O que acontece quando você é a única pessoa que consegue sair viva de um massacre? Como você se sente sendo a única pessoa poupada de um ato tão horrendo? Quais segredos você irá guardar? Quais memórias você irá esconder de si mesma?
São essas as principais perguntas que Quincy precisa responder depois de ir à uma casa em um bosque com seus amigos. Lá eles conhecem um homem que mata a todos, poupando apenas a vida dela, que sai com alguns ferimentos físicos, mas nada que machuque mais que o trauma causado em sua mente, este sim é o único resquício que resta de dor nela.
Por ter sido a única sobrevivente do massacre no Chalé Pine ela acaba conhecendo mais duas garotas que passaram por situações parecidas, Sam e Lisa, que formam um grupo de garotas com traumas iguais, que se ajudam para superar as lembranças e as dores que cada uma esconde, porém o tempo as afasta, Quincy não se sente muito a vontade de liberar todos seus monstros interiores para estas estranhas. Ela não se sente parte daquele grupo, as vezes acha que é culpada por ter sobrevivido àquilo tudo.

Vou dizer uma coisa sobre detalhes – eles também podem ser uma distorção. Adicione uma quantidade muito grande e eles obscurecem a verdade brutal sobre uma situação.

Dez anos depois daquela noite pavorosa, tudo muda quando Quincy recebe a notícia de que Lisa cometeu suicídio, ela não aguentou toda a pressão de ser uma das garotas remanescentes e tirou a própria vida e quando Sam bate à porta dela poucos dias depois do ocorrido, tudo só piora. Sam retorna a vida de Quincy para tentar provoca-la e deixa-la mais forte, elas começam a se envolver em coisas pesadas, a se arriscar à noite pelas ruas atrás de homens que queiram machucar mulheres, com o intuito de não guardar dentro de si toda aquela raiva que sentiam.
As Sobreviventes é um livro bem construído. E a forma que o autor encontrou para criar isso é utilizando-se de dois tipos de narrativa. Narrado pela própria Quincy na maioria das partes, a narrativa muda de angulo quando a personagem precisa relembrar o que aconteceu no Chalé Pine. Nestes trechos a narração passa a ser em terceira pessoa, como se alguém contasse a ela o que ela deveria lembrar.
A obra não fala apenas sobre a sobrevivência, ela traz pensamentos sobre a vida, sobre a maneira como você vive e o reflexo que isso acaba tendo em suas ações. Em alguns momentos Quincy ela se culpa por estar viva, acha que seria melhor que tivesse morrido junto com os amigos, é nítido o quanto ser a única sobrevivente daquela situação a incomoda. Mas será que o motivo do incomodo é realmente esse?
O livro traz alguns mistérios, pessoas que realmente não são aquilo que parecem ser, que tem intenções distintas das que transparecem. Mas na minha opinião, em alguns momentos isso é forçado e sem muito nexo, como no final, onde você descobre a verdadeira história e ela simplesmente não faz o menor sentido. Algumas perguntas criadas durante o livro ficam sem explicação além de serem pouco críveis. O escritor Riley Sager até tenta no final detalhar como as coisas aconteceram, o que quase fecha bem o livro, mas algumas respostas permanecem vagas, outras situações criadas são simplesmente subtraídas, além de não fazerem o menor sentido frente a tudo que já fora apresentado no texto e estabelecido pelo enredo.
De forma geral, a leitura é rápida, fluída. É um thriller que realmente te pega de tão interessante, além de ser uma visão sobre a sobrevivência pouco explorada em histórias do gênero, mas o final realmente deixou a desejar para mim. Com disse, o autor poderia ter escolhido outra forma de acabar o livro ou ter se dedicado mais para estender mais a história dando mais sentido a ela.
As Sobreviventes foi um livro que me deixou muito ansioso para lê-lo, por muitos motivos adiei a leitura por muito tempo e acabou que ela foi um pouco decepcionante, eu esperava mais, queria que ele fosse mais do que foi. Apesar de esse ser um livro apenas bom e não ter atendido à toda aquela vontade que eu estava de ler, não fico com uma expectativa grande para o segundo livro do autor, que deve sair ainda este ano nos Estados Unidos. O grande ponto do livro é questionar o leitor pelo o que faríamos se estivéssemos no lugar destas sobreviventes. Como você se sentiria se fosse a sobrevivente de um massacre que matou todos seus melhores amigos em apenas um fim de semana? É na pele de alguém que sofreu com isso que você será colocado e terá que viver intensamente toda a dor de ter sido privilegiado com a vida enquanto quem você gostava não teve a mesma sorte. Esta e tantas outras questões pairam sob Quincy e cabe a você encontrar a chave para todas as respostas.

  • Final Girls
  • Autor: Riley Sager
  • Tradução: Marcelo Hauck
  • Ano: 2017
  • Editora: Gutenberg
  • Páginas: 336
  • Amazon

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