Ainda muito nova, Pâmelli viajou com seus pais para a capital do Brasil. Em Brasília, a menina carioca, foi educada em escolas internacionais e passou a frequentar a alta sociedade brasileira dos anos 80. Rodeada por privilégios, nem a separação de seus pais e as dificuldades financeiras da sua mãe, evitou que com seus dez anos de idade, ela partisse em uma excursão somente para adultos nos EUA. Com seus 22 anos, não demorou muito que seu emprego em uma importante escola de línguas lhe proporcionasse o suficiente para uma viagem à França.
Seriam seis meses estudando e conhecendo a Cidade Luz. Na França Pâmelli se sentiu abraçada, como se fizesse, finalmente, parte daquele mundo, muito diferente do Brasil em que vivia. Pela primeira vez na vida, mesmo tendo que trabalhar em uma casa de família fazendo aquilo que ela jamais fez em sua própria casa, ela se sentiu completa. Porém, é com a chegada de Charles, um francês mais velho e requintado, que Pâmelli se vê abalada por suas inseguranças. Seria algo que lhe abriria portas, enfim, para o novo.
Paris, Mon Amour é um livro de memórias de uma jovem garota criada em berço de ouro. As lembranças de uma jovem mulher em um mundo diferente com suas primeiras experiências, seja conhecendo lugares deslumbrantes do velho continente ou se rendendo a sua primeira paixão. Falando-se dos assuntos do coração, Pâmelli nunca tinha vivido grandes aventuras, o que faz que seu relacionamento com Charles seja extremamente intenso.

Em seis meses, Pâmelli passa pelas diversas fases do amor, a insegurança de um novo relacionamento, a paixão tórrida, a construção da confiança, a dúvida de ser ou não correspondida, o amadurecimento forçado e até as pequenas decepções. Acredito que para se ter sucesso em um relacionamento, precisa-se navegar por cada um desses mares. E mesmo assim, nem sempre saímos ilesos durante o caminho. É por este motivo que Pamêlli erra, acerta, sofre, é feliz, se entrega e recebe tudo tão intensamente, em pouco tempo a personagem se vê num turbilhão de sentimentos. Agora imaginem tudo isso somado a pouca experiência que ela possui.

É natural que a personagem seja imatura. Não no sentido ruim da palavra, mas da forma que todos somos quando jovens. Afinal, a própria Pâmelli destaca que se no Rio de Janeiro, ela era uma patricinha mimada e cheia de frescuras, na França ela era apenas uma estudante, tendo que enfrentar as mais diversas dificuldades e ficar contando o pouco dinheiro que possuía.

Entretanto, talvez por eu já ter passado por esta etapa, me vi julgando e balançando a cabeça em diversas atitudes da personagem ou em cada pérola que ela largava ao longo da sua narrativa, visto que o livro é narrado em primeira pessoa. Por vezes, vi resquícios de pensamentos preconceituosos nos personagens e eu, sinceramente, me vi incomodada com estes pequenos detalhes, que nem somam a construção da narrativa de um modo geral, mas a questão é que eles existem no livro e eu precisava menciona-los nesta resenha.

Em contraponto, o leitor consegue saber que Pâmelli ainda tem muito o que aprender, pois faz parte do processo acompanhar uma pequena fatia da vida da personagem e o modo como ela irá, ou não, evoluir ao longo dos anos após sua passagem por Paris.  É importante salientar também que o livro foi rascunhado entre os anos de 1995 e 1996. Os tempos eram outros e mesmo que Paris, Mon Amour seja um livro de memórias, é preciso deixar claro que minhas críticas se referem a personagem e não a autora.

É um fato que a construção deste livro ajudou a autora a passar por um momento bastante difícil em sua vida nesta época, conforme a entrevista que fizemos com ela aqui no site. Ato, sem dúvidas, corajoso da autora, que resolveu abrir seu coração para o leitor, para que ele se identificasse, julgasse e se sentisse por dentro das mesmas ruas em que Pâmelli passou na França. O livro é inspirado nas próprias vivências da autora e por isso de Paris, Mon Amour ser tão verdadeiro. Cheio de acertos, imprecisões e encantos.
Um destaque para a mãe de Pâmelli que sempre foi uma leoa. Sem dúvidas este é o tipo de pessoa que eu gostaria de conhecer. Uma mulher forte, determinada, objetiva e muito lúcida. Imagino a dificuldade que fora criar uma filha, proporcionando o bom e o melhor, sendo solteira numa sociedade que ainda é, até hoje, machista e preconceituosa. Agora, imagine isso no início dos anos 90. Sem dúvidas existiram, existem e ainda existirão muitas Donas Ilmas para servirem como exemplo.
Ainda preciso fazer um pequeno adendo quanto a diagramação do livro. Preciso sugerir para a editora, ou para a própria autora, que na próxima impressão que seja incluído notas de rodapé sempre que os personagens falarem em outra língua durante a história, o que acontece com certa frequência. É importante lembrar que o leitor pode não entender francês ou inglês. Isso ajuda muito durante a leitura.
Por fim, a história de Pâmelli com certeza pode ser a de qualquer pessoa. O romance que Pâmelli viveu poderá tocar o leitor de diferentes formas. Sem dúvidas esta é uma leitura que muitos poderão se identificar, por se tratar de uma personagem humana, que não vem para ser “a mocinha” da história, mas que vem para compartilhar, que vai amadurecendo com o tempo e não repentinamente. Eu tenho certeza que existem muitas Pâmellis por aí, sonhando em conquistar seus objetivos, tropeçando em romances e aprendendo com cada centelha de vida que lhe é oferecido.

  • Paris, Mon Amour
  • Autor: Isabela Pâmelli Martins
  • Ano: 2018
  • Editora: Chiado
  • Páginas: 164
  • Amazon

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