Recebi o livro Quinze Dias do booktuber e agora autor, Vitor Martins de cortesia da editora Globo Alt. De início não tinha a pretensão de ler o livro por agora, mas após receber um presskit super lindinho e ver um ou dois vídeos do próprio Vitor falando sobre o livro, não houve como não ter curiosidade sobre a história do Felipe, protagonista do livro de estreia do autor.
Felipe não vê a hora das suas tão sonhadas férias de meio de ano. Finalmente algum tempo livre para colocar as séries em dia, ler alguns livros e principalmente, estar livre de todos os tipos de chacotas e bullying que ele sofre na escola, e o porquê? Felipe é gordo. Ele mora com a mãe, uma mulher extremamente amável e dona de um talento único. Ela vende suas telas e passa a maior parte do tempo em casa, ou seja, Felipe e Rita tem uma rotina só deles.
Porém, o plano de perfeito de Felipe começa a desandar quando no primeiro dia de suas férias se depara com a notícia de que, Caio, seu vizinho de prédio, irá passar os próximos quinze dias de férias ali na sua casa, no seu território. O vizinho não é um completo desconhecido para Felipe, eles costumavam ser amigos na infância, mas com a chegada da adolescência, os dois se afastaram e acabaram restringindo a amizade em breves cumprimentos pelo corredor, o que já era ótimo para Felipe, mas agora ele será obrigado a lidar com todas suas inseguranças para definitivamente interagir com Caio, ao mesmo tempo em que tenta, desesperadamente, esconder seus sentimentos do garoto que desde sempre mexeu com o seu coração.

Eu sou gordo. Eu não sou “gordinho” ou “cheinho” ou “fofinho”. Eu sou pesado, ocupo espaço e as pessoas me olham torto na rua. Sei que existem pessoas no mundo com problemas muito maiores que os meus, mas eu não costumo pensar no sofrimento dos outros quando estou vivendo meu próprio sofrimento na escola.

Narrado em primeira pessoa por Felipe, aqui teremos uma espécie de diário, mas em formato de conversa. Felipe literalmente está contando tudo para o leitor, e é assim que nos sentimos sendo tão parte desta história como qualquer outro personagem. Felipe torna tudo mais gostoso de ler e acompanhar seus conflitos internos, suas manhas, suas manias e principalmente sua percepção do mundo é o que faz de Quinze Dias um livro verdadeiro, transparente e cheio de mensagens que devemos carregar pra sempre no coração.
Apesar do que mencionei, não pense que o livro carrega uma dose excessiva de drama ou que os assuntos abordados aqui como o bullying, a gordofobia, a homofobia e outros preconceitos em geral fazem de Quinze Dias um livro pesado, pelo contrário, Vitor Martins conseguiu trazer uma leveza ao livro, abordando sim, assuntos relevantes e necessários, mas sem perder a mão para o humor e a delicadeza em sua narrativa.
Foi exatamente aí que ele me ganhou. Perdi a conta das vezes que não consegui segurar o riso com as tiradas de Felipe e de muitas das situações que acontecem aqui. O personagem é tão real, que parece ter um pedacinho de cada um de nós dentro dele, é impossível não se identificar pelo menos um pouco com Felipe. Fazendo um certo contraponto para o enredo, Caio se mostra bastante diferente daquilo que imaginamos numa primeira impressão, ele me impressionou de várias formas e talvez toda sua segurança e visão tenha ajudado a transformar o mundo de Felipe também.

Além de todos os temas que citei, o autor vai trabalhar em cima de outros assuntos, como a insegurança de modo geral, a dificuldade de socializar, a ansiedade, autoestima e também a autoconfiança. Estes assuntos estão todos relacionados a condição física de Felipe, mas também podem estar presentes na vida de muitos adolescentes na faixa etária dos personagens do livro. Caio, Rebeca e Mel aparecem na história dando outra perspectiva para estes problemas e este cuidado do autor de não restringir algo apenas para uma pessoa na história serve como um ponto positivo, atingindo um público maior com o seu livro.

Muito mais que uma bela história de amor, autoestima e aceitação, Quinze Dias vai falar também sobre a amizade e a importância de fortalecer estes laços em nossas vidas. Porém, a crítica maior continua sendo direcionada a nossa sociedade, que segue com sua busca incansável pelo padrão de beleza único aceitável. Muito além da aparência de Felipe, aqui veremos isso sendo exposto de vários ângulos, seja sobre o estilo e tom de pele de Beca ou pelas cicatrizes e o porte físico de Mel que é magra, ou seja, o livro não foca apenas no protagonista, mas também em todos os personagens que ajudam a contar esta história.A edição lançada pela Globo Alt está lindíssima. E um fato interessante é que a ilustração da capa também foi feita pelo próprio Vitor que também é ilustrador. Tudo, desde o marcador que acompanha o livro e o pôster que recebi fazem parte de toda a atmosfera do livro e eu adorei!

Mesmo sendo magra, Melissa também tem suas inseguranças. Então a magreza não é um prêmio que se ganha na loteria da vida e garante a felicidade eterna.

Durante a leitura eu me identifiquei muito com várias cenas que apareceram aqui. Iniciando pela dedicatória, quando descobrimos que o livro é dedicado para todos as pessoas que já entraram de camiseta em uma piscina. Eu já entrei, não uma nem duas vezes, mas várias. Escutei durante toda a minha infância coisas do tipo, “você não engorda não?” ou ainda “tua filha é doente?”. Na adolescência piora é claro, palavras como “seca”, “esquelética” ou “albina” pareciam ser coisas leves, bobas, mas não era, nunca foram. Eu continuo escutando coisas do tipo até hoje, aos meus 28 anos de idade e com todos os complexos desenvolvidos por tantas coisas “bobas”. Então sim, me senti muito representada pela história de Quinze Dias, mesmo que tenha sido por uma pequena fatia da história. Foi ótimo poder me identificar tanto com uma obra, ainda mais sendo de um gênero que a tempo não me conquistava.

Certamente Quinze Dias é uma leitura que eu recomendarei para quem puder. É um livro leve, gostoso, que carrega também sua carga de crítica, mas que nos encanta acima de tudo por todas as mensagens que passa. Aquelas que fazem com que terminemos a leitura com um sorriso bobo no rosto e com o coração mais aquecido após ter conhecido uma das histórias mais lindas e fofas que tive o prazer de conhecer por um autor nacional. Se antes já tinha uma certa admiração pelo Vitor, por todo o trabalho que ele tem feito e que vem desenvolvendo pelo booktube, agora o admiro ainda mais, por expandir ainda mais o seu contato com a literatura e pelo ótimo autor que vem se tornando.

  • Quinze Dias
  • Autor: Vitor Martins
  • Tradução: -
  • Ano: 2017
  • Editora: Globo Alt
  • Páginas: 208
  • Amazon

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