A detetive Erika Foster está de volta, no terceiro livro da sua saga, iniciada por A Garota no Gelo e seguida por Uma Sombra na Escuridão, ela terá que desvendar um crime ocorrido há mais de 20 anos e que somente agora, durante uma outra investigação, o corpo da vítima fora encontrado. Uma garota de apenas sete anos chamada Jessica Foster.
O livro inicia já na cena em que o corpo será encontrado, sem perder tempo com coisas menos importantes sobre a evolução da vida da personagem principal, o que deixa a trama bem mais direta, fazendo o leitor ficar preso a ela logo nos primeiros instantes. Para quem acompanha a série, desde o primeiro livro sabe toda a tônica de machismo e todas as batalhas que a detetive precisa enfrentar depois de ter presenciado a morte do marido, que também era policial. O mesmo morreu em uma ação elaborada por ela, ainda não contada de maneira clara nos livros.
Erika evolui junto com seus livros e acompanhar essa evolução é maravilhoso, isso fica claro tanto na parte profissional como na parte pessoal também, a detetive, antes questionada, agora passa a ser a chefe principal de um caso desafiador. A mulher que virara reclusa depois da morte do marido, agora passa a se interessar por alguém, o seu psicológico, antes, frágil e suas inseguranças, passam a sumir e aos poucos ela vai se sentindo cada vez mais forte, ganhando um empoderamento extremamente cativante.

Não sou uma policial de carreira. Me dedico totalmente aos meus casos. Uma garota vulnerável de sete anos desapareceu e alguém a jogou como um saco de lixo naquela pedreira. Quero encontrar quem fez isso. Quero justiça para Jessica. Quero que a família dela possa seguir em frente e vivenciar o luto.

Sob Águas Escuras tem uma linguagem muita boa, não é cansativo de ler e cada vez que você o pega fica com vontade de não soltar mais, já que a leitura é muito bem desenvolvida. Sinto falta nos livros do autor apenas de mais ação, ele foca muito em investigações, na parte da inteligência policial e psicológica. Mesmo que em algumas partes até exista um pouco de ação, mortes e sexo, ele não as descreve da maneira que eu gostaria, passando ao leitor apenas o resultado do que aconteceu.
Um exemplo disso é quando um personagem é assassinado. Ele não descreve a cena do assassino chegando com a arma e indo em direção à sua vítima, se detém a esmiuçar como o corpo e o local estavam no momento da chegada da polícia. A mesma coisa acontece em cenas de sexo, quando dois personagens acabam na cama, ele deixa um hiato de tempo entre as pessoas se encontrando e acordando abraçadas no outro dia.
Acho que na parte sexual do caso, a maneira como ele escreve me agrada, ele não precisa erotizar o livro para descrever o sentimento que passa na cabeça de cada personagem. Da maneira como ele se expressa nas páginas, fica claro o que aquele ato significou para cada pessoa, porém, na parte de ação dos casos isso me desagrada, já que gosto de livros com bastante ação e detalhes minuciosos de cada tiro disparado, mas enfim isso é apenas uma preferência minha.
Os capítulos são em sua maioria narrando as ações da detetive e da polícia na investigação principal, porém em alguns existem a narração de um homem misterioso, que visivelmente quer atrapalhar a empreitada de Foster. Não fica claro quem ele seria, nem o motivo de estar fazendo aquilo, somente no final da trama. O que é uma jogada com o leitor muito legal. A estruturação da obra é muito boa, em nenhum momento a investigação descobre algo por acaso ou sem explicação, todos os atos são plausíveis e com uma cronologia muito correta, nada no livro é questionável e o final dele é muito surpreendente.
A Detetive Foster já possui mais três volumes lançados sobre suas aventuras. A cronologia da obra não é tão importante, não existe nenhuma preparação para o volume seguinte no final dos livros, nem informações indispensáveis para a leitura dos seguintes, porém é nítido o crescimento de Erika como personagem, então se você deseja acompanhar bem o ganho de força de uma mulher em meio ao preconceito familiar, da sociedade e profissional, seria melhor ler na cronologia correta.
Torço demais para que os livros seguintes sejam lançados logo por aqui, Robert é um grande escritor, no estilo de Harlan Coben, ele torna uma personagem muito querida e cativa o leitor de maneira absurda. Espero que não tenhamos que aguardar durante anos para ver os demais volumes em nossas prateleiras.
Robert Bryndza ficou famoso com a série de livros de Coco Pinchard, que apesar de ser mais antigo que os livros da Detetive Foster ainda não foram lançado por aqui. Já bem-sucedido nos Estados Unidos, agora ele já conseguiu colocar seus livros entre os mais lidos do New York Times e começa a ter seus livros traduzidos para o Brasil pelo Grupo Autêntica.
O autor se dispôs a criar uma saga policial e pelo seu estilo de escrita, que deixa mais espaço para a psique humana, conseguiu mais que isso, ele criou uma sequência de nítida vitória feminina perante a sociedade, falando de tudo com um mistério muito interessante, com cenas impactantes em uma trama que vai prender você do início ao fim. Venha conferir o crescimento de uma mulher em todos os sentidos, Erika Foster, hoje, é o melhor exemplo de personagem feminina em livros de suspense e mistério, você não pode deixar de conhece-la.

  • Dark Water - Detective Erika Foster #3
  • Autor: Robert Bryndza
  • Tradução: Marcelo Hauck
  • Ano: 2018
  • Editora: Gutenberg
  • Páginas: 336
  • Amazon

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