Eu já tinha ouvido falar sobre esse livro e sobre a autora Rupi Kaur, isso porque ele estava recebendo muitas críticas positivas de blogs que acompanho. Mas só fui definitivamente influenciada a comprá-lo depois desse vídeo da Jout Jout.Aposto que muita gente conheceu o livro desse jeito também. O livro é um compilado de poemas da autora, alguns falam sobre ela mesma, outros sobre mulheres próximas a ela e sua cultura. Ele é separado por etapas, a dor, o amor, a ruptura e a cura. E em cada parte os poemas trazem justamente esses sentimentos. A autora escreve sem pontuação e sem letras maiúsculas. Na versão de capa dura que comprei, existe uma introdução na qual ela explica que esse é um estilo de escrita pouco conhecido.
Em a dor encontramos poemas que descrevem sentimentos e situações verdadeiramente dolorosos. Os poemas têm como tema, abuso sexual, violência física, emocional e outras situações relacionadas a esse sentimento. São palavras sinceras, sonoras, que carregam emoção em cada página. Ler essa parte é difícil e essa deve ser justamente a intenção da autora, já que ser mulher não é fácil. Enfrentar as agressões diárias de cabeça erguida, fingir que não ouve obscenidades enquanto andamos na rua, ter sua voz sucessivamente silenciada, ter regras e mais regras impostas, perseguir um padrão de beleza impossível.
“como é tão fácil pra você
ser gentil com as pessoas ele perguntou
leite e mel pingaram
dos meus lábios quando respondi
porque as pessoas não foram
gentis comigo”

Já na parte intitulada o amor, conhecemos os primeiros contatos de uma mulher com esse sentimento, com sua sexualidade e também poemas sobre amor familiar.

As palavras de Rupi são melodiosas, escorregam das páginas até nossos olhos e fazem com que experimentemos uma sensação boa. São palavras simples, diretas e que nos dão arrepios. Por serem poemas curtos, a leitura se dá em um ritmo rápido, mas eu tentava, a todo instante, parar para refletir um pouco após cada poema, para tentar absorver ao máximo o que ele tinha a oferecer.”ele tocou
meu pensamento
antes de chegar
à minha cintura
meu quadril
ou minha boca
ele não disse que eu era
bonita de primeira
ele disse que eu era
extraordinária
– como ele me toca”
Ruptura fala sobre términos de relacionamentos, sentimentos que acabam e fins que algumas vezes são, na verdade, começos. A autora ficou conhecida pelos poemas que divulgava em suas redes sociais. Na introdução do livro, ela diz que a pessoa que escreveu aqueles poemas está em um passado distante. Porém são temas atemporais e fáceis de se identificar.
A última parte é a cura. Minha visão sobre é exatamente o que o nome diz, poemas para ler quando uma cura é necessária. Seja por um término doloroso de relacionamento, seja em um dia ruim, ou simplesmente quando as coisas não parecem dar certo.
As ilustrações são da própria autora e transparecem muito bem os sentimentos por trás dos poemas. A minha edição é bilíngue e de capa dura, gostei muito do trabalho editorial da Planeta. Só não entendi muito bem porque o título em português é Outros Jeitos de Usar a Boca ao invés de Leite e Mel, como o original. Mas fora isso o livro está impecável. Para todos os efeitos, Outros Jeitos de Usar a Boca é um livro para seres humanos. Não apenas mulheres, mas qualquer um com uma alma.

  • Milk and Honey
  • Autor: Rupi Kaur
  • Tradução: Ana Guadalupe
  • Ano: 2017
  • Editora: Planeta de Livros
  • Páginas: 208
  • Amazon

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