Quando não passava de um bebê, uma mera criaturinha adorável incapaz de fazer mal a uma mosca, incapaz de compreender as tramas, traições e jogos de poder que aconteciam ao seu redor, a Princesa Kelsea, herdeira do trono de Tearling, é levada para longe de sua mãe e do castelo que por pouco tempo foi seu lar. Os cavaleiros da Guarda da Rainha a encaminham para um casal único, destinado a criar, ensinar e proteger a pequena princesa até o momento em que fosse seguro voltar para busca-la.
Por dezoito longos anos a princesa é esquecida – muitos pensavam estar morta – mais uma vida que desapareceu em meio ao caos que se instalou no reino durante um tempo de guerra e desolação, período que levou consigo a vida de sua mãe. Enquanto o reino sucumbia à fome, pobreza e desolação propiciadas por um governo corrupto, a pequena garota aprendia história, boas maneiras, botânica e defesa pessoal.
Como em uma história encantada, seguindo os rumos de um conto de fadas, chega o momento em que a misteriosa princesa, a garota desaparecida, a futura rainha deve assumir seu lugar de direito, deve voltar ao trono, comandar seu exército e livrar seu povo do estado de desolação e sofrimento em que se encontra. Quando completa dezoito anos, a Guarda da Rainha – os poucos soldados de confiança que restaram – surgem na moradia em que o casal responsável pela criação de Kelsea morava. Com sua chegada eles anunciam a necessidade de que a garota volte para a capital de seu reino, seja coroada a nova rainha o mais rápido possível, uma vez que sua vida corre risco e sua jornada de volta não será fácil.

– Este reino não tem visto nada extraordinário, muito menos bom, há muito tempo – continuou Andalie. – O Tearling precisa de uma rainha. Uma Rainha Verdadeira. E, se viver, a rainha Kelsea será exatamente isso. Talvez até uma rainha lendária.

Ao ser escoltada por Clava e outros soldados remanescentes da Guarda da Rainha, Kelsea irá conquistar sua confiança, descobrir pequenos fragmentos de histórias nunca antes contadas sobre sua mãe e seu reino. Porém, muito mais do que informações e seguidores, ela irá enfrentar as primeiras dores e desafios que o caminho ao trono lhe reservam, além de conhecer os perigos que sua nova jornada, nunca antes pensada, lhe apresentará. A garota de dezoito anos que por muito tempo conheceu apenas os campos próximos a seu chalé agora dará lugar a uma verdadeira rainha, uma mulher capaz de encarar a morte e ameaça-la com toda a força de seu ser.
A Rainha de Tearling é o primeiro volume da série de livros escrita por Erika Johansen, e irá trazer ao leitor uma fantasia “medieval” repleta de mistérios e desafios, eventos instigantes e aquele que foi, para essa pessoa que vos fala, o ponto de destaque: toda a crueldade que somente o ser humano é capaz de perpetuar, toda a dura realidade de um povo sofrido, todo o sofrimento de anos de corrupção.
Apesar de possuir uma trama bem arrematada, repleta de história e contextualização, com diversos pontos de interrogação, bem como respostas para perguntas cruciais, A Rainha de Tearling, porém, não se trata de uma história nova. Em diversos momentos senti uma proximidade enorme da trama apresentada no livro com a contextualização e detalhes que encontramos na Saga dos Espinhos de Mark Lawrence. É claro que não se trata de uma cópia deslavada, é possível que a trama citada nem tenha passado pela mente da autora ao escrever este livro, mas a proximidade existe e não poderia deixar de destacá-la. Desta forma, e por possuir uma paixão enorme pelo Príncipe dos Espinhos, A Rainha de Tearling, aos meus olhos é uma versão feminina da Saga dos Espinhos.
Além deste detalhe, a obra em questão se aproveita de lições de ética, estando repleta delas. O bom e velho feminismo e o famoso empoderamento feminino surgem aqui com mensagens mastigadas, regurgitadas em uma trama que, como tantas outras, quer se estabelecer através de mensagens livres de qualquer reflexão. Mas permitam que explore melhor meus pensamentos. Nesta obra, as lições por tanto tempo defendidas pelo movimento feminista, surgem como meros elementos, algo capaz de trazer atualidade para a obra. Não existe reflexão, opinião, não se explora ideias, pensamentos, não se apresenta ao leitor os motivos pelos quais determinadas ações são condenadas. Ouso dizer que, quando pretende-se explorar temas tão importantes, ainda tão importante na atualidade, exige-se também um pequeno esforço por parte do autor para que estes não sejam apenas mais uma informação dentre tantas, mais uma mensagem jogada ao leitor livre de qualquer interpretação.

Confira a série A Rainha de Tearling

A Rainha de Tearling, para muitos, será encarada como uma obra de empoderamento feminino, recheada de mensagens ligadas ao movimento feminista, além de uma fantasia maravilhosamente bem montada. Porém, aos olhos cansados pela falta de reflexão atual, críticos, de uma leitora que já passou por fases e fases, esta é mais uma obra interessante por seus elementos fantásticos, pelo sofrimento apresentado, mas nunca pela falta de aprofundamento das questões que se põem a abordar. Uma Saga dos Espinhos adaptada para o universo feminino é como enxergo o primeiro livro desta série, e, apesar de minhas críticas, sigo ao lado de Clava e do melhor personagem deste livro (um ladrão que não posso nomear), torcendo para que ganhem ainda mais destaque no segundo volume da série, pois aos meus olhos, nada seria desta história sem eles.

  • The Queen of  Tearling
  • Autor: Erika Johansen
  • Tradução: Cássio de Arantes Leite
  • Ano: 2017
  • Editora: Suma
  • Páginas: 351
  • Amazon

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