JP Delaney é o pseudônimo do escritor britânico Tony Strong, que costuma escrever livros usando nomes fictícios, este é seu primeiro thriller psicológico, sob este nome.

Jane é uma mulher jovem, que a pouco tempo passou por uma perda muito forte, a casa atual lhe traz lembranças difíceis de serem encaradas, nada melhor então do que decidir se mudar, porém, sua renda é baixa e ela não tem condições de gastar muito em um lugar requintado. Aliado a isso, vários locais visitados junto com a corretora de imóveis remetem ao seu abalo psicológico, impossibilitando que ela a escolha. Até que a corretora lhe oferece uma casa diferente, cheia de tecnologias, em um bairro bom, projetada por um dos mais renomados arquitetos do país. Só havia um problema, o aceite da locação dependeria da aprovação do proprietário, que desde a morte da última inquilina recusara todos os candidatos a morador.

Emma é a segunda protagonista da história, acabara de ter a casa, onde vivia com seu marido, assaltada, também passara por problemas e decidira se mudar, nenhuma casa das que viram era melhor que a mansão que acabara de ser inaugurada, ela e Saimon seriam os primeiros moradores, sabiam das regras rígidas da casa e esperavam cumpri-las, porém, as coisas saem do controle e a cada página uma revelação problemática ocorre.

Porque foi isso que eu percebi morando em Folgate Street, Nº 1. Você pode tornar o ambiente em que vive tão refinado e vazio quanto quiser. Mas isso não importa se você ainda estiver bagunçado por dentro. E, na verdade, todos nós estamos buscando isso, não é mesmo? Alguém que cuida da bagunça que há dentro de nossa cabeça.

Quem Era Ela conta a história, acima de tudo, de uma casa, seu projetista e dono e de suas habitantes. Uma casa estranha, com direito a geladeira que faz testes com os moradores, informando inclusive o tipo de comidas que eles consomem.  A moradia de última tecnologia apresenta para Jane dúvidas sobre o passado obscuro da sua última inquilina e são essas desconfianças que fazem o livro se desenrolar.

Quando eu soube que JP Delaney era um pseudônimo tive certeza de que a escritora era uma mulher, que assim como a maior de todas:  J.K. Rowling, usara o artificio para fugir do preconceito europeu contra escritoras, mas não, ele é um homem, e em uma entrevista para o The New York Times, onde chegou a ocupar o 5º lugar na lista dos mais vendidos, disse que gosta de usar pseudônimos e que a maior vantagem deles é justamente seu sexo ficar a escolha do leitor, o que lhe facilitou muito na escrita de Quem Era Ela, já que a cada capítulo ele alterna entre a narração de Jane e Emma, que vão contando suas histórias dentro da casa, até que em um ponto as duas histórias se fundem.

Para  mim, essa expectativa por saber o momento no qual as duas protagonistas iriam se encontrar torna o livro ainda mais interessante, Delaney (ou Strong, como você preferir) mostra claramente que algo na história da primeira moradora irá influenciar diretamente na vida da segunda, ele sugere diversos mistérios, ideias e problemas a serem resolvidos pela nova inquilina, temores que passam a fazer o psicológico já frágil dela, ficar ainda mais debilitado, deixando o leitor com em uma agonia imensa. Minha vontade como leitor era de simplesmente tirar a mulher dali, estava quase oferecendo a minha casa para que ela morasse.
O assunto principal do livro é a obsessão profunda em suas diversas formas, sejam sexuais (sim o livro tem partes bem eróticas), pessoais, pelo passado (como a de Jane pela história da antiga moradora) e até pelo controle da vida alheia, com uma casa que tem o objetivo de fazer com que seus moradores sejam pessoas perfeitas.

O livro é de fácil leitura, mas faz o leitor ficar tenso em muitos momentos e se você tem algum trauma, talvez ele venha à tona com a leitura. A única coisa que me incomodou um pouco foi a maneira como ele separa os capítulos. Os títulos são sempre “Antes: Emma” e “Agora: Jane”, depois que você entende as circunstâncias da história a interpretação fica fácil, mas no começo, sem você saber o nome de quem vai narrando a história, fica complicado de ligar aquele nome a quem está ditando a narrativa.

A editora Intrínseca tem publicado muitos livros neste estilo de mistério, no qual o desenrolar dele te mostra não um assassino, mas sim a verdadeira história sobre os personagens do livro. Eu acho esse tipo de obra extremamente interessante, uma história sobre acontecimentos ocultos ao leitor, que te deixam sem saber como agir quando você descobre a verdade, isso ocorre também no livro O Livro dos Baltimore, o qual trarei resenha para o blog em breve.
E vocês? Morariam em uma casa como essa, cheia de mistérios e completamente controladora? Gostam deste tipo de mistério? Que envolve terror psicológico e pode mexer profundamente com você sem ter a necessidade de uma série de assassinatos sangrentos? Se a resposta for sim Quem Era Ela de JP Delaney, será uma leitura que não deixará a desejar.

  • The Girl Before
  • Autor: JP Delaney
  • Tradução: Alexandre Raposo
  • Ano: 2017
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 336
  • Amazon

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