Terminei o ano de 2017 lendo um dos maiores clássicos da literatura fantástica, de 1972, Em Busca de Watership Down chega ao Brasil em uma maravilhosa edição da Editora Planeta de Livros. Com uma capa lindíssima, folhas pólen e um belo mapa logo nas primeiras páginas, para situar bem o leitor.

A partir da ideia de entreter suas duas filhas pequenas, em 1952, durante uma viagem de carro, Richard Adams criou uma história sobre uma colônia de coelhos. Um deles, chamado Quinto, é vidente e consegue prever grandes catástrofes. Ele começa a sentir que ele e seus amigos estão correndo um sério perigo e devem fugir. Para estarem salvos, eles precisam conseguir chegar a colina de Watership Down.
Você deve estar pensando que uma história sobre coelhos, criada para duas crianças, jamais seria uma leitura agradável, mas você está errado. Em Busca de Watership Down consegue ter terror, assassinatos, mortes, sangue e muitas cenas emocionantes.

Durante o caminho em busca de sua nova morada, os coelhos enfrentam predadores e muitas coisas terríveis em busca de sua sobrevivência. O livro tem muita ação e uma narrativa muito inteligente, todo ele possui uma lógica em volta de suas ações e fecha completamente bem no seu encerramento. A leitura é bem dinâmica, a maioria dos capítulos são rápido, e o livro é muito bem ambientado, com descrições extremamente minuciosas, mas muito necessárias, não existe nada de supérfluo ou que não seja usado na história.

[…]Não sei exatamente o que é – respondeu Quinto, aflito – Não tem perigo aqui, pelo menos não neste momento. Mas ele esta chegando… esta chegando. Ah, Avelã, olhe! O campo! Esta coberto de sangue!

O grande ponto do livro é que os coelhos recém encontraram um lugar onde todos estão adorando viver, e Quinto, apesar de prever que algo de ruim acontecerá em breve, não consegue descrever exatamente do que eles precisam fugir, deixando todos desconfiados e sem acreditar realmente que precisam se desfazer do que conquistaram, baseados apenas em um sentimento de um coelho que para sua ninhada, não tem nada de especial. No meio da fuga eles encontram diversos problemas e mesmo após passar por algum deles, eles seguem sem saber se aquela era a tão esperada catástrofe ou se algo pior ainda está por vir.No meio desta confusão o que era apenas para ser uma história passada de geração em geração dentro da família Adams, começa a receber informações que valem a pena ser passadas a todos leitores do mundo. Richard Adams, começou a inserir no seu conto assuntos complexos e com capacidade de modificar a vida de quem está lendo, como a coragem retratada no grande guerreiro Al-Ahrairah, com muitas histórias de suas aventuras, ou então do delírio coletivo pelo qual os coelhos passam enquanto procuram a tão esperada colina.

O autor consegue até inserir no contexto do seu livro um diálogo sobre opressão e fascismo, mostrando o quanto isso pode prejudicar a vida das pessoas, apenas usando coelhos como exemplo. A capacidade de criação de cenários do autor é tão absurdamente grande que ele chega a criar diversas palavras para a linguagem própria dos coelhos, o lapino. Os personagens desta história,também são bem caracterizados, tem suas peculiaridades, suas qualidades e seus medos, seus pontos fortes e fracos são muito bem definidos e são bem fiéis a eles durante toda obra.

Editora Planeta, que livro maravilhoso! A diagramação é uma das mais belas que já vi, as páginas são perfeitas, agraváveis aos olhos, assim como o trabalho gráfico feito na capa, em hardcover. Parabéns. Sem dúvida Em Busca de Watership Down é um dos melhores livros que li no ano, são 464 páginas de uma fábula, clássica, fantástica e deslumbrante, que não há nada para se falar
de negativo sobre essa obra, não existe um ponto a ser melhorado, seja ele na escrita feita por Adams, seja no trabalho de tradução ou até mesmo na edição da editora.

Antes de encerrar, mais uma curiosidade sobre a obra, Richard decidiu passa-la para o papel graças a insistência de suas duas filhas que exigiam que mais pessoas tivessem contato com a obra que até então era exclusiva delas, e somente na oitava visita a uma editora britânica é que ele conseguiu que ela fosse publicada. Vocês têm noção da sorte dessas duas crianças? Que não foram egoístas e resolveram propagar aquele momento tão íntimo da família e tornar essa história uma das maiores fantasias do mundo, não só para mim, mas para milhões de outros leitores.

Richard Adams faleceu no final de 2016, e não foi escritor de muitos livros, mas é um gigante influenciador. Diversos escritores de distopia e fantasia já disseram que ele foi sua grande inspiração, dentre eles J.K. Rolling, sua conterrânea e o grandioso George R. R. Martin. Em Busca de Watership Down virou um filme em forma de desenho animado em 1978, que causou um grande debate na época, por mostrar diversas cenas de violência entre os animais, gerando nos anos 2000 uma readaptação com quase 10 minutos a menos, sem as cenas mais fortes. A Netflix, juntamente com a BBC está preparando uma nova adaptação da obra que deve ser lançada em breve. Não vejo a hora de poder assistir.

Leiam, é obrigação! Em Busca de Watership Down é emocionante, fascinante, de outro mundo, a grande obra de Richard Adams, composta pela grande edição da Editora Planeta.

  • Watership Down
  • Autor: Richard Adams
  • Tradução: Rogério Galindo
  • Ano: 2017
  • Editora: Planeta de Livros
  • Páginas: 464
  • Amazon

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