“O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.” Isaac Newton
Começo essa resenha mencionando a célebre frase do grande físico, Isaac Newton, uma vez que ela se encaixa tão perfeitamente a essa obra, que é como se a resumisse. Assim como a ciência, cada ser humano carrega uma história cheia de mistérios, enigmas, peculiaridades, característicos de si, únicas. Cada ser humano é um oceano, que dele só conhecemos até onde podemos ver.
Harley McWaid é uma jovem exemplar, é a filha mais velha do casal McWaid, uma aluna muito responsável, atleta destaque de lacrosse e, aparentemente, uma pessoa super organizada. Como toda adolescente, esconde uma mentirinha aqui, outra ali, mas nada demais. Quase acreditamos que Harley é aquela menina perfeita, com uma vida que todos queriam ter. Apesar de toda perfeição, vidas assim são muito similares a camadas superficiais de gelo, que dão a impressão de a qualquer momento podem se desfazer. E foi numa manhã de sábado que a superfície da família McWaid se rompeu. Harley havia desaparecido.

Dan Mercer é um homem solitário, órfão de pai e mãe, que após muitas lutas e esforços, conseguiu se formar na Universidade de Princeton e que procura mudar a vida de jovens, que, assim como ele, não possuem nada além de vontade. Acostumado à aquela vida comum e pacata, Dan vê tudo mudar de repente e assustadoramente, quando Wendy Tynes, repórter do NTC News, arma uma cilada para desmascarar o pedófilo, que a jornalista acreditava que ele fosse. Dan Mercer é inocentado por falta de provas, mas é morto logo em seguida.

Eu sabia. Todos nós escondemos, não é? Ninguém conhece tudo sobre outra pessoa. Sei que é um grande clichê, mas a verdade é que nunca conhecemos o outro de verdade.

Wendy Tynes é do tipo que acredita somente nos fatos, entretanto, após ser testemunha da morte de Dan Mercer, ela observa todas as suas certezas caírem por terra. Seguindo seu instinto, a repórter busca descobrir se foi culpada pela morte de um inocente. Todavia, ao iniciar sua investigação, Wendy se depara com a confluência entre essa história e o desaparecimento de Harley, o que irá lhe propiciar um abismo de dúvidas e incertezas. O que será que duas vidas tão distintas possuem em comum? Ás vezes, nem tudo que parece ser, é.
Curiosamente, a história se passa no estado de New Jersey, Estados Unidos, mesmo local de origem e vivência de Harlan Coben. Algo que me pareceu inusitado e extremamente interessante na obra, foi o fato de temas como consumo de álcool e drogas por jovens, pedofilia e relações familiares serem tratadas dentro das questões centrais do livro que são vingança, luto e perdão.
Cilada é o primeiro livro do autor que tenho contato. Apesar de já ter ouvido muitas críticas excelentes quanto ao escritor e suas obras, ainda assim me surpreendi muito com o livro. Ele nos envolve em sua narrativa de um jeito viciante, que não conseguimos nos contentar em ler só mais um capítulo. O autor me conquistou logo no início, quando, em uma fala dos personagens ele faz menção a uma outra obra, de outro escritor. E, não é somente um detalhe que me chama atenção, como a citação em si é de um livro que tenho grande apreço.

Sei que tudo isso pode parecer civilizado demais, Pollyanna demais, e talvez seja mesmo.

A escrita de Coben é maravilhosa e nos fornece uma leitura fácil e muito instigante. O autor é altamente descritivo e detalhista, o que nos leva a personificarmos nos indivíduos da história. Entretanto, durante a leitura, em alguns momentos, achei que certas minúcias não haviam necessidade. Apesar de possuírem correlação com a história e estarem bem encaixadas, foram acréscimos que sua ausência, acredito que não interfeririam ou fariam falta no texto. Creio que, possivelmente, essa sensação que tive pode ser devido a tradução, pois, narrativas originais tendem a serem melhores.
Durante a história, somos conduzidos a construir inúmeras hipóteses, que o escritor nos induz a desconstruirmos, e formarmos novas teses. O autor soube entrelaçar o passado e o presente de maneira esplêndida, conectando situações do passado com o momento presente dos personagens. Além do mais, durante o livro, a quarta parede é quebrada de modo tão natural, que nos sentimos em um diálogo direto com o personagem, nos atraindo ainda mais a atenção.

Ponham um violino ao fundo, porque agora vou filosofar sobre o provérbio que diz que é melhor perder quem se ama do que nunca ter amado. Acho que isso não se aplica a mim.

A edição da obra é ótima, o título está diretamente interligado a narrativa. Especialmente a capa, eu amei. Demoramos um pouco, durante a leitura, para relacioná-la ao livro, mas ocorre essa relação na história, sem contar que ela é linda. E a diagramação é muito boa, as páginas são meio amareladas, com um tamanho de letra razoável, o que nos permite uma leitura muito confortável.Em síntese, ultimamente tenho procurado diversificar nos gêneros literários das minhas leituras, e, com certeza, Cilada foi uma das minhas melhores escolhas para o gênero suspense/romance policial. Para quem gosta desse tipo de leitura, o livro é uma ótima pedida. O autor ainda possui outros títulos, como Refúgio e Uma Questão de Segundos, da série de Mickey Bolitar, além de Fique Comigo, Confie em Mim, Não Conte a Ninguém e Desaparecido Para Sempre. Harlan Coben possui um leque de opções do gênero. Ressaltando mais uma vez sua excelência como autor, a título de curiosidade, ele é o único escritor a ter recebido os prêmios Anthony, Shamus e Edgar Allan Poe, a trinca de ases da literatura policial americana. E, a obra Não Conte a Ninguém foi adaptado e lançado como filme. Enfim, Cilada é um livro fantástico e mesmo para os não amantes do gênero, vale ao menos uma espiada para conhecer.

  • Caught
  • Autor: Harlan Coben
  • Tradução: Marcelo Mendes
  • Ano: 2010
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 272
  • Amazon

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