O ano é 1851. O contexto é a febre do ouro, os assassinos e seus empregadores, homens cuja riqueza e poder decidiam quem vive e morre.
Nossos personagens principais são dois irmãos cuja fama carrega consigo os nomes de todos aqueles que já não estão mais aqui para contar como foi seu amistoso encontro. Os dois matam em nome do Comodoro. Mas, apesar de estarmos falando de foras da lei, suas personalidades opostas conquistam o leitor logo nas primeiras páginas desta obra instigante, divertida e curiosa.
Eli e Charlie Sisters sujam as mãos de sangue e poeira enquanto o Comodoro espera pacientemente em sua confortável e espaçosa residência. Os irmãos se encontram com seu empregador para conhecer sua nova missão, acabar com a vida de Hermann Warm, homem misterioso que assim como muitos, partiu em busca de fortuna para os rios repletos de ouro, localizados no estado da Califórnia.

Ocorreu-me que eu tinha cruzado o batente da porta por um cavalo do qual não gostava, mas Charlie não tinha feito o mesmo pelo sangue do seu sangue.

A dupla reúne seus poucos pertences e parte, com toda a habilidade e destreza adquirida por anos de prática, em busca da morte de Warm. Porém, são os eventos e aventuras que os preparam para o encontro que transformam a simples vida de assassinos, em uma viagem fascinante pelo Velho Oeste, destacando as diferenças profundas entre os irmãos, os anseios, sonhos e dúvidas de Eli com relação ao que poderíamos classificar como seu ofício e como, de um momento para outro, sua sorte é capaz de mudar.
Os Irmãos Sisters é o tipo de obra que, conquista e aquece corações com suas breves reflexões e mensagens, destacando-se pela habilidade com que prende o leitor logo nas primeiras páginas, nos instigando a avançar por cada capítulo sem que notemos a passagem do tempo. Com uma escrita simples, acessível e bem-humorada, o livro encanta até mesmo os leitores que, como eu, sempre acreditaram não gostar ou serem capazes de estabelecer uma conexão com histórias e aventuras ligadas ao Velho Oeste.
A narrativa dosa de forma sábia os momentos de embate entre personagens, desafio, lutas, perseguições e aventuras a todos os pensamentos de Eli, o irmão responsável por nos acompanhar e direcionar por entre os eventos caóticos e curiosos da trama. As cenas, passagem do tempo e escolhas dos personagens são tão bem interligadas que, mesmo nos momentos em que nos encontramos frente a frente com acontecimentos estranhos, um tanto quanto sobrenaturais e, possivelmente desligados do direcionamento principal, sentimos que o desvio vale a pena, apesar de, em casos, não acrescentar nada de novo ao contexto e carga emocional de toda a trajetória e aventuras dos irmãos.
O companheirismo, além das aventuras que encontramos ao longo da obra, destaca-se como o ponto alto de todos os elementos e reflexões inseridos na narrativa. Apesar de possuírem personalidades dispares, pontos de vista diferentes e, nem sempre concordarem, Eli e Charlie representam a verdadeira relação entre irmãos. Nossas opiniões podem divergir, podemos entrar em brigas e discussões acaloradas, em determinados momentos não suportamos olhar para o rosto daquele que, nos piores ou melhores momentos de nossas vidas, estarão conosco, mas, não importa
o que aconteça sabemos que o companheirismo é verdadeiro, e que irmãos são para a vida toda.
Os Irmãos Sisters, apesar de classificar-se como uma obra curta, conquista por sua escrita simples, surpreendendo o leitor com uma narrativa instigante, agradável e repleta de aventuras. O livro ganha força devida a forma como explora o lado pessoal, a carga psicológica e emocional dos personagens principais, demonstrando sua humanidade e, principalmente, companheirismo.
É fácil, por meio do virar das páginas desta obra, sentir a areia do Velho Oeste, as pequenas partículas de ouro rolando pelas águas de um rio e, as pequenas e breves reflexões que aqui encontramos, transportando-nos para outro tempo, outro contexto, mas o mesmo companheirismo que todo irmão compartilha e transforma desafios em aventuras e dificuldades em aprendizado.

  • The Sisters Brothers
  • Autor: Patrick deWitt
  • Tradução: Marcelo Barbão
  • Ano: 2017
  • Editora: Planeta de Livros
  • Páginas: 253
  • Amazon

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