A Floresta Sombria, segundo volume da trilogia de Cixin Liu, para além de mera continuação, trata-se de uma verdadeira expansão da narrativa apresentada ao longo de O Problema dos Três Corpos.
Apesar de cada ação possuir relevância, das histórias e desafios de personagens terem peso para a compreensão do leitor, relacionando assim à tudo aquilo que vimos no primeiro livro, o segundo capítulo desta narrativa se desprende das amarras daquele que lhe deu origem, nos apresentando novos personagens, novos desafios e o rumo da humanidade, ao mesmo tempo em que se aproveita de todo o contexto do primeiro livro para elevar o nível da obra que nos é apresentada.
Com toda a frota de Trissolaris seguindo em sua direção, além da terrível presença dos sófons, pequenas partículas lançadas pelo inimigo, capazes de transmitir informações atualizadas para os líderes trissolarianos, da mesma forma com que limita o desenvolvimento do conhecimento humano, a Terra percebe-se em estado de guerra com uma nação que nunca antes viu, cuja história sabe pouquíssimo e, cuja tecnologia é muito mais avançada do que qualquer humano poderia, um dia, vir a imaginar.
Em um contexto onde o inimigo recebe todas as informações em tempo real, sendo capaz de ouvir cada conversa, ler cada documento e observar cada nova tecnologia desenvolvida, grandes organizações mundiais se unem para lançar o Projeto Barreira, uma das poucas esperanças para o futuro da humanidade.

A infinitude do espaço acolheu a nova humanidade sombria em seus braços sombrios.

O objetivo do projeto é selecionar quatro indivíduos dentre a grande quantidade de pessoas que compõem a humanidade. Aos quatro integrantes, será aberta uma quantidade praticamente ilimitada de recursos e, em troca, cada um deve elaborar um plano para o destino da humanidade. O detalhe está no fato de que, com a presença dos sófons, cada barreira deve manter seu plano para si, no íntimo de seus pensamentos, trancado em sua mente, vindo a realizar ações capazes de confundir o inimigo da mesma forma com que segue o plano original.
É assim, com a trajetória de cada barreira, em especial a do querido Lou Ji, além dos direcionamentos e ações tomados pela própria humanidade, que seguiremos pelo segundo capítulo da magnifica obra de Cixin Liu.
A Floresta Sombria lança mão de jornadas de personagem na mesma medida em que destaca os caminhos da humanidade quando posta em um contexto de ameaça alienígena, sem falar de sua possível extinção quando o temível encontro enfim acontecer. Os personagens principais representam pensamentos comuns nos tipos humanos, destacam a falta ou presença de esperança, ressaltam o que nos faz seguir, o que consideramos imperdoável ou digno de mérito. Mas, com uma profundidade inegável e maravilhosa, também observamos a humanidade como um todo, os caminhos que trilha, o orgulho que a cega, a grande dependência em ciência e tecnologia, a criatividade inerente e toda a bondade e maldade que surgem nos mais diversos momentos.
Esta é uma ficção científica digna do gênero que carrega. Em momento algum o autor trata seu leitor como possível ignorante, como alguém incapaz de compreender os conceitos, reflexões e momentos históricos – mesmo que estes estejam conectados a um momento futuro – apresentados durante as três partes do livro.

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A Floresta Sombria exige de seu leitor, porém, o virar de páginas compensa cada momento de reflexão, cada detalhe empregado, cada conceito explorado. Aqui a humanidade se transforma em uma espécie de personagem secundário e, é assustador e ao mesmo tempo encantador, observar como o autor foi sensível e certeiro ao compreender o gênero humano. Da mesma, encontramos um personagem principal carismático e querido, capaz de levar o leitor consigo pelas 470 páginas desta aventura que, expandida para os confins do universo, é ainda mais emocionante do que a observada em O Problema dos Três Corpos.
Por fim, a metáfora não poderia ser mais acertada. A humanidade encontra-se perdida em uma floresta sombria e, no momento em que finalizamos esta obra, descobrimos que existem caçadores extraordinários escondidos, observando nossos passos, possivelmente prontos para atacar.

  • The Dark Forest
  • Autor: Cixin Liu
  • Tradução: Leonardo Alves
  • Ano: 2017
  • Editora: Suma
  • Páginas: 470

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