Imagine um mundo onde ninguém sabe ler. Sefia é a única pessoa que possui um livro e com ele ela aprendeu a ler sozinha, porém, todos que resolveram proteger este pequeno tesouro foram tiradas de sua vida. Com o dom da leitura e com o desejo de vingança, Sefia embarca em uma aventura sem volta e nas páginas desse livro ela vai descobrir que as histórias contidas nele e o real não são mundo tão distantes assim como imaginava.
A Leitora, da autora Traci Chee, é o primeiro livro da, então, trilogia Mar de Tinta e Ouro. Lançado no Brasil pela Plataforma21, o livro apresentará como protagonista Sefia, uma garota solitária que vive em Kelanna, um mundo onde ninguém sabe ler, apenas ela. Para que o passado não seja esquecido, as histórias são contadas boca a boca e repetidas vezes durante os anos e assim elas perpetuam. Dentre estas histórias está d’O Livro e acredita-se que quem o decifrasse seria portador de um grande poder.
Sefia não é a única pessoa que sabe sobre a existência d’O Livro e logo adentramos numa jornada épica de fuga e perseguição, juntos da protagonista teremos que descobrir se estas pessoas que a perseguem são as mesmas que assassinaram seus pais há anos atrás e de Nin, sua protetora, muito recentemente. Mas o principal mesmo é descobrir qual o objetivo deles com o tão peculiar artefato.

Você sabe quem você é de verdade, ou você foi enganado? Você é mesmo o leitor, ou você é lido?

Traci Chee me proporcionou uma das leituras mais interessantes e imersivas que provavelmente já li até o momento em 2017. O fato de estarmos lendo um livro que fala sobre um é apenas um dos bons fatores, mas o máximo é saber que nós realmente temos em mãos, o próprio Livro. A Leitora é uma leitura única e cheia de mistérios, literalmente viajamos pelas palavras ocultas, ou não, que encontraremos nestas páginas e por que não, somar a tudo isso uma frota de piratas, um capitão e sua tripulação?

A narrativa, em terceira pessoal, é rica e envolvente. Os acontecimentos se desenvolvem num ótimo ritmo ao ponto de que a leitura seja extremamente cheia de força e atitude. É fácil de se sentir parte da trama e eu particularmente adoro quando as histórias nos proporcionam isso, ainda mais quando o próprio projeto gráfico contribui para isso. Ao longo da leitura é possível encontrar várias dicas e mensagens escondidas pelas páginas de A Leitora, alguns mais perceptíveis, outros não. Então, leiam com atenção e fiquem atentos a todas as dicas que a autora dá durante a leitura.
Sefia ganha e perde alguns amigos ao longo de sua jornada. Fiquei bastante impressionada com o tanto que gostei de Arqueiro, um menino bastante misterioso e que mesmo sem poder falar, garante sua importância. Capitão Reed e sua tripulação fiel sempre roubam a cena, adorei cada momento em que eles aparecem e gostei ainda mais do mote que envolve Reed a este livro, é incrível a forma como a autora entrelaça a linha do tempo de A Leitora e como tudo se encaixa.

Bastante humana em certos aspectos, Sefia se mostra uma personagem interessante, com os erros e acertos que sempre envolvem personagens jovens adultos. O modo como ela não está isenta a isso e o modo como ela lida com a vingança e a raiva que afloraram dentro dela desde sempre, não a desmerecem como uma heroína. Mesmo embalada por estes sentimentos e tomando decisões não muito sábias é curioso saber que ela, como qualquer outra jovem da sua idade ainda tem muito a aprender.

Durante a leitura alguns questionamentos sobre a base usada para que esta história se desenvolvesse vieram à tona. Dentre eles está a existência de um mundo onde a palavra escrita não existe e em minhas divagações comecei a ponderar sobre o quanto isso seria possível ou não. Infelizmente a autora não trabalha isso mais profundamente, pelo menos não neste primeiro volume, e nem como foram desenvolvidos os dialetos que deveriam, também, sofrer um tipo de alteração ruptura.

– A vida é mais do que ser jovem e bonita…ou feliz, na verdade. Sefia pensou em sua própria vida. Ela não estava vivendo para ser feliz. Fazia muito tempo desde a última que desejara algo tão simples quanto felicidade.

De qualquer maneira, o mundo criado por Traci Chee é bastante amplo e diante tudo que ela propõe, realmente acredito que isso seja apenas uma problemática que estou antecipando e não tão necessária na trama por enquanto. Existem sim, exceções nesta sociedade e acredito que seja nisso que a autora vá trabalhar daqui para frente. Diante a grandiosidade desse mundo, vi que nem um terço de Kelanna fora explorado ainda, portanto, os personagens devem e podem explorar outros lugares. Para ajudar na localização, podemos contar com um mapa logo no início do livro, o que facilitar muito numa história onde os personagens estão em constante movimento.
Como já mencionei, a arte geral do livro, seja ele dedicado ao contexto da história ou apenas como projeto gráfico da editora, está linda. A Plataforma21 entrega ao leitor uma edição linda, com uma ótima diagramação e um bom acabamento. Em me desculpem para quem gostou, com uma capa muito mais bonita que a edição original. Sem dúvidas a edição faz jus a sua história.
A forma como tudo em A Leitora é construído e planejado demanda uma certa paciência e assim o livro caminha no seu próprio ritmo. Deem uma oportunidade ao livro, a estes personagens e a Kelanna. Temos tudo o que amamos aqui, personagens intrigantes, magia e nas entrelinhas, leremos sobre o que realmente é ler algo ou alguém, a importância da leitura e o que isso proporciona. Sem dúvidas Traci Chee criou uma história para ser passada por gerações, uma história para não ser esquecida.

  • Sea of Ink and Gold – The Reader
  • Autor: Traci Chee
  • Tradução: Edmundo Barreiros
  • Ano: 2017
  • Editora: Plataforma 21
  • Páginas: 464
  • Amazon

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