Sway | Kat Spears

19 maio, 2017 Por Biia Rozante

Jesse segue à risca um mantra em sua vida: “Nada é bom ou mau, o pensamento é que torna as coisas assim” e é justamente por pensar desta maneira que não hesita em aceitar qualquer tipo de serviço, seja ele licito ou não. Popularmente conhecido como Sway, é aquele que tudo consegue, onde nada é impossível, basta estar disposto a pagar o preço necessário. E por essa razão é visto como “O” cara, amado, invejado, requisitado, tem sempre alguém precisando de sua ajuda, requerendo seus serviços, implorando por sua atenção. Sua fama é grande, dentro e fora da escola na qual está cursando o último ano do ensino médio, inteligente, ardiloso e calculista nada parece ser capaz de alcançá-lo, de pará-lo, até que… o inesperado acontece.
Sway, chega inovando, trazendo uma proposta diferente para o gênero Jovem Adulto. Onde o protagonista não é o mocinho, mas também não chega a ser o vilão, ele é apenas um jovem que fez escolhas erradas, talvez tenha tomado o caminho mais “fácil”, que optou por usar seus talentos, conhecimentos e pontos fortes para dar a todos exatamente o que queriam independente das consequências e resultado final, pensando bem, talvez ele realmente seja o Vilão.

Jesse é um jovem que passou por muitos altos e baixos em sua vida. Sua família é toda desestruturada, o que acabou por influenciar muito na sua personalidade, assim como em suas ações. A principio fiquei totalmente fascinada por sua inteligência, a maneira como ele manipula a todos como se fossem peças em um jogo de tabuleiro, nada abala sua confiança, sua estratégia, ele está sempre pronto para um novo desafio, ou negócio como gosta de chamar. Mas como mencionei anteriormente, ele é apenas um jovem, não tem experiência de vida o suficiente, não faz ideia do quanto o mundo pode dar voltas, não conhece suas artimanhas e antes que possa se dar conta, toma uma bela rasteira.

Sway não é algo que se possa definir. Um cara que tem sway é o cara, não precisa tentar ser descolado, apenas… é.

Era para ser apenas mais um negócio, conseguir informações sobre uma garota qualquer e passá-las para o astro da escola, mas não foi exatamente assim que as coisas aconteceram. Jesse jamais imaginou que ao dar a Ken o que ele pagou para conseguir, estaria abrindo mão da coisa mais bonita, gentil e especial que já conheceu – Bridget. Falando assim, soa clichê não é? Mas pode acreditar nada aqui é óbvio ou previsível, muito pelo contrário, quando estamos torcendo por um caminho a autora toma outro, é uma surpresa atrás da outra.

Jesse é o tipo de personagem que nos leva a viver um misto de emoções, amamos, odiamos, depois amamos novamente e então ficamos confusos. Dono de uma personalidade instável, ele é cruel, frio, egoísta e ao que tudo indica não tem nenhum tipo de sentimento, de fato não se importa com as consequências de seus atos, seu caráter é deformado e então, do nada ele faz algo altruísta, gentil, sem nenhuma explicação, apenas porque quer ver a menina que têm mexido com suas emoções, feliz. Aí que passamos a nos dar conta de seu amadurecimento, da briga com si mesmo para tentar se tornar uma pessoa melhor, sua busca por uma nova página. Porém, como é de conhecimento geral, deixar para trás anos de erros, lidando com as pessoas erradas, seguindo pela escuridão não é fácil, não acontece de uma hora para a outra e não te permite sair ileso.

No mundo real, a Bela não se apaixona pela Fera e vive feliz para sempre. No mundo real, a Fera transa com a Bela. A Fera quebra o coração da Bela. A Bela entra num comportamento autodestrutivo como dormir demais nas aulas da faculdade, aumentando assim o impacto emocional negativo provocado pela Fera. Era uma história triste.

O ponto alto da obra é o enredo verossímil, aqui temos problemas normais, perdas, dores, personagens reais, que enfrentam as lutas do dia a dia, que precisam tomar decisões, fazer escolhas e nem sempre fazem as mais corretas. Outro ponto que ganhou minha atenção foi o fato da autora não romantizar, minimizar o que Jesse fazia para ganhar dinheiro, mostrando da maneira mais crua as consequências e os perigos de tais atos. E não posso deixar de mencionar os personagens secundários que enriqueceram e muito a trama, seja pela carga dramática, pela contribuição no crescimento do protagonista, na maneira como propunham reviravoltas ou apenas por estarem ali, fez toda a diferença e confesso que alguns deles me interessaram tanto que desejei que tivessem suas próprias histórias contadas.

Sway tinha tudo para se tornar uma das minhas leituras preferidas, porém isso não aconteceu. Apesar de seus diálogos inteligentes, o humor ácido, ter um tema interessante, o enredo em si não me agradou totalmente. O protagonista é em sua essência um escroto, com ações e pensamentos que me deixaram chocada, a todo instante ele ficava se reafirmando, mostrando o quanto era bom, a quantidade de poder que exercia, menosprezando as pessoas a sua volta e isso me irritou e frustrou. Só fui capaz de mudar minha opinião a partir do momento em que Pete – O irmão mais novo de Bridget -, entrou na história. Pete é cheio de atitude, com uma personalidade intrigante, que sofre de uma pequena paralisia cerebral, portanto, seu rosto possui uma leve deformidade e faz com que ande com certa relutância. Promover a interação entre esses dois opostos da maneira como foi, trouxe um alívio para a trama, assim como grande parte do amadurecimento do protagonista. Outro ponto que me incomodou foi o romance, esperei por mais, desejei ver além, foi pouco explorado e ficou raso. Infelizmente, apesar de ser capaz de ver os motivos que levaram Jesse a se apaixonar, senti que o outro lado envolvido faltou, não me convenceu. Enfim, Jesse era tão confiante e cheio de si, que algumas escolhas mais para o final da trama não fizeram sentido, apesar da autora oferecer uma justificativa e até emocionar pelas circunstâncias por ele enfrentadas, ansiei que sua determinação não fosse perdida e que ele lutasse bravamente por aquilo que queria, sem se colocar no papel de vítima.

— Às vezes o que queremos e o que o mundo espera de nós são duas coisas diferentes.

Não se assustem com meus apontamentos, de modo geral Sway é uma leitura interessante, com discussões relevantes e um tema legal. A autora foi ousada em trazer um “mocinho” às avessas, cheio de defeitos, mas que ainda assim pode ser fofo. Sempre escutei falar que não importa como começamos e sim como terminamos, e acredito que essa frase se aplica perfeitamente em Jesse. Errar é humano, ser um babaca nem tanto, mas ainda assim todos temos o direito a uma segunda chance, a recomeçar, entretanto é preciso estar disposto a mudar, a querer ser melhor e arcar com as consequências e o livro fala sobre isso. Como sempre falo, a única maneira de saber se você realmente gosta de um livro ou não é lendo-o. Portanto, fica a dica.
Quanto à capa, diagramação e todo cuidado dedicado a obra está de parabéns. Globo Alt sempre arrasa em suas edições. Até a próxima! Beijos.

  • Sway
  • Autor: Kat Spears
  • Tradução: Santiago Nazarian
  • Ano: 2016
  • Editora: Globo Alt
  • Páginas: 256
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