É sabido que o sucesso de H. P. Lovecraft se deu apenas depois de sua morte. Depois do belíssimo trabalho realizado por seus melhores amigos, que se emprenharam em compartilhar suas obras, não demorou muito para que sua mitologia recebesse um nome. Alguns de seus contos, que recebem como referência o panteão de seres fantásticos, ganharam o nome de Mitos de Cthulhu. Quem protagoniza a maioria desses textos são os Grandes Antigos, mas afinal, quem seriam eles?
Conforme Os Mitos de Cthulhu, a Terra, muito antes de ser habitada por nós humanos, foi morada de criaturas míticas e foram através de seus poderes que se iniciou a vida no planeta e também no universo. Os humanos teriam sido criados unicamente para servidão, e aqui, Lovecraft coloca a baixo toda esta ideia de que nós humanos seriamos o centro do universo como únicas criaturas pensantes. No universo lovecraftiano, nós, humanos somos insignificantes diante a presença dos Grandes Antigos.
Depois de ter minhas primeiras experiências com o autor, de conhecer alguns contos não tão conhecidos e até explorar o universo do Ciclo dos Sonhos, finalmente fui apresentada aos contos, que deram maior notoriedade a Lovecraft, ao panteão de divindades que assombra e impressiona os fãs mais fervorosos do autor.

Eles eram os Grandes Antigos que desceram das estrelas quando a Terra era jovem – os seres cuja substância fora moldada por uma evolução alienígena e que possuíam poderes que jamais foram gerados por este planeta.

É através de Dagon, primeiro conto da edição, que teremos o nosso primeiro contato com uma das criaturas que compõem Os Mitos. Neste conto, acompanharemos um navegador que narra suas descobertas horrendas vindas de uma ilha recém surgida em alto mar. Este conto em específico apesar de apresentar uma grande figura do universo sombrio de Lovecraft é também um dos menores, que abre uma porta de boas-vindas ao leitor e reúne todos os elementos que tornariam Lovecraft a referência que é hoje.
Após conheceremos mais seis contos e duas novelas do autor, que são A Cidade Sem Nome, Herbert West: Reanimator, O Depoimento de Randolph Carter, O Cão de Caça, O Chamado de Cthulhu, Nas Montanhas da Loucura, A Sombra Vinda do Tempo e a História do Necronomicon, que não chega a ser um conto, mas que narra a cronologia da existência e paradeiro de um misterioso livro inserido em muitas história do autor.
Seria impossível detalhar cada um em resenha, mas alguns em especial merecem ser comentados, tanto por minha experiência de leitura, mas também por suas complexidades e surpresas na narrativa. Dentre todos os contos, houve um em especial que me proporcionou total temor, O Depoimento de Randolph Carter prende o leitor do início ao fim. Nele teremos este personagem que é identificado como álter ego de Lovecraft, que eu já havia tido contato através dos contos pertencentes ao Ciclo dos Sonhos. Esta história em específico é um verdadeiro conto de horror.
Aqui também fui apresentada ao O Chamado de Cthulhu. A entidade cósmica, provavelmente, mais famosa do autor, é também um dos líderes dos Grandes Antigos. A figura não se limita a aparecer apenas em seu conto, conforme vamos adentrando e consumindo mais das obras de Lovecraft, iremos nos deparar diversas vezes com a criatura, assim como as várias menções que seus personagens fazem ao Necronomicon, livro que ao ser lido pode provocar a loucura e até a morte.
Em Nas Montanhas da Loucura pude perceber todas as características de escrita do autor. A novela, considerada por muitos como um dos melhores trabalhos do autor, também sofre alguns julgamentos por focar em detalhes muitos científicos, o que pode cansar o leitor. Nesta história acompanharemos uma expedição a Antártica liderada pelo Dr. William Dyer. Durante a leitura, Dyer irá narrar ao leitor diversos eventos assustadores a fim de evitar que novas tripulações viagem para aquele lugar. Esta história serviu como inspiração para diversas adaptações cinematográficas, dentre elas Prometheus que foca muito na teoria da vinda de civilizações antes da nossa. Devido, unicamente, a narrativa esta história não me conquistou completamente, mas eu compreendo a grandiosidade que H. P. Lovecraft criou em 1931 e o enredo não deixa de ser fascinante por causa disso.
Por fim, destaco A Sombra Vinda do Tempo, um conto mais longo e muito intrigante. A história fala sobre projeção de consciência e viagem no tempo. Neste em especial o autor consegue amarrar ainda mais sua mitologia, citando várias outras de suas criaturas. Desta forma, mesmo escrevendo contos separados, a cada nova história, Lovecraft expandia e enriquecia seu universo.
Após esta leitura é fácil compreender como muito de Lovecraft ainda é utilizado na cultura pop até hoje. Servindo como inspiração para novos livros, jogo, filmes e séries. Tendo como pontapé inicial seus próprios pesadelos, o autor fundiu a ficção científica, o fantástico e o horror em sua obra, com uma narrativa gráfica e detalhista, mas completamente inteligente e impressionante. É notável sua habilidade em criar um cenário de horror, aguçar o medo trabalhando uma atmosfera sombria, tensa e opressora, direcionando o leitor para o grande clímax. Nos textos de apoio que encontramos nesta mesma edição, teremos contato com suas origens e suas influências, dentre eles Dunsany, Edgar Allan Poe, Chambers e tantos outros amigos e ídolos.
A Darkside Books disponibilizou duas versões desta edição. Ambas com o mesmo conteúdo, mas com trabalhos gráficos completamente diferentes. Esta é a Miskatonic, mas você também poderá encontrar a Cosmic, toda trabalhada em neon e com um tom mais onírico. Basta escolher a versão que mais se enquadra e boa leitura, que sua experiência ao lado de H. P. Lovecraft seja recheada de descobertas, mas tenha em mente que este pode ser um caminho sem volta.

  • H. P. Lovecraft - Contos: Volume II
  • Autor: H. P. Lovecraft
  • Tradução: Ramon Mapa
  • Ano: 2017
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 416
  • Amazon

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