Faz um tempinho que queria trazer esta crítica ao blog, mas não somente por ser uma “crítica” sobre o filme, mas principalmente pela trama relativamente simples que representa. Basicamente, entre as camadas de o O Preço do Amanhã, falaremos sobre a morte, sobre quem merece morrer e porque a imortalidade é algo tão distante para nós, mesmo num realidade da ficção científica.
O Preço do Amanhã é escrito e dirigido pelo renomado Andrew Niccol, idealizador de longas metragens originais do gênero de ficção científica como Gattaca (1997) e S1mOne (2002). O neozelandês também escreveu o filme de sucesso O Show de Truman e dirigiu O Terminal e O Senhor das Armas.
Na trama estrelada por Justin Timberlake (A Rede Social) e Amanda Seyfried (Mamma Mia!), todos deixam de envelhecer aos 25 anos. Passada essa idade, ficam com a mesma aparência. Definido em um futuro distante no qual os cenários e figurinos são relativamente contemporâneos, o filme se passa em uma cidade fictícia que se assemelha a Los Angeles (local onde foi filmado).
O eixo do roteiro do filme é arquitetado de maneira que o tempo é a moeda universal e substitui o dinheiro tradicional. A partir disso, toda trama se desenvolve e várias questões sociais e até mesmo filosóficas são apresentadas no enredo. Quando os 25 anos são completados, um relógio digital — presente no antebraço de todos os cidadãos — começa a correr e isso torna o futuro de cada pessoa dependente de sua determinada classe social: os mais ricos vivem quase eternamente o os mais humildes precisam batalhar para prolongarem seus respectivos futuros.
O roteiro de Niccol é recheado de trocadilhos e faz uma crítica com relação à falta de tempo das pessoas no dia a dia. Em um dos diálogos presentes na trama fala o seguinte: “— Por que temos fuso horários? Por que os impostos e preços sobem dia após dia no gueto? O custo de vida sobe para que as pessoas continuem morrendo. Assim, alguns tem milhões de anos e a maioria tem apenas um dia. Mas a verdade é que existe mais do que o suficiente”. A partir dessa ideia, que a grande ação do filme se desenrola.
O centro do filme gira em torno de Will Salas (Timberlake), que mora em Dayton, uma das várias zonas diferentes que constituem a nova ordem e política geográfica. Na história, Salas vive com a mãe, Rachel (Olivia Wilde), em uma área em que a maioria das pessoas não têm muito tempo disponível e precisam de mais a qualquer custo para prolongarem suas vidas. É quando a “sorte” lhe sorri que ele passa a enxergar e questionar o sistema com outros olhos.
O enredo também envolve Sylvia Weis (Seyfried), que ao decorrer da trama se junta com o personagem interpretado por Timberlake. Ela é filha do homem mais rico vivo, Philippe Weis (Vincent Kartheiser), que tem incontáveis séculos no seu relógio e é, essencialmente, imortal. É interessante destacar o elenco, que deve, para convencer o publico, ser jovem. Não podemos esquecer que mesmo as pessoas ricas e centenárias, aparentemente têm 25 anos.

Em uma de suas entrevistas, Niccol conta que se nós, como sociedade, pudéssemos desligar o gene do envelhecimento, nós o faríamos. E isso é algo que sempre me incomodou como pessoa, há alguns anos eu tinha medo de envelhecer, hoje não mais com tanto impacto na minha vida, mas isso já foi uma grande questão para mim. Hoje em dia, as pessoas vão a tais extremos para permanecer jovens, seja por procedimentos estéticos ou cirúrgicos, é uma realidade que nós faríamos isso em um piscar de olhos.

O início do plano de Will Salas se desenrola em uma das cenas mais importantes e divertidas do filme, que é quando ele e Philippe Weis decidem parte de seus respectivos futuros em uma rápida disputa de poker. A cena de destaque é ambientada em um cassino de luxo e remete a alguns grandes clássicos do cinema. A ironia da cena está em você ganhar a eternidade em um jogo, como um golpe de sorte, que muda não somente a vida de Salas, mas também daqueles que ele pretende ajudar. Tempo de vida nesta sociedade, ao mesmo tempo em que significa estabilidade, também pode significar um perigo iminente, principalmente para quem vive nas regiões mais pobres.
Eu acho que toda esta tensão sobre tempo de vida, de estar prestes a morrer e o modo com o protagonista “brinca” com sua vida, foi o grande causador da minha fixação por este filme. Sei que sem dúvidas esta não é a melhor atuação de Justin, mas foi este filme que despertou o meu interesse em sua carreira como ator.
O diretor de fotografia do longa, Roger Deakins, utiliza diferentes níveis de cores para cada momento do filme. Nas áreas economicamente menos favorecidas, a paleta apresenta um tom mais escuro e quente. Do outro lado, na zona rica de New Greenwich, são utilizadas cores mais frias, transmitindo ao telespectador uma clara e nítida sensação de distância entre esses pólos. Deakins também vai muito bem ao escolher ótimos cenários de Los Angeles para o filme, mesmo com uma ótica mais futurística.
O Preço do Amanhã tem uma ideia intrigante sobre o futuro, apresenta uma boa fotografia, é relativamente bem conduzido e conta com algumas boas atuações. No entanto, a trama se perde em alguns momentos e deixa de ser tão interessante após os primeiros 60 minutos assistidos. Além do mais, a ideia de Niccol para o filme em questão é vigorosamente literária, mas não muito cinematográfica.

 

  • In Time
  • Lançamento: 2011
  • Com: Justin Timberlake, Amanda Seyfried
  • Gênero: Ficção Científica, Ação
  • Direção: Andrew Niccol

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