Florence Green é uma viúva de meia idade, que vive no interior da Inglaterra, na pequena cidade de Hardborough. Munida de muita determinação e coragem, Florence decide arrumar uma ocupação para sua vida e se arriscar em um negócio próprio, uma livraria. Com muito sufoco, um empréstimo no banco lhe é concedido e ela compra uma velha casa na cidade.
Apesar da umidade e dos eventos sobrenaturais que ameaçam a Old House, Florence transforma a casa num lar e vê sua livraria criar vida. Entretanto, o que parecia ser um grande negócio, se mostra um desafio, frente a resistência dos moradores. Em especial, a Sra. Gamart, uma socialite filantropa, tenta convencê-la a todo custo, a fechar a livraria, com a desculpa de que planeja para o local um centro de artes.
A Livraria possuindo uma narrativa bem simples e direta, como mencionado por David Nicholls, durante a apresentação do livro, vai debater questões como dinheiro e status social. Entretanto, vai além disso, sendo considerado um grande romance político, em que temos, de um lado, Florence Green defendendo algo mais liberal, e de outro, Sra. Gamart e toda a elite, com um autoritarismo absoluto.

Um bom livro é a preciosa força vital de um espírito superior, embalsamado e entesourado para que alcance vida além da vida; como tal, deve indubitavelmente ser considerado um produto necessário.

A narrativa, portanto, vai se dar nessa disputa, em que vamos ver, Florence com a ajuda de algumas pessoas, tentando manter a livraria aberta, ao mesmo tempo em que a Sra. Gamart irá fazer o impossível para vê-la fechada. O que não é, infelizmente, nada chocante, é o fato de que justamente as pessoas mais “instruídas” e mais “cultas” da cidade, são aquelas que estão tentando ver a livraria fechada.
Há, é claro, o que parece ser um evidente medo de que a população tenha acesso aos livros e a cultura. Presenciamos a todo instante, uma defesa feroz, mas extremamente sutil em suas passagens, de que a cultura deve se limitar a classe socialmente mais elevada, a socialite. Inclusive, os próprios habitantes da cidade, se diminuem nesses termos.
Outro ponto chave, levantado por Penelope Fitzgerald, autora do livro, é a questão da meritocracia. Como mencionado no livro, sucesso não é uma questão de inteligência ou força de vontade. Infelizmente, vencer na vida ou poder correr atrás de algo melhor, no ano de 1978, quando foi escrito o livro, e ainda hoje, são questões que estão inteiramente ligadas a dinheiro, status social e as oportunidades.
É um bom livro; portanto, a senhora deve tentar vendê-lo aos habitantes de Hardborough. Não o entenderão, mas é preferível assim. Entender torna a mente preguiçosa.
Apesar do final triste, que devo confessar, cortou meu coração, durante a narrativa vamos ter o desenrolar da amizade entre Florence e Christine Gipping, sua ajudante. E essa amizade, além de se mostrar algo lindo e verdadeiro, também irá proporcionar a ambas as personagens, um amadurecimento mútuo. Enquanto Florence se torna uma pessoa mais animada, Christine se sensibiliza.
A autora possui, ainda, um humor social mordaz em sua narrativa, o que torna o livro ainda mais interessante. Sem mencionar que, em meio a essa cidadezinha estranha, que é Hardborough, coisas estranhas e muito engraçadas também acontecem. São eventos tão fantasiosos e inimagináveis, que torna a narrativa mais divertida.
O romance político de Fitzgerald é uma leitura agradável e super curtinha, sendo possível ser feita em um dia. Mas, a história possui um caráter político muito importante, que, portanto, deve ser levado em consideração e debatido. Não se trata apenas de uma história comum, com personagens comuns.
Para quem se interessar, A Livraria já foi adaptado para o cinema e teve seu lançamento aqui no Brasil, em março deste ano. Penelope Fitzgerald, escritora do livro, foi uma romancista, poeta, ensaísta e biógrafa da Inglaterra do século XX. Ela foi premiada com o Booker Prize em 1978 com o romance A Livraria. A autora possui outras obras como At Freddie’s, The Golden Child e The Blue Flower, todavia, apenas A Livraria e A Flor Azul foram traduzidos para o português.

  • The Bookshop
  • Autor: Penelope Fitzgerald
  • Tradução: Sonia Coutinho
  • Ano: 2018
  • Editora: Bertrand Brasil
  • Páginas: 160
  • Amazon

rela
ciona
dos