O Barqueiro é uma releitura do mito de Caronte, aquele famoso barqueiro de Hades que transportava as almas para o mundo dos mortos. É o primeiro volume da série Ferryman e foi publicado no Brasil pelo selo Globo Alt.

Dylan acordou atrasada naquele fatídico dia. Parecia que tudo estava dando errado, até mesmo nos pequenos detalhes. Se molhou na ida até a escola, ouviu sermão da sua mãe controladora e quase perdeu o trem que a levaria até seu pai. Com a mudança de cidade de sua única amiga Kate, Dylan sente-se cada vez mais sozinha e isolada. Deslocada dos outros jovens superficiais da escola e das garotas metidas e imaturas. ela sofre bullying dos colegas e os professores parecem não perceber a situação.
Sem ver o pai desde os cinco anos, agora chegou a hora desse reencontro. Sem nunca mais ter tido contato e a mãe ser contra, ela telefonou e conseguiu com que seu pai lhe recebesse no fim de semana. Muito ansiosa e insegura, ela não vê a hora de chegar em seu destino. E por falar em destino, é isso mesmo que ele preparou para nossa querida Dylan?

“Silêncio. Deveria haver gritos, choro, alguma coisa, pensou Dylan. Mas havia apenas silêncio”.

Quando acordou no trem tudo estava muito escuro e silencioso. Aos poucos ela percebeu que havia acontecido um acidente. Mas onde estava todo mundo? E os sobreviventes, socorristas e ambulâncias?
Tristan esperava sua próxima alma com paciência e indiferença. Há muito tempo deixou de sentir empolgação e ser curioso, apenas faz o seu trabalho e ajuda as almas a atravessarem para o outro lado. Mas assim que viu Dylan sabia que teria um problema, algo naquela garota despertava nele sentimentos diferentes daqueles que estava acostumado a sentir, e isso só iria dificultar as coisas.
Dylan está morta (isso não é nenhum spoiler) e agora ela precisa se conformar com isso e aceitar seu destino. Mas seria tão fácil assim quando o seu barqueiro torna-se uma companhia indispensável? E fica o questionamento: existe amor após a morte?
Narrado em terceira pessoa, em O Barqueiro vamos acompanhando essa jornada de conhecimento e companheirismo pela visão de ambos os protagonistas. Os dois enfrentam muitas dificuldades e até mesmo espectros e outros seres que lutam para levar a alma de Dylan pelo mundo dos mortos, assim podemos ver o sentimento que vai crescendo entre eles, mesmo sendo algo tão improvável e novo.
Também é impossível não se pegar imaginando todos os cenários descritos pela autora Claire Mcfall, da mesma forma que nos envolvemos com essa jornada que levará ao destino final em que Dylan teme chegar. Tristan é relutante em aceitar que está fazendo muito mais do que só o seu trabalho, mas sim, podemos perceber o conflito que cresce quando ele vai se apegando demais a alguém que deve partir em breve.
Com o tempo, Dylan vê em seu barqueiro, que assume a forma que mais agradaria a ela, muito mais do que um simples ser que serve apenas para ajudá-la a atravessar para o outro lado, mas sim um porto seguro, alguém em que pode confiar e que não a decepcionará, uma sensação muito diferente da que tinha quando estava viva.
Lá fora já saíram mais dois volumes da série, Tresspassers e Outcasts, que darão continuidade a história desses improváveis personagens. Indico esse livro para todos os amantes de fantasia, suspense e é claro, romance. Quem gosta de personagens únicos, criaturas místicas e um universo fantástico bem elaborado, vai apreciar essa leitura e no final ficará ansioso pelos próximos volumes, assim como eu.

  • Ferryman #1
  • Autor: Claire Mcfall
  • Tradução: Luisa Geisler
  • Ano: 2018
  • Editora: Globo Alt
  • Páginas: 352
  • Amazon

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