É tão bom quando dentro de um gênero, onde o construção do enredo em si, já é algo conhecido pelo leitor e o autor consegue surpreender. Em Simplesmente o ParaísoJulia Quinn transforma o óbvio em algo a mais. Com sua característica narrativa bem-humorada, envolvente e cativante, ela inicia sua nova série, Quarteto Smythe-Smith, exatamente desta maneira. Aqui o mocinho e a mocinha sempre se conheceram, sempre souberam tudo um do outro, como então fazer com que nasça uma grande paixão entre eles sem a ferramenta narrativa do amor à primeira vista?
O quarteto Smythe-Smith é uma tradição familiar que se iniciou em 1812. Por quase duas décadas, toda temporada, quatro jovens solteiras se apresentam em um concerto para a sociedade. Porém, nunca alguma integrante do grupo pareceu ter talento suficiente para com os instrumentos musicais. Infelizmente, eram todas muito ruins e ao longo dos anos o quarteto recebeu a fama de ser lamentavelmente desafinado.
O quarteto atual é integrado por Honoria e suas primas, Iris, Anne e Daisy e além de se prepararem para o grande dia do concerto, as quatro damas também procuravam conhecer novos jovens em Londres. Honoria se encontra quase que desesperada, muito mais do que o desejo de deixar o quarteto, ela espera conhecer durante o recital um decente cavalheiro que se interesse por ela, que já está quase sendo considerada velha demais para casar. Apesar de ser bastante bela e vir de uma família boa, os poucos pretendentes que se aproximaram, pareciam sumir da noite para o dia.

– Lorde Chatteris já assistiu ao concerto? -Ah, ele comparece todo ano. E senta-se na primeira fileira. Era um santo, pensou Honoria. Ao menos por uma noite a cada ano.

O grande responsável por isso é Marcus Holroyd. Marcus é o melhor amigo de Daniel, irmão de Honoria. Amigos de infância, Marcus e Daniel sempre foram muito próximos, tendo Marcus frequentado muito mais a casa dos Smythe-Smith’s do que sua própria. Desta forma, a presença de Honoria no meio de suas brincadeiras era quase que inevitável, mesmo quando ambos tentavam se desvencilhar da pequena menina mimada. Há três anos Daniel teria cometido um grande erro e por este motivo teve que deixar sua família e Londres para trás sem a intenção de voltar. Porém, antes de partir, Daniel fizera Marcus prometer algo. Ele deveria proteger sua irmã mais nova, deveria garantir que Honoria não se casaria com nenhum oportunista ou qualquer homem desonrado, e assim Marcus tem feito.
Durante a leitura de Simplesmente o Paraíso, percebi que em nenhum momento, a autora deixa em dúvida os sentimentos de Marcus e isso foi o que mais encantou durante a leitura. Aqui temos um mocinho caído de amores e está cada vez mais difícil de esconder tal sentimento. Por terem crescido praticamente juntos, a amizade de Marcus com Honoria é extremamente transparente e cada um sabe muito sobre o outro. As pequenas preferencias, as lembranças da infância e a forma como ambos, quando juntos, ficam completamente à vontade, fazem com que seja impossível não torcer e suspirar pelo êxito desta relação.
O relacionamento cresce e evolui aos poucos, mesmo os sentimentos bem definidos, não é algo repentino, é algo que cresce principalmente, ao longo de um dos acontecimentos do livro, que sem dúvidas é o responsável por transformar definitivamente a vida dos dois personagens, o divisor de águas no desencadeamento da trama. Simplesmente o Paraíso é um romance leve e divertido, uma leitura envolvente e encantadora, que não promete grandes reviravoltas, mas que surpreende justamente por Julia Quinn transformar uma história até então singela, num romance inesquecível.
A união familiar é um tema que Julia Quinn vem trabalhando desde sua primeira série. Em Quarteto Smythe-Smith veremos isso latente. A importância da família e a valorização dela é constante até para Marcus que era filho único e cresceu solitário, longe até dos próprios pais. É na família de Honoria que ele encontrou este amor. Teremos isso retratado de diversas formas neste livro, será justificando os atos de Marcus diante sua missão, na ausência de Daniel, na apatia da mãe de Honoria até na lealdade do quarteto com os recitais desastrosos. O leitor percebe que tudo é feito pelo amor a família.

O coração de Marcus batia disparado e algo dentro dele ardeu, ávido. Naquele momento, se havia mais mais alguma coisa no mundo além de Honoria, além dele… desconhecia.

Por fim, provavelmente, se você é um fã de Julia Quinn, já deve ter topado com o quarteto Smythe-Smith ao longo da série Os Bridgertons. Por terem uma presença tão marcante e cômica, a autora resolveu, então, contar a história desse quarteto tão icônico. O fato de todas saberem ser ruins como musicistas e o quanto elas zombam uma das outras em relação a isso é engraçado demais de acompanhar, inclusive tendo Honoria as melhores tiragens.
Alguns personagens já conhecidos dos leitores irão aparecer por aqui também, então, os fãs mais saudosos poderão gostar. Porém, lhes garanto, Quarteto Smythe-Smith tem seus próprios méritos, a escrita da autora continua gostosa de acompanhar e nada impede que o leitor inicie a leitura por aqui também. Em suma, através da perspectiva de ambos os personagens, Julia vai tramando esta história, continua apostando em diálogos afiados, personagens incríveis e bem construídos, a fórmula de sucesso da autora.

  • Just Like Heaven
  • Autor: Julia Quinn
  • Tradução: Ana Rodrigues
  • Ano: 2017
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 272
  • Amazon

rela
ciona
dos