De Providence, Estados Unidos, Howard Phillips Lovecraft foi um dos escritores que ajudou a inovar o gênero do terror, trabalhando em suas histórias elementos fantásticos também encontrados na ficção científica e fantasia. O seu tipo de terror, conhecido como um terror cósmico, desafiava as crenças da época em que foram escritas e com o passar das décadas, desde seu falecimento em 1937, suas obras lhe garantiram o título de um dos escritores mais influentes do século XX.Mais conhecido pelas obras em que apresenta ao leitor divindades ancestrais, como a de nome O Chamado de Cthulhu, que anos depois virariam parte da mitologia lovecraftiana, os Mitos de Cthulhu, nesta edição publicada pela Martin Claret, encontraremos dez contos de temáticas distintas, menos conhecidas até para os fãs do autor, mas igualmente perturbadoras.

A fórmula para estes contos variam, mas todas as histórias conservam o grande clímax para o final. A narrativa é toda feita em primeira pessoa ou pelo protagonista ou por um narrador que viveu todos os fatos. A leitura é rápida e a maioria dos contos são curtos, e, consequentemente, nem um pouco arrastados, principalmente por Lovecraft gostar de descrever muito bem as cenas perturbadoras e mais chocantes, ou seja, preparem-se para leituras objetivas.

Meus ouvidos apurados, naquele momento ainda mais afiados pelo completo silêncio da caverna, abriram o meu entendimento entorpecido para a inesperada e terrível percepção de que aqueles passos não eram de nenhum homem mortal.

A Fera na Caverna, A Rua, O Que Vem da Lua, O Perverso Clérigo, Ele, Ar Frio e A Gravura da Casa Maldita são os contos mais curtos da edição e por este motivo os mais dinâmicos em relação a ação e desfecho. Dentre todos, um dos que mais me chamou a atenção foi A Fera na Caverna que apresenta ao leitor um final surpreendente. É ele também que abre o livro, dando um pequeno aperitivo do que eu, como leitora de Lovecraft de primeira viagem, poderia esperar da imaginação do autor.

Os contos mais longos, como Os Ratos na Parede, O Modelo Pickman e Herbert West Reanimador me prenderam mais a atenção por ganharem maior espaço para um aprofundamento. Por este motivo, em todos, me senti realmente imersa a história e instigada pelos fatos. Todos eles apresentam um certo perigo em relação ao desconhecido e a atmosfera de mistério permeiam todas as páginas. H. P. Lovecraft consegue prender o leitor do início ao fim, mesmo com certos trechos mais rebuscados, as histórias são tão fáceis de ler e de serem compreendidas que a leitura se mostra muito mais enérgica.

Confira H. P. Lovecraft – Contos: Volume II

Esta edição, relançada pela Martin Claret, acabou dividida em dois volumes. Em 2016 a editora já havia lançado uma edição maior com várias histórias, porém desta vez, esta nova publicação, além de receber contos inéditos, recebeu também uma nova tradução e um novo trabalho gráfico. A capa, diagramação e cores escolhidas para o trabalho, destacam e dão uma outra cara há uma obra relacionada ao autor, um contraste vivo comparado ao mundo sombrio criado por ele. Eu particularmente gostei muito e fiquei encantada com obra assim que a vi.

O debate levantado pela tradutora Lenita Esteves, professora e pesquisadora da área, no texto de introdução, também foi uma ótima porta de acesso para os novos leitores de H. P. Lovecraft. Além de apresentar uma breve história sobre a vida do autor e suas obras, ela detalha muito bem a importância que a imaginação do autor teve em tempos onde o ceticismo era tão enraizado. Outro levantamento da tradutora é direcionado justamente para a tradução dos contos e a liberdade que ela precisou tomar, juntamente com a editora, para apresentar ao leitor contemporâneo histórias mais aceitáveis. Lovecraft para quem não sabe, foi um grande conservador e possivelmente racista e xenofóbico, por este motivo, passagens de seus contos que descreviam personagens de formas pejorativas precisaram ser alteradas, mas claro, sem distorcerem os enredos.

Achei de estrema importância, a tradutora, trazer este tipo de questionamento e falar abertamente sobre a a ética do amortecimento quando estamos falando de autores e obras que foram escritas em outros tempos, com outros tipos de pensamentos, principalmente na real situação em que vivemos hoje. Sem dúvidas é um texto que vale a leitura não só por apresentar todas estas curiosidades sobre o autor, mas também para que entendamos um pouco sobre o trabalho de um tradutor e as dificuldades que eles podem encontrar pela frente.

Fiquei extremamente satisfeita com a minha primeira experiência com H. P. Lovecraft, achei que encontraria muitas dificuldades pelo meio do caminho, mas acabei imersa e envolvidas pelas obra como jamais imaginaria. Trabalhar o terror sob o desconhecido, mexe com o imaginário das pessoas, pois não há pessoa neste planeta que saiba o que há, realmente, lá fora. O possível contato dos humanos com seres de outros planetas, dimensões e tempo, só torna a atmosfera das histórias de Lovecraft mais aterrorizantes. Destacar o incerto e ressaltar o indescritível e o inimaginável fortaleceu o seu estilo de escrita e eternizou uma das suas tantas facetas como autor. Ele apresenta situação bizarras, premissas arrepiantes e um terror sujo e sangrento. Seus personagens flertam com a insanidade e por muitas vezes descrevem os fatos em que viveram como se nós, leitores, estivéssemos presentes na mesma cena. Não é à toa que Lovecraft exerce até hoje, uma grande influência sob gerações de autores.

Mais do que recomendado, sejam bem-vindos ao mundo lovecraftiano e deixem que o mistério e o medo do desconhecido lhes entretenham e lhes assustem. Tenho certeza que vai valer a leitura.

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  • H. P. Lovecraft - Contos: Volume I
  • Autor: H. P. Lovecraft
  • Tradução: Lenita Esteves
  • Ano: 2017
  • Editora: Martin Claret
  • Páginas: 2013
  • Amazon

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