A narrativa construída ao longo de O Sonho do Tigre baseia-se na intenção de explorar o futuro de Kishan e Anamika após sofrerem e aceitarem as consequências dos eventos finais de O Destino do Tigre. Enquanto Kelsey e Ren direcionaram-se para um adorável “felizes para sempre”, cultivando seu amor e usufruindo das regalias que o império monetário dos irmãos tigres conquistou, as figuras de Kishan e Anamika ficaram para trás no tempo, espaço e planos de sua verdadeira criadora.
Relegados ao passado, levados a assumir as responsabilidades e poderes de Damon e Durga, destinados a conviver e servir juntos para o resto de suas vidas, estes queridos personagens iniciam a jornada do quinto e último livro da Saga do Tigre com diversas discussões e, da parte de nosso amado tigre negro, todo o tipo de lamentação acerca do futuro, amor e possibilidades perdidas. Aquele que deveria ser o livro onde observaríamos a trajetória de Kishan e Anamika, onde descobriríamos mais detalhes sobre seu passado, traumas e relacionamento, logo transforma-se em uma última e enorme missão a ser cumprida, esta, envolvendo uma vez mais, ainda que de forma indireta, as figuras de Kelsey e Ren.
[…] um vilão pode machucar sua mente e seu corpo. Ele pode tomar as coisas que são mais preciosas para você. Mas não pode diminuir quem você é. Seu coração e sua alma pertencem a você.

Quando Phet ressurge com uma lista misteriosa onde pontuam-se momentos específicos da trajetória e desafios dos personagens que, juntos, consolidam o casal principal desta série, perceberemos que, muito mais do que abordar o destino de dois personagens abandonados após seus sacrifícios dolorosos, encontraremos outro elemento ao longo do desenvolvimento desta etapa final. Ao solicitar ao tigre negro e sua Deusa que voltem no tempo e direcionem elementos afim de que todo e cada evento ocorra da forma como deveria ocorrer, segundo a lógica dos livros anteriores, também retomaremos acontecimentos cruciais para a contextualização e edificação da famosa Saga do Tigre, como observada, amada e acompanhada ao longo dos quatro primeiros livros da série.
Assim apresenta-se O Sonho do Tigre. Na mesma medida em que acompanhamos o relacionamento de Kishan e Anamika, observamos suas brigas, os segredos que escondem um do outro, o carinho que cresce a cada segundo que passa e, as lições que aprendem juntos, enxergaremos acontecimentos conhecidos de livros anteriores sob novo prisma, por meio de novas visões, repletos de novos detalhes e contextos.
Embora auxiliem a explorar novos aspectos da personalidade de Kishan e Anamika, demonstrando, ainda, eventos importantíssimos para os caminhos percorridos no passado dos dois personagens, a retomada de acontecimentos ligados às aventuras dos quatro livros anteriores é cansativa. A estratégia, muito utilizada em obras e séries recentes, nunca foi uma de minhas preferidas. Porém, as falhas que observei no delineamento do último capítulo de uma saga que amo de todo o coração não se limitam à retomada de situações sob nova perspectiva, mas remetem também ao fato de que, mesmo destacando como personagens principais as figuras do tigre negro e Deusa Durga, estes muitas vezes são obscurecidos pela constante presença de Kelsey e Ren.
Esperava nesta obra uma história voltada ao relacionamento de Durga com seu tigre Damon, ansiava por conhecer mais do passado de Anamika, desejei descobrir e acompanhar a beleza da personalidade de Kishan e, acima de tudo, ser capaz de acompanhar a construção de seu destino juntos. Apesar de receber tudo o que desejei, de formas muitíssimo parecidas com as que imaginei desde a finalização de O Destino do Tigre, ao retomar incontáveis vezes o romance de Kelsey e Ren, bem como os desafios que enfrentaram para permanecerem juntos no final, senti que uma parte do brilho desta nova história se perdeu. Para além de minha crítica com relação ao que considero ser uma das maiores falhas desta obra, resta somente destacar a torturante repetição de palavras, frases e explicações.
Sou perfeitamente capaz de compreender que o perfume de “flor de lótus e jasmim” é delicioso, inebriante e encantador; que as longas pernas de uma deusa são magníficas; que os longos cabelos negros são rebeldes e ao mesmo tempo maravilhosos; que os olhos verdes clamam por aproximação e escondem vários segredos, mas não sou obrigada a reler estes mesmos atributos de novo e de novo infinitas vezes. Ainda que a trajetória dos personagens e, principalmente, a relação entre eles, não se baseie somente nestes elementos, é irritante observar quantas vezes eles surgem ao longo da narrativa.
Entretanto, O Sonho do Tigre é um final digno de uma saga maravilhosa. É emocionante, cativante, belo, encantador e repleto de significado e magia. Emociona o leitor e expressa um destino digno para dois personagens tão queridos, sendo um deles o meu preferido de toda a série. Contudo, é um livro com falhas que poderiam ter sido solucionadas de diversas maneiras. Dentre elas, por meio da redução do número de páginas e exclusão de elementos desnecessários aos objetivos principais e verdadeiramente relevantes ao percurso que Collen Houck desejava trilhar. Mesmo em seus deslizes, Kishan e Anamika destacam-se como os principais elementos deste livro e, é graças a eles e por conta deles que busquei a leitura desse livro, mas também amei ter superado cada ponto que considero desnecessário ao longo da leitura. Seu destino é emocionante e repleto de significado, entretanto, cabe a cada amante da série decidir por realizar a leitura ou não.

  • The Tiger Saga #5: Tiger’s Dream
  • Autor: Colleen Houck
  • Tradução: Raquel Zampil
  • Ano: 208
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 600
  • Amazon

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