Resenha: Alina

28 maio, 2017 Por Joi Cardoso

Alina é o primeiro volume da série Família Cirilo. Relançado em 2017, esta nova edição foi revisada pela autora, portanto, alterações ocorreram na história e no desfecho de alguns personagens. Ilustrações também foram inclusas o que dão um toque especial para a leitura de um romance tão inesquecível.
O cenário é o Brasil do século XVI. Alina e sua família migraram de Portugal ao Brasil para ajudar na colonização. Com 12 anos, a menina logo se familiarizou com a vida no campo, não aceitava é verdade, o trabalho escravo que passou a presenciar, mas desde cedo, com a influência e riqueza de sua família, conseguia negociar a alforria de alguns escravos. Quem ajudava em tais negociações era seu irmão, Luiz Felipe e o melhor amigo dele, Pedro Garcia, um jovem de 24 anos, casado e com filhos.
Apesar disso, a amizade e os interesses em comum fizeram com que Alina se apaixonasse por Pedro, porém, era um amor impossível. Ele já tinha uma família e Alina era apenas uma jovem que mal entrara na adolescência. Os anos foram passando e o sentimento nutrido por Pedro jamais mudou, pelo contrário, se fortalecia a cada dia e ela sentia que os olhares demorados de Pedro lhe
diziam que ele também sentia o mesmo.

Fosses tu minha… eu jamais te deixaria ir! – As palavras saíram carregadas de emoção e ele desviou seu olhar para o mar.

Aos 17 anos e já uma linda mulher, Pedro e Alina estavam cada vez mais próximos e o falatório na colônia de São Salvador foi aumentando. Temendo se tornar uma vergonha para sua família e acabar destruindo a família de Pedro, Alina resolve se afastar e passar uma temporada longe de casa. Na noite de sua despedida, Alina acaba se rendendo ao amor proibido, e na manhã seguinte parte para a casa de sua irmã, deixando para trás sua felicidade e um coração partido. Com um problema maior que imaginava, Alina se vê sem escolhas e foge para mais longe. Ela é acolhida na tribo de Ana, uma índia idosa que acabou virando sua amiga e confidente. É ali que ela conhece Naru, um jovem mestiço com modos de fidalgo, um homem disposto a lhe dar segurança, amor e zelo, sem ao menos pedir algo em troca.

Você será sempre o meu amor, eternamente, mas não posso destruir a vida de outras pessoas para viver a minha felicidade.

A escrita de Emilia Lima é muito envolvente, com uma narrativa em terceira pessoa, teremos poucos diálogos, mas perspectivas bem próximas de todos os personagens. Desta forma é fácil de se envolver com seus sentimentos e emoções ao longo do livro. Gostei muito de acompanhar a jornada de Alina, uma jovem muita à frente do seu tempo e que deve passar boas lições para o leitor. A renúncia de seu grande amor, seu altruísmo e sua perseverança provam que Alina é uma grande mulher e muito corajosa acima de tudo. O tipo de antepassado que gostaríamos de ter em nossa família.

O mesmo senti por Naru, um homem tão integro que te conquista pelos seus atos e pelo conforto que suas palavras geram. Um homem digno de ser amado e que ensina a Alina o real significado do amor, além da verdadeira lição sobre companheirismo e cumplicidade. Foi ele o responsável por minhas lágrimas, a grandeza de seu coração me fez o amar verdadeiramente. Pedro por sua vez demorou para me conquistar e nem sei se ele de fato conseguiu, porém, entendo que a circunstâncias da época o impediam de muitas coisas, mas não acharia ruim se ele tivesse lutado mais por sua felicidade.

Os personagens secundários desenvolvem a mesma empatia. De certa forma, a família Cirilo é bastante unida e se mostravam presentes sempre que necessário. O pai de Alina, o Sr. Felipe Cirilo é um exemplo de bondade, sem dúvidas um visionário num Brasil colonial que enfrentava tantas dificuldades. É bastante palpável sua preocupação com a família e sua devoção pela filha mais nova é muito especial, jamais a recriminou pelos seus atos e provou-se com um caráter único e desenvolvido para a sua época. O livro retrata muito mais do que o amor entre homem e mulher, Alina também falará do amor incondicional de um pai para filha.
A edição contém delicadas ilustrações de Mara Sop, onde também encontraremos ao longo das páginas algumas notas de rodapé com algumas explicações histórias que irão aparecer ao longo da narrativa. A história criada pela autora, contém todo um embasamento familiar também, pois caso não tenham percebido, o sobrenome de Emilia é o mesmo de Alina. Conforme a introdução
escrita pela própria autora, Alina é uma tataravó de sua bisavó que agora se eterniza através de uma bela história, de uma jovem menina e de sua família.

Para minha grande felicidade, a história da família Cirilo não termina aqui, ainda teremos dois volumes. Ágata contará o encontro da irmã mais velha de Alina com o verdadeiro amor, personagem esta que rende ao leitor momentos difíceis para se digerir, porém é em Alina que presenciaremos o início da redenção de Ágata e por este motivo acredito que ela tenha ganhado um volume só para ela. O outro volume se chamará Dandara, onde existirá outro tórrido amor proibido, mas que o destino promete usar de seus artifícios para surpreender o leitor. Este último é o  que mais anseio, pois é onde depositei minhas esperanças após o final da leitura de Alina.

Em Alina teremos o amadurecimento de um amor juvenil que precisou lidar com muitos encontros e desencontros. Acompanharemos Alina e Pedro lidando com traições, decepções e mal-entendidos. Eles precisam mascarar seus verdadeiros sentimentos em um prol maior, principalmente quando há honra e dever envolvidos. O que posso lhes dizer é que quando há amor, não importa quanto tempo levará, ele sempre recompensa nossos corações. Eu recomendo a leitura para todos que ainda não se aventuraram pelo gênero. Para aqueles que já têm o hábito de lerem romances históricos, conheçam mais esta bela história de amor, é uma obra nacional, emocionante e lindamente escrita. Um livro que trata do amor, de laços familiares, do perdão, de decisões e consequências e como cada uma delas pode afetar todos a nossa volta.

  • Alina
  • Autor: Emilia Lima
  • Tradução: -
  • Ano: 2017
  • Editora: Pedrazul
  • Páginas: 200
  • Amazon

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