Haruki Murakami é um dos autores japoneses mais conhecidos no mundo literário. Arrisco a compará-lo com o Paulo Coelho, caso alguém nunca tenha ouvido falar dele. Nesse livro, o leitor encontra as duas primeiras novelas escritas pelo autor que tinha como pretensão escrever um romance.
Na primeira parte, somos introduzidos pelo próprio Murakami à sua história de como se tornou escritor e como esses dois textos surgiram. Definidos por ele como “romances de mesa de cozinha”, Murakami nos conta que viveu os seus vinte anos de forma bem diferente do que é costume entre os jovens no Japão. Assistindo a uma partida de beisebol lhe ocorreu uma epifania: “É, acho que eu podia escrever um romance”. E foi justamente sentado à mesa da cozinha dia após dia de trabalho árduo que ele começou a rascunhar as suas primeiras linhas.
Ouça a canção do vento (1979) foi a sua primeira novela e, logo de cara, ganhou um prêmio literário. Ela é narrada em primeira pessoa por um estudante de biologia que está passando o verão em sua cidade natal. Lá, ele relembra velhos amores, amizades e até vive uma nova paixão. No ano seguinte, Murakami escreveu Pinball, 1973 (1980) aos 30 anos. Ele traz mais a tona o seu estilo “realista fantástico” contando a história de um jovem tradutor em busca de uma máquina de Pinball específica. Apesar de Murakami praticamente descrever cenas cotidianas através de seus personagens narradores, muitas vezes nos vemos perdidos em situações surreais.

Há um limite para o que pode ser escrito por um sujeito que vasculha a geladeira na cozinha às três horas da manhã enquanto o mundo dorme. E é esse o meu caso.

Esse foi o meu primeiro contato com o autor e isso fez com que eu sentisse dificuldade em entender o seu estilo literário. Pesquisando, eu encontrei duas resenhas que trouxeram conclusões opostas sobre para quem é esse livro. Na minha visão, as histórias se tornam mais interessantes para quem já teve contato com os outros livros do Murakami. Uma, porque existem personagens que apararecem em outros livros. Duas, poder voltar para os primeiros escritos de um autor é muito mais interessante quando você teve contato com outro livro para comparar. Afinal, eu terminei o livro não sabendo se esse era o estilo de escrita atual do autor ou se mudou.

Como primeiro contato com uma obra do Haruki Murakami, eu fiquei bastante impressionada com a capacidade descritiva dele tanto dos personagens, como emoções e cenários. Também achei incrível a sua capacidade de transformar o cotidiano e questionamentos sobre crescer, solidão, amor, entre outros, em algo surreal e até mesmo poético. No livro não faltam referências a músicas e outros livros e pensadores. Fiquei muito curiosa em conhecer os outros trabalhos dele.

Um belo dia nosso coração se prende em alguma coisa. Uma coisinha qualquer, insignificante. (…) Por dois ou três dias isso fica perambulando pelo nosso coração, depois volta para a escuridão de onde surgiu.

O leitor irá descobrir muito mais sobre a trajetória do autor e as histórias dos personagens ao ler o livro. No final das contas, tudo é muito simples e qualquer informação a mais pode prejudicar a experiência de leitura. O ponto interessante dessa obra é ver como ele embeleza o banal através de suas palavras e imaginação. Produzido em capa dura com um degrade que vai do rosa ao amarelo, inclusive envolta das páginas, esse foi um dos trabalhos mais belos que vi de editoração. Trabalho impecável da Alfaguara que com certeza irá atrair muitos leitores para as histórias do Murakami.

  • Kaze No Uta O Kike | 1973 Nen No Pinbõru
  • Autor: Haruki Murakami
  • Tradução: Rita Kohl
  • Ano: 2016
  • Editora: Alfaguara
  • Páginas: 264
  • Amazon

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