A Parte Que Falta de Shel Silverstein tem uma história e traços bem simples. Publicado originalmente em 1976, o Grupo Companhia das Letras trouxe através do selo Companhia das Letrinhas esse ano para o Brasil. Mas se engana quem pensa que esse livro foi feito só para crianças. Apesar de ser publicado por um selo infantil, ele é recomendado para todas as idades e para todos que se sentem perdidos em sua jornada através da vida.

Acompanhamos a incessante busca de um ser, pela parte que lhe falta. Ao longo do caminho, ele encontra diversas barreiras, um caminho cheio de altos e baixos e tenta encaixar diferentes formas nessa parte que lhe falta, sem perder a chance de conhecer o universo ao seu redor, as pequenas coisas que lhe deixam feliz. Porém, ao longo de seu caminho, nenhuma parte que ele encontra parece encaixar direito. Pelo menos até o dia que ele encontra a parte que lhe parece ser perfeita.
Quem olha sem atenção pode achar que se trata apenas de uma historinha sobre uma bolinha rolando por aí. Na realidade, é uma fábula moderna que questiona o sentimento de realização. Apesar de muitas pessoas apenas associarem a realização no sentido amoroso – a velha frase “em busca da outra metade da laranja” -, eu vejo esse livro para algo que vai muito além da dependência amorosa.

Não sou a parte que te falta. Não sou parte de ninguém. Sou parte completa.

A Parte Que Falta leva a questionar não apenas essa busca em relação ao outro que possa nos completar, mas a tudo em nossas vidas. Nós vivemos constantemente tentando preencher os vazios com algo que está para além de nós, sempre nos colocando diante da vida não apenas como incompletos, mas imperfeitos. E mais que isso, sempre buscando essa perfeição em algo externo a nós.
A grande crítica, ao meu ver, dessa busca pelo ideal do “ser completo” é a sua característica utópica. Tanto no sentido  de que supostamente vamos nos sentir felizes, completos e plenos ao conquistar aquilo que nos falta, como o fato de que essa busca nunca termina. E será justamente nessa jornada pela realização que mais aprendemos e podemos nos sentir “completos” diante das nossas “incompletudes” (se é que isso realmente faz sentido).
Shel Silverstein tem um talento nato para ilustrar e narrar histórias de forma simples, nos fazendo pensar sobre questões muito complexas de forma sútil. Ainda utilizando os personagens dessa história, em 1981, ele lançou um livro com o círculo e a “parte” falando sobre diferenças e compaixão. Esse livro também foi publicado pela Cia. das Letrinhas esse ano com o título A Parte Que Falta Encontra O grande O.
Vale também destacar o trabalho editorial da Cia das Letrinhas. O livro é em capa dura e o seu acabamento faz dele o tipo de livro que dá gosto de ter na estante, além de ser um ótimo presente, pois ele consegue proporcionar significados diferentes para diferentes pessoas, tudo depende do momento que você concluir a leitura. Pois afinal, em nossa jornada é normal se sentir incompleto as vezes e tudo bem.

  • The Missing Piece
  • Autor: Shel Silverstein
  • Tradução: Alípio Correa de Franca Neto
  • Ano: 2018
  • Editora: Companhia das Letrinhas
  • Páginas: 112
  • Amazon

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