O ano é 2019, o local é Winden, uma pequena e pacata cidade da Alemanha. Trata-se exatamente do gênero de cidade em que eventos sombrios, situações bizarras ou grandes traumas raramente ocorrem a seus moradores. O destaque de Winden está nas atividades ininterruptas de sua usina nuclear, instalada 66 anos antes. O último desaparecimento ocorreu 33 anos atrás, quando o irmão de Ulrich, atualmente, membro do corpo de polícia, some sem deixar rastros e nunca mais é encontrado.
O tempo avança com sua crueldade insolente, o caso é arquivado, nunca mais se encontram qualquer vestígio ou pista do destino do garoto desaparecido, porém, o presente reserva suas próprias surpresas, e pouco a pouco os pontos temporais, a princípio desconectados, começam a se interligar e fazer sentido quando outro desaparecimento acontece, esse, ligado a um adolescente normal que, no caminho que fazia de sua casa até a escola, some como se nunca tivesse existido.
Estamos em 2019, Jonas perdeu seu pai recentemente; sua mãe parece ter superado a morte do marido com uma rapidez irracional; o adolescente que seguia seu caminho entre a escola e sua casa sumiu sem deixar rastros; Ulrich nunca foi capaz de superar o desaparecimento do irmão; os amigos de Jonas tentam agir normalmente e inseri-lo novamente às atividades escolares, porém, pouco a pouco, com o ritmo certeiro de um relógio, a pacata cidade de Winden terá outro evento para marcar sua história.
Durante uma noite de exploração pelas famosas e enigmáticas cavernas da cidade, Jonas e seu grupo de amigos se assustam com eventos sem explicação e, em meio ao caos que se instala por toda a cidade, o filho caçula de Ulrich, Mikkel, desaparece nas sombras da noite. Agora a polícia possuí dois garotos desaparecidos e nenhum suspeito, uma porção de teorias e nenhuma pista e, em meio a cavernas e buscas, usinas nucleares e adolescentes confusos, iremos descobrir que essa história guarda em si muito mais do que um intrincado drama familiar.
Dark é outra aposta da Netflix que conquistou os espectadores e, ao contrário dos comentários desavisados e equivocados que li em algumas críticas, não possuí nada a ver com Stranger Things. Com dez episódios, a primeira temporada conquista pelo mistério que, com maestria e habilidade, será resolvido apenas nos episódios finais e, como não poderia deixar de ser, nos deixa com um baita mind blowing e muitas perguntas para o futuro e rumos dessa história.
Com cuidado e conexões sutis, o drama pesado e denso dos primeiros episódios nos direciona para mistérios que estão interligados, para 33 ou 66 anos no passado. O seriado nos leva para aulas de física sem nos entregar informações mastigadas, apresenta conceitos e, aos pouco, se transforma em uma ficção científica de peso que, pelo cuidado que demonstrou aos detalhes, conceitos e informações, bem como a construção de cada personagem e evento a se interligar a trama, é digna de uma das melhores ficções científicas do século XXI.
Com personagens cujas ações são metódicas, incompetentes, inconsequentes, misteriosas, duras, cruéis, belas e repletas de significado para os próximos episódios, Dark requer atenção. Cada momento presente pode estar conectado a um evento do passado. As teorias surgem a todo momento – e são descartadas na mesma medida – na mente do espectador, fazendo com que se torne uma espécie de conquista quando percebemos que parte de nossas teorias estavam corretas.
Ao mesmo tempo, torna-se desafiante abordar a série sem soltar preciosas informações e detalhes que devem ser descobertos aos poucos, pois o segredo do seriado está na construção de uma narrativa em que cada rosto mostrado, evento do passado, situação do presente, personagens e personalidades possuem conexão com a trama principal e tempo para serem desenvolvidos o que, quando da chegada dos últimos capítulos, deixará o espectador de queixo caído, muitas dúvidas e perguntas, e a certeza de que precisa o quanto antes da segunda temporada.

Dark apresenta adolescentes que atravessam cavernas e bosques para chegar a escola, porém, ao contrário da Stranger Things, aqui não encontramos eventos sobrenaturais, mas sim uma história digna do gênero de ficção científica. Aqui encontramos eventos que se conectam e personagens cujas ações afetam tanto passado como futuro. O seriado exige concentração e a criação de muitas e muitas teorias, mas também nos brinda com uma narrativa multilinear misteriosa, apaixonante, única como nunca antes vista. Dark tem uma narrativa mais complexa, seus conceitos são densos, nossas teorias caem por terra a cada novo episódio e faz parte do jogo descobrir o que virá a seguir.

  • Dark
  • Criado por: Baran bo Odar e Jantje Friese
  • Com: Oliver Masucci, Karoline Eichhorn, Jördis Triebel
  • Gênero: Drama, Ficção Científica, Suspense
  • Duração: 10 episódios – 55 minutos

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