Minha imaginação, a forma como os pensamentos surgem e se conectam em minha mente, sempre foi extremamente visual. Quando criança – acredito que esse pequeno “defeito” começou entre os quatro e seis anos – era capaz de assistir de novo e de novo os mesmos filmes infantis. Clássicos como Mogli, Aladdin, Alice no País das Maravilhas e A Bela e a Fera me fascinavam. As cores utilizadas, ilustrações que formavam paisagens imensas ou castelos formidáveis, animações que pareciam possuir vida própria, eram mágicas e encantadoras. Aquele mundo novo se estendeu diante de meus olhos e fez com minha visão nunca mais fosse a mesma.
Graças a minha incansável necessidade de acompanhar as mesmas histórias, aprendi a gostar de música, além de ser capaz de lembrar facilmente de cada detalhe, letra ou melodia. Até hoje lembro de trechos, e em diversos casos, de músicas inteiras que vão desde O Rei Leão até Frozen. Existe uma atmosfera encantadoramente mágica em musicais, histórias de princesas encantadas e animações clássicas que não encontramos em nenhum outro lugar. Mas, o motivo pelo qual escrevi cada palavra deste texto é que, pela primeira vez fui capaz de encontrar a mesma magia, encantamento e emoção que sempre encontrei nas animações clássicas, em um live action!
Acredito que grande parte dos leitores conhece a história do príncipe maldoso que, como castigo por suas escolhas, foi transformado em uma terrível fera, e, enquanto todos os seus empregados eram transformados em meros utensílios e objetos de decoração, seu reinado caia no esquecimento. É provável que todos se lembrem que, em uma pequena cidade da França, vivia uma jovem sonhadora, apaixonada por livros, que vivia com o pai inventivo, e era diferente de todos as pessoas a sua volta. Sabemos que, quando seu pai é preso pela fera cruel, a jovem aceita tomar seu lugar, perder sua liberdade, porém sem nunca deixar de ser quem é e lutar pelo que acredita. Essa clássica história vive dentro de cada um de nós, e, apesar de conhecermos seu começo, meio e fim, ela ganha frescor e modernidade na adaptação lançada esse ano pela Disney.
A Bela e a Fera segue o roteiro do clássico de 1991. Todas as cenas que nos encantavam, a magia que nos fascinava, as músicas que nos enchem de emoção, estão vivas neste filme. Mas ele não é apenas uma cópia do original.
O filme acerta ao manter a narrativa que conhecemos tão bem, os detalhes que tanto amamos, mas vai além quando é capaz de perceber que, com pequenas alterações e novos detalhes, uma história antiga se torna moderna. Quando compartilha informações sobre o passado dos pais de Bela, do príncipe que se transformou em fera e até mesmo de Gaston, percebemos uma preocupação com a contextualização e profundidade dos personagens. Ao inserir referências históricas, como a época da guilhotina, a peste e até mesmo o preconceito que novas ideias enfrentam, o filme ganha o público adulto. Quando foi capaz de, tão sutilmente e respeitosamente, abordar temas atuais, ele ganhou frescor e posicionamento.
Mas é o visual que nos tira o fôlego. O filme é visualmente belo, mágico, encantador! As cores acompanham a atmosfera de cada cena, se transformando conforme as ações e o sentimento que prevalece a cada momento. Os cenários ultrapassaram minhas expectativas, o trabalho e cuidado dedicado para que tudo possuísse a atmosfera desejada vai além de uma simples necessidade, é uma obra de arte. O figurino está impecável, e, no caso do figurino de Bela, é capaz de demonstrar sutilmente o fato de que ela não se encaixa no padrão da sociedade em que vive. É impossível assistir esse filme sem ficar fascinado com todo o trabalho visual apresentado!
A Bela e a Fera é, de acordo com minha humilde opinião, a melhor adaptação de uma animação, que já tive a chance de conferir. O filme não modifica sua narrativa original na busca incansável por criar algo moderno, como tantos outros fizeram. Seu frescor surge do acerto ao serem acrescentados detalhes sobre o passado dos personagens, quando elementos sutis destacam realidades atuais, bem como, nos momentos em que pequenas mensagens ou informações são percebidas, tornando-se muito mais moderno do que qualquer outro jamais conseguiu ser.
A Disney acerta ao produzir um filme para todas as idades, com profundidade e mensagens sutis que mostram a realidade em que vivemos. Mas o que realmente marcou este live action foi ver toda a magia das antigas histórias ganhando força novamente. Muito mais do que encantar com músicas que guardamos em nossos corações, ou se deslumbrar com o visual impecável deste filme, iremos finalizar o filme com o coração transbordando de alegria e a certeza de que a magia voltou para as telas do cinema!

  • Beauty and the Beast
  • Lançamento: 2017
  • Com: Emma Watson, Luke Evans, Josh Gad
  • Gênero: Fantasia, Musical
  • Direção: Bill Condon

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