Aos vinte e dois anos, Olivia leva uma vida de novela. Linda, loira e muito rica, é a herdeira de uma fortuna e sempre se viu cercada por famílias importantes, cheia de privilégios e benefícios que só o dinheiro pode proporcionar. Perfeita aos olhos dos outros e muito querida por todos. Porém, existe algo a atormentando, tirando a sua paz e despertando em seu íntimo a necessidade de fugir desse meio ao qual sempre viveu e é justamente por isso que ela larga a faculdade, e aceita um emprego “desafiador”.
Irá se mudar para uma cidade pequena e se dedicará aos cuidados de um ex-soldado que recém retornou da guerra. Tal feito a coloca ainda mais em evidência, as pessoas começam a enxergá-la como um ser altruísta, quando na verdade suas motivações são egoístas, Olivia está buscando por redenção.
Paul só quer paz, viver como um recluso, longe de tudo e todos. O sentimento que predomina em seu coração é a raiva. Raiva do mundo, do seu pai, de si mesmo, raiva de tudo que presenciou e viveu na guerra, raiva de suas perdas, de sua impotência, das sequelas, feridas físicas e emocionais que sempre irá carregar. Porém, seu pai parece não ser capaz de compreender tudo que ele passou, sua necessidade de isolamento e insiste em mandar um cuidador atrás do outro, como se milagrosamente tudo fosse mudar e impiedosamente Paul os afastas, uma briga que parece longe do fim, até que… Olivia chega.

É que, lá no fundo, sei que a razão pela qual vim pra cá foi a noção inocente de que ajudar Paul acabaria me ajudando. Que, de alguma forma, eu poderia consertar o que estivesse quebrado e podre dentro de mim.

É sempre muito difícil se colocar deste lado, quero dizer o lado em que resenhamos, ou melhor, compartilhamos a nossa experiencia de leitura com vocês, passar para o papel aquilo que sentimos, pois junto com isso, vem muito da criação de quem leu a obra. Por que estou falando isso? Porque acredito que o meio em que vivemos, as pessoas com as quais convivemos, os princípios que nos foram passados e tudo mais, influencia na maneira como enxergamos/julgamos os personagens e suas histórias. Por isso a experiência de leitura é algo tão particular. Até parece que estou me justificando, mas na verdade, quero apenas te incitar a refletir e questionar mais da obra. Porque sei que gostei muito da leitura, ela é rápida, fluida, para ser lida em uma única sentada, mas em contrapartida, me deixou insatisfeita e com sentimentos conflitantes e quanto mais eu tento decifrar o que senti, mais confusa em relação ao livro eu fico.
Olivia é o estereótipo de menina perfeita, mas algo em seu conto de fadas moderno aconteceu e está cobrando um preço muito caro, duas pessoas que ela tanto ama foram machucadas e inclusive ela mesma se feriu no processo. A culpa a corrói, tudo que ela quer é deixar para trás, se afastar um pouco e tentar se realinhar, se redescobrir e encontrar uma maneira de seguir em frente. Mas o que senti na maior parte do tempo, foi que estava diante de uma menina mimada que sempre conseguiu o sim, que sempre teve tudo muito facilmente, que jamais precisou batalhar por algo de verdade e com motivações muito rasas. Sério, quando descobrir o porquê de toda a sua mudança, fiquei decepcionada, porque todo seu desespero e culpa pra mim, não condiziam.

Devagar, a solidão sem fim está me sufocando. E eu deixo.

Do outro lado temos Paul, um jovem marcado pelos horrores da guerra, amargurado, infeliz e que carrega cicatrizes no corpo e na alma. Pra mim, falar deste personagem é muito difícil porque não tem como mensuramos a dor, o quanto enfrentar aquilo pode afetar a personalidade de alguém. E apesar de ter isso em mente, alguns de seus comportamentos me tiraram totalmente do sério. E apesar de suas motivações serem muito melhores e plausíveis do que as de Olivia, a autora pecou em deixar tudo superficial. Ela poderia ter aproveitado esse gancho e se aprofundado tornando o enredo muito mais rico e convincente.
Eu entendo que o livro tem como inspiração A Bela e a Fera, mas ao tentar criar uma recontagem moderna, a autora cometeu alguns deslizes. Na caracterização, na tentativa de tornar o Paul a fera, ela cometeu alguns excessos, que beiraram a rudeza, a crueldade em situações desnecessárias. Já Olivia, do nada passou a ser a que aceita tudo, porque está buscando redenção de algo terrível, por carregar essa culpa enorme, ela adota uma postura mais submissa e passiva, como se ela tivesse que ser a solucionadora de todos os problemas, a madura. Enfim, mais me incomodou do que agradou.
É importante ressaltar que amei várias cenas, muitos dos diálogos e das discussões propostas. Em Pedaços, fala principalmente sobre perdão, cura, recomeços e o poder transformador da confiança e do amor. É uma leitura fofinha, gostosa e que tem aquela pitada de erotismo, para tornar tudo ainda melhor. Apesar de todos os apontamentos que deixei aqui, preciso dizer que recomendo sim a obra, pois a narrativa da Lauren é uma delicia e mesmo dentro da previsibilidade, ela conseguiu dar seu próprio toque e oferecer um romance gostoso de ler.
Em Pedaços é o primeiro livro da Série Recomeços, mas cada livro pode ser lido de maneira independente pois são com casais diferentes e não seguem uma ordem cronológica. Se você ainda não conhece a escrita da autora, te indico Mais Que Amigos para iniciar a leitura, até o momento é o livro dela que mais gosto e você pode conferir a resenha dele neste link.

  • Broken
  • Autor: Lauren Layne
  • Tradução: Lígia Azevedo
  • Ano: 2018
  • Editora: Paralela
  • Páginas: 247
  • Amazon

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