu e principalmente, na forma que vai trazer a resenha para os seus leitores. O livro trabalha a temática do suicídio de uma forma simples, mas com muita sensibilidade. Bastante sincero, o livro aborda sobretudo o luto, mas também as consequências da depressão.
Lex perdeu seu irmão. Com 18 anos de idade ela tenta lidar com o luto e entender as causas que levaram o seu irmão a cometer suicídio. Popular na escola, atleta do time e com uma linda namorada, Tyler não aparentava estar infeliz, porém, conseguiu planejar sua morte nos mínimos detalhes, deixando apenas um único recado. “Desculpa mãe, mas eu estava muito vazio.
O livro inicia em poucas semanas desde a morte de Tyler, e Lex e sua mãe começam a sentir a presença do irmão pela casa, Lex em particular, até consegue vê-lo. Seria apenas saudade ou o espírito de Tyler realmente estava preso àquela casa? Está aí o grande mistério que irá guiar o leitor através dessas páginas.
Orientada pelo seu terapeuta, Lex começa a escrever todas as angustias e tudo aquilo que gostaria de falar para o mundo. Falar sobre seus sentimentos retraídos era o primeiro passo para a aceitação dos fatos, nisso ela encontraria forças para continuar com sua vida. A caminho da universidade, Lex embarca em uma viagem de decisões, precisa reaprender a lidar com seus pais recém divorciados e com seus melhores amigos. A ausência do pai, a tristeza da sua mãe são só alguns das coisas que veem depois da morte para aqueles que ficam.

Existe morte ao nosso redor. Em todos os lugares para onde olhamos. 1,8 pessoa se mata a cada segundo. Só não prestamos atenção. Até começarmos a notar.

Nunca foi tão difícil falar sobre um livro, após dias protelando a resenha, enfim resolvi simplesmente sentar aqui e falar sobre os sentimentos que a história de Lex me proporcionou. É estranho falar sobre a morte. É estranho a intensidade da dor da personagem, mesmo que eu nunca tenha passado por uma experiência assim. A empatia que este livro causou, a forma que Lex se abriu, revelando todos seus sentimentos de uma forma tão intima comigo foi emocionante.

Narrada em primeiro pessoa, intercalando os relatos de Lex no seu diário com os acontecimentos do seu dia a dia, a autora Cynthia Hand tece a história tocante de uma jovem garota que luta contra a culpa, principalmente, mas que busca as respostas do suicídio do irmão, os caminhos que justifiquem. Ao longo da leitura, iremos juntar cada pedaço dessa história para enfim refazer os últimos dias de vida de Tyler, para quem sabe assim, compreender em partes a sua decisão e enfim retomar a sua vida.
A depressão ainda é um dos tabus da nossa sociedade. Vista por muitas vezes, como apenas uma fase, como um tipo de frescura, quando confrontados com os reais sintomas da doença, percebemos o quanto estamos próximos dela. Estamos de olhos vendados e tão desinformados ao ponto de não conseguirmos perceber quando alguém precisa de ajuda. Lex se sentiu assim em relação ao irmão. É normal as pessoas se sentirem impotentes em relação ao suicídio, é algo que foge totalmente do nosso controle.
Por estes e vários outros motivos que Lex se sente culpada, seu irmão sofria em baixo do seu nariz e ela não foi capaz de reparar, não foi capaz de notar que seu irmão perecia do seu lado. Somos capazes de entender a necessidade de Lex ao tentar concertar as coisas e o sentimento é ainda pior quando sabemos que é algo irreparável. Quando já é tarde demais. Acho que a autora trabalha muito bem este sentimento e a forma que ela transpõe isso através de Lex, causa uma empatia e uma identificação com o leitor que mesmo quem não passou por algo deste tipo, se sente tocado.

Para aqueles que não sofrem com a doença, não existe uma razão óbvia. Como alguém pode escolher tirar a própria vida, como pode escolher a morte, o verdadeiro horror da vida real? Uma das principais lições que tirei com a leitura, é de que é normal não entender, é normal não sermos capazes de compreender os nossos próprios anseios, como lidar então, com os dos outros? Por isso é extremamente importante expor nossos sentimentos, fazer com que as pessoas saibam que são amadas e que são aceitas. Para uma pessoa mais frágil em relação a vida isso é de suma importância, é uma força sem igual.

A mensagem principal do livro é esta, cuide de quem você ama, não tenha medo do “eu te amo”. Nós não temos o poder absoluto de impedir que alguém tire ou não sua própria vida, mas podemos sim, estar atentos, estarmos disponíveis para ajudar, a ouvir. É com o amor e apoio que fazemos isso, mas principalmente com respeito, respeitar o espaço também é uma das coisas essências. O suficiente para que a pessoa não se sinta sufocado mais do que já se sente.
Baseado em sua experiência pessoal, a autora Cynthia Hand resolveu, através dessas páginas, homenagear o irmão, que também fora vítima da depressão. Os índices de suicídios na adolescência, infelizmente, continuam altíssimos e livros como O Último Adeus servem como um alerta, para jovens, pais, filhos e irmãos. A depressão é uma condição silenciosa, que se não tratada pode desencadear histórias como a Tyler e como a do irmão de Cynthia.
Eu indico a leitura para quem já perdeu alguém muito querido. Mesmo que as circunstancias não sejam as mesmas, o livro traz uma reflexão bastante importante sobre a perda. Indico para aqueles que estão passando por algo parecido e também para aqueles que ainda não buscaram ajuda. Aqui Lex vai mostrar como tudo isso interferiu na sua vida, como isso mudou quem ela era e quem ela é agora. Lutar constantemente contra a tristeza talvez seja uma das batalhas mais difíceis que um ser humano pode travar, mas talvez, ver a situação através a perspectiva de Lex te ajude de alguma maneira. Não é preciso esconder tanta coisa atrás de um sorriso.
Por fim, a edição está bastante bonita e casou perfeitamente com a história em si, porém, encontrei alguns erros na ortografia. Uma pena. Acredito também que se as partes com os relatos de Lex tivessem sido replicadas na mesma fonte da dedicatória da autora, o livro ficaria ainda mais bonito. Mas isso são apenas bobagens de uma leitora com o coração dolorido.

  • The Last Time We Say Goodbye
  • Autor: Cynthia Hand
  • Tradução: Carolina Coelho
  • Ano: 2016
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 352
  • Amazon

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