Através de um convite feito pela Editora Arqueiro, o Estante Diagonal teve oportunidade de conferir a cabine de imprensa do filme Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi. Ele está indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Canção Original com previsão de estreia nos cinemas brasileiros no dia 15 de fevereiro.O principal tema abordado em Mudbound é a segregação racial no Mississipi na década de 1940 através das relações familiares de uma família branca (McAllan) e uma família negra (Jackson). O filme começa com os irmãos McAllan enterrando o pai em um dia chuvoso.

Naquele momento, os Jackson estão de saída da fazenda e recebem o pedido de Henry McAllan (Jason Clarke) para ajudar enterrar o Pappy (Jonathan Banks). Fica evidente que existe um clima de tensão entre os personagens, que nós só vamos entender voltando um pouco na história.

Após a morte de sua mãe, Henry McAllan decidiu mudar com sua família, esposa e duas filhas, para uma fazenda no Mississipi, já que agora ele se sentia responsável por cuidar do seu pai. Enquanto isso, o seu irmão mais novo, Jamie (Garrett Hedlund), foi convocado para servir na Segunda Guerra Mundial. No outro lado da história, Hap Jackson (Rob Morgan) planeja comprar a sua própria terra e tirar sua família da situação de submissão em que vivem em uma cidade com uma cultura racista forte. Na mesma época, o filho mais velho, Ronsel (Jason Mitchell), também foi convocado para a guerra. A história segue através do ponto de vista de cada um dos personagens apresentando as relações e situações que levaram até o ponto no começo do filme.
O roteiro e a direção de Dee Rees (que vale destacar, é uma mulher negra) são brilhantes. Mesmo sendo uma ficção é possível ver em cada detalhe – desde o texto, interpretação dos atores até mesmo cenas mais simples – referências históricas que dão uma verossimilhança muito forte para história. Após ver o filme, me surpreende não ver Mudbound indicado nas categorias de melhor filme e melhor direção.

Destaco também Mary J. Blige, a atriz e cantora que interpreta Florence, é responsável por duas, das três indicações ao Oscar que o filme recebeu. Dentre elas, esta sua interpretação pela música Mighty River, que compõe a trilha sonora do longa. Falando mais sobre a fotografia, a paleta utilizada no filme é bastante acinzentada, apropriada para a atmosfera que o filme deseja passar, um tempo assombrado pela pós-guerra e por todos os fantasmas que perseguem quem participou dela. Uma curiosidade sobre o título é que Mudbound, em inglês, é uma expressão para “preso na lama”, característica que cerca cenas e personagens, e também uma singela analogia sobre a sujeira humana. Sensacional!

Algo que eu gostaria de destacar em relação ao filme é que apesar de trazer uma temática muito forte – que reflete diretamente em algumas cenas, tanto de guerra como de violência – ainda assim, é possível sair do cinema com um sentimento de esperança no peito.

Mudbound é muito rico em detalhes e com um enredo muito bem desenvolvido. Acredito que isso seja um reflexo do livro homônimo de Hillary Jordan, o qual o roteiro foi adaptado. Para quem tiver interesse, ele foi publicado pela Editora Arqueiro aqui no Brasil. Eu recomendo fortemente, tanto o filme quanto o livro, para quem tem interesse em entender o contexto histórico da segregação racial em meio a Segunda Guerra Mundial. E para além disso, o filme é de extrema importância, pois apesar da história se passar em 1940 ainda é possível encontrar em nossa sociedade muitos traços remanescentes daquela época. Entender as consequências de tudo isso é fundamental para lutarmos contra o racismo.

  • Mudbound
  • Lançamento: 2018
  • Com: Carey Mulligan, Garrett Hedlund, Jason Clarke
  • Gênero: Drama
  • Direção: Dee Rees

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