Helena Conway tinha uma vida okay, mas sua rotina comum muda drasticamente quando ela sonha com uma outra realidade. Neste mundo perfeito, ela é bem-sucedida, tem filhos lindos, uma grande casa e o marido perfeito, porém, existe apenas um problema. O seu marido dos sonhos é Kit Isley, namorado de sua melhor amiga.

Bastou um sonho perturbador para Helena começar a ver tudo diferente a sua volta. Ela começa a perceber todos de outra forma e a questionar seus próprios sentimentos. Começa a prestar atenção mais em Kit, perceber melhor o modo como sua amiga Della a trata e a que pé anda o seu relacionamento com Neil, seu então namorado. Aos poucos, Helena percebe que tem todos os motivos para estar apaixonada e questionando sua vida. Nesta história, mais uma vez a razão e a emoção irão duelar, mas ela não é o tipo de personagem que tomará as decisões que você espera, muito longe disso.

Esta não é uma história altruísta. E durante a leitura, percebi que tão pouco pode ser julgada egocêntrica demais. Aqui temos uma heroína com noção dos seus atos e as consequências que virão depois. Helena sabe o que seria ou não correto, mas a grande tarefa desta história para você, como leitor, é conseguir decidir se Helena deve ou não abrir mão dos seus sentimentos em prol da felicidade dos outros. São estes os questionamentos que a Tarryn vai trazer para Fuck Love mesmo que de um modo tão insano.

Pensamos que podemos controlar as nossas vidas, mas em vez disso somos controlados por ela. E tudo o que afeta as nossas vidas nos controla. As pessoas têm menos poder do que pensam. Nós só podemos controlar nossas reações.

Se você acha que está será mais uma história clichê, você está errado. Aqui não temos só um amor proibido, nós teremos também camadas e mais camadas desses personagens sendo descobertas. Iremos descobrir o que está por trás de cada atitude, de cada gesto e decisão. E talvez seja isso que tenha me viciado tanto na leitura de Fuck Love, todos os personagens são perturbados demais. Helena por exemplo tinha tudo para ser a grande vilã da história, mas é preciso entender, antes que você embarque nesta leitura que existem pessoas nesse mundo que pensam e agem exatamente como estes personagens, de modo questionável e impulsivo.

As diferentes intensidades de amor também vão estar estampados em cada página durante esta leitura. Gostei que a autora trouxe um tipo de amor quase doentio, possessivo e de certa forma, até destruidor. O tipo de amor que te tira tudo, que vira sua cabeça ao mesmo tempo que te completa. Não que este seja o amor “certo” e nem que eu veja isto de forma positiva na vida das pessoas, mas eu gostei de a autora ter trabalhado em cima desta intensidade. E não, não estamos falando de relacionamentos abusivos, longe disso.
Não vou dizer que Helena toma as mais sábias decisões, mas é normal e até necessário que nós questionemos sobre o que faríamos no lugar dela. Kit também não é aquele príncipe do cavalo branco. Na real, ele é um personagem bem normal, que podemos facilmente associa-lo a qualquer pessoa próxima da gente. Meu único incomodo em relação a ele é a sua fraqueza e conformismo. Sua covardia diante todas as situações que se desenrolam no livro obriga Helena a tomar tudo para si. Fica nas costas dela todos os sacrifícios e as decisões mais difíceis.
Sem falar muito sobre a trama, gostei que Tarryn Fisher também fala sobre amizades tóxicas, daquelas que uma parte sempre utiliza a outra em prol de si mesma, como um suporte para tudo. Isso pode estar disfarçado até nas melhores amizades, que aos poucos vai sugando suas energias sem você ao menos perceber.
A autora Tarryn Fisher é como uma amiga contando esta história. A narrativa da autora é despretensiosa, direta ao ponto e bastante intensa também em alguns aspectos. Eu colecionei diversos quotes durante a leitura e vários deles são como surpreendentes tapas na cara.
Existem livros que passam a mesma mensagem no fim das contas, porém alguns autores escolhem amenizar mais suas histórias, com personagens que percorrem sempre os caminhos mais fáceis. Mas Tarryn Fisher seguiu outro rumo. Aqui temos personagens imperfeitos, vulneráveis e perturbados em situações derradeiras e em um emaranhado de sentimentos intensos demais. Todo este cenário é capaz de nos viciar por cada página lida. Eu ri, sofri, chorei, me irritei e também achei várias coisas incoerentes, mas nada que tirasse a verdade que encontrei durante a leitura.
Fuck Love vai falar sobre relacionamentos conturbados e obsessivos, mas também é uma história sobre libertação, autodescobrimento e sobre amadurecimento. Mas se você procura um livro de romance, um new adult comum e despretensioso, pode se surpreender com este aqui, Fuck Love é tudo menos isso. E talvez você termine a leitura assim como eu, questionando a sanidade de Helena, torcendo por ela, se enraivecendo com ela, mas completamente viciada por sua trajetória. Não tem como escapar disso no fim.

  • F*ck Love
  • Autor: Tarryn Fisher
  • Tradução: Fabio Maximiliano
  • Ano: 2017
  • Editora: Faro Editorial
  • Páginas: 288
  • Amazon

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