Por conta de divergências internas, além de um período difícil para filmes “cult”, de “difícil” compreensão cuja característica principal baseia-se em se tratarem de obras fortemente interpretativas, produzidos pela Paramount ao longo de 2017 – dentre eles podemos citar o maravilhoso MotherAniquilação somente estreia nas salas de cinema dos Estados Unidos, Canadá e China, sendo distribuído para o resto do mundo através de nossa querida Netflix. Mas, antes de seguir para os comentários dessa crítica, gostaria de ressaltar que, embora vendido para o serviço de streaming, este não é mais um filme “original” Netflix.A adaptação do primeiro livro pertencente a trilogia Comando Sul, criada por Jeff VanderMeer, trata-se de uma ficção científica intrincada, cuja narrativa transporta o espectador por meio de dúvidas, incertezas e a necessidade constante de interpretação das imagens, discursos e símbolos que lhe são apresentados.

Sendo exatamente este tipo de filme, não é de surpreender que tenha me chamado a atenção e, embora ainda não tenha efetivado a leitura de cada um dos livros, confesso que toda a experiência com a adaptação serviu como incentivo para conhecer todo o universo criado por VanderMeer em sua famosa trilogia.

Há um ano a bióloga geneticista Lena (Natalie Portman) viu sua vida ruir. Seu marido, Kane (Oscar Isaac), integrante das Forças Especiais, saiu em missão e, na medida em que o tempo passava, as mensagens foram reduzindo até cessarem por completo. Não demorou muito para que ele fosse considerado desaparecido, ou, possivelmente morto em combate.

O silencio de um ano se altera completamente quando, ao fim de tarde, Kane reaparece repentinamente. Ele, porém, está mudado, não consegue se lembrar de pequenos detalhes, informar como chegou até a residência do casal, quando voltou ou o que, de fato, lhe aconteceu ao longo dos meses em que esteve fora. O reencontro logo é interrompido devido ao estado de saúde de Kane e da interceptação da ambulância que o encaminhava para o hospital, por uma equipe de choque que direciona o casal para um complexo de pesquisas localizado nas proximidades da cintilância.
O complexo estuda um fenômeno nunca antes visto, e, assim como tantos outros eventos atuais, não é capaz de compreender ou prever as consequências de seu avanço incessante. Todas as equipes de estudo e exploração do interior da cintilância desapareceram, o único a retornar foi Kane, mas este agora enfrenta as consequências do tempo que passou lá dentro. Em meio a este contexto de fracassos e incertezas, o complexo prepara outra equipe de estudos, esta, composta por mulheres de diferentes especialidades e, uma vez conhecendo os mistérios que lhe aguardam, Lena acaba por entrar na equipe, pretendendo, assim, descobrir o que aconteceu com seu marido e quais os segredos desse fenômeno intrigante.

Aniquilação é um filme misterioso e, antes de qualquer coisa e, nunca compreendido como um ponto negativo, lento. A narrativa é desenvolvida com paciência, inserindo a todo momento eventos passados juntamente aos acontecimentos do presente.

O filme deixa de lado explosões e cenas repletas de ação para abusar de estratégias capazes de criar uma atmosfera de tensão, confusão e, de maneira única e brilhante, brinca com o deslumbramento e assombro do espectador. Existe uma dualidade palpável explorada nos mais diversos aspectos dessa obra e, embora nem todas as mensagens fiquem claras, é gratificante chegar ao final da jornada de cada uma das personagens aqui apresentadas.
O filme também é extremamente visual. A beleza dos efeitos, cenários e elementos criados para a adaptação são compostos de uma beleza e sombras encantadoras. E, como não poderia deixar de ser, nada está ali ao acaso. O filme exige interpretação, concentração, teorias. Alguns pontos são facilmente compreendidos, porém, o maior mistério cresce na medida em que adentramos a cintilância. A medida em que nos aproximamos do centro, da origem deste fenômeno, mais confusos, intrigados, reflexivos nos tornamos. Tudo se interliga, tudo ganha força, os elementos requerem maior carga de interpretação e, graças a uma cena específica, perdemos a noção do tempo, do certo e errado, da vida como a conhecemos, sendo, por fim, transformados em algo novo.

Aniquilação é um filme único, interpretativo, difícil de ser compreendido caso o espectador não mantenha mente e coração focados na narrativa que lhe é apresentada. Porém, a travessia para o centro de tudo é repleta de uma beleza visual digna de nota, os diálogos são importantíssimos, mas, são nos momentos de silencio que recebemos as maiores mensagens. Tudo está interligado e tudo precisa ser notado, tudo possuí uma motivação e, assim como tantos outros filmes do gênero, fica a cargo do espectador buscar as respostas em meio a cada imagem, cada cena, cada segredo ou mistério apresentado.

Espere um filme lento e repleto de significado, com poucas respostas entregues de bandeja, mas sim, um mundo novo que surge diante de seus olhos e, assim como as personagens, está em suas mãos descobrir as regras que o regem e os segredos que o formam.

Crítica em Vídeo

  • Annihilation
  • Lançamento: 2018
  • Com: Natalie Portman, Oscar Isaac, Jennifer Jason Leigh
  • Gênero: Ficção Científica, Drama
  • Direção: Alex Garland

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