Em Veleiro Garça Azul, iremos acompanhar seis histórias vividas pelo autor, Fernando P. Kuhlmann, ao lado do seu veleiro em meados de maio de 1994 a 2010.
Num primeiro momento, no prefácio do livro, descobriremos de onde surgiu o interesse do autor sobre a prática do iatismo e de que maneira, por um longo período, passou a se dedicar inteiramente para o estudo do mundo náutico. A partir dali, mesmo com suas dificuldades, passaram-se poucos anos para que finalmente o Garça Azul, projeto que fora construído do zero, tomasse forma e adentrasse nas águas do litoral brasileiro.
Neste mesmo capítulo é possível encontrar um pequeno glossário sobre os termos e expressões corretas referentes aos nomes dos elementos de um veleiro, pois durante a narrativa, muitos desses nomes, como boreste, bombordo, traves e tantos outros, irão aparecer para compor o ritmo da história. Então, para que nenhum leitor mais leigo se sinta perdido, é importante dar uma conferida nestes significados. Além disso, podemos conferir dados sobre o próprio Garça Azul, como seu tamanho e características.
Só anos depois dos acontecimentos narrados neste livro, que o autor se sentiu a vontade de relatar suas aventuras e os motivos que fizeram delas momentos especiais e inesquecíveis. Situações inusitadas que agora se encontram imortalizadas pelo o autor e compartilhadas para quem se interessar. Nestas histórias encontraremos os mais diversos acontecimentos e as mais expressivas emoções. Como a insegurança de se navegar sozinho e o modo como a natureza, ao mesmo tempo que demonstra calmaria, se revolta até virar uma tempestade assustadora. Quais são as dificuldades de se navegar em condições tão adversas e como tudo pode ser tão complicado, até mesmo uma “simples” atracação em um porto.

Não é costumeiro para aqueles bravos e simples homens do mar, elaborarem suas jornadas. O que é uma pena para nós navegantes e narradores dos sucessos do mar. Assim ficam desconhecidas as histórias e os eventos eletrizantes vividos pelos intrépidos, pelo menos de forma perene. Reunidas, formariam o conteúdo de livros de aventuras de incomparável originalidade.

Em todos os contos, Fernando de alguma forma, ressalta o respeito que um navegador precisa ter em relação ao mar. Abordagens sobre quais são as épocas corretas para se navegar em tal direção e vários outros tipos de complicadores na navegação serão inseridas nos textos. Disto o autor tirou diversas lições, mesmo o alguém mais experiente no assunto pode encontrar suas dificuldades no mar, que não perdoa. Ainda sobre isto ele destaca a importância de se fazer um estudo sobre as rotas percorridas, recomendação e norma inclusive da própria Marinha, para se evitar acidentes. Estes trechos despertaram bastante o meu interessante.

Dentre as seis histórias contadas, três me cativaram por suas nuances misteriosas e até trágica. Como o segundo texto que apresenta ao leitor a aparição de misteriosa navegação que pareceu surgir de baixo do mar, o quarto texto onde o autor fala sobre uma tripulação que parece alcança-lo em alto mar apenas para orientá-lo sobre o perigo a frente e por fim, a quinta história, onde recebemos um final trágico e inquietante, mas que hoje, fazem parte do Garça Azul e da vida do autor.
Acredito que a leitura de o Veleiro Garça Azul, O Lado Duro da Vela deve agradar muito os leitores mais familiarizados com o mundo do mar, mas para quem, assim como eu, é leigo no assunto, o livro transmite histórias curiosas sobre a rotina no mar e sobre a realidade neste tipo de atividade. Num primeiro momento, os nomes específicos podem dificultar um pouco o entendimento dos fatos, mas seguindo o ritmo narrativo, logo já se sentimos absortos e relacionados ao assunto, o que é ótimo, pois eu, particularmente, não tinha muito conhecimento sobre nada e fiquei bastante satisfeita e entender estes pequenos fragmentos.

Mesmo demonstrando uma narrativa mais rebuscada em alguns trechos, foi ótimo conhecer algumas das aventuras vividas por Fernando P. Kuhlmann, o admiro pela coragem em adentrar num mundo tão cheio de riscos, mas ao mesmo tempo, capaz de levá-lo para as paisagens mais belas. Navegar deve ser assim como a vida, existem seus momentos de paz e outros de tormenta, mas que fazem parte da mesma viagem. Durante a leitura me senti confrontada por diversas emoções, pude me sentir amedrontada, preocupada, curiosa, triste e até confortada, cada conto trabalha um tipo de sentimento e se conclui com um bom aprendizado. Recomendo.

  • Veleiro Garça Azul, O Lado Duro da Vela
  • Autor: Fernando P. Kuhlmann
  • Ano: 2017
  • Editora: Travassos Publicações
  • Páginas: 80
  • Amazon

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