Sempre tento trazer para vocês opiniões sobre livros que façam vocês correrem para as livrarias animados, mas hoje vai ser diferente, vamos falar de um livro que eu infelizmente não gostei. Para deixar a resenha mais interessante e tentar transmitir melhor os argumentos que me fizeram desgostar de O Fundo é Apenas o Começo, vou precisar dar alguns spoilers do livro, então, se você pretende conhecer esta história, deixe para lê-la depois de ter sua experiência, porém o que vai ser discutido aqui é essencial para entendermos do que se trata a obra em si e o quanto ela pode ajudar as pessoas que a lerem. Independente de nossas experiências individuais, livros, bons ou ruins, sempre têm lados positivos e informações importantes. E na minha opinião, perspectivas diferentes sobre doenças psicológicas sempre são interessantes de se ver na literatura.

Em O Fundo é Apenas o Começo conhecemos Caden Bosh, um jovem de 15 anos que cursa o ensino médio, é ótimo aluno e possui muitos amigos, porém alguma coisa muda na sua vida, seus amigos começam a notar alterações no seu comportamento. Esta mudança é notada pelo leitor, já que logo no início do livro Caden começa a ter ações um pouco estranhas, até mesmo para sua família. Ele começa a agir, como se tivesse duas vidas, uma real e outra imaginária.

Logo no início é possível perceber que o livro é muito arrastado, apesar de ter capítulos bem curtos, várias ilustrações e uma edição bem bacana, parece que a obra não anda. Acredito que isso esteja ligado ao pesado teor do contexto, para mim foi extremamente difícil de ler, de evoluir dentro da obra e de não se cansar durante a leitura, justamente pela maneira como as coisas são abordadas nele. Entretanto, isso também é o lado encantador do livro, já que para Caden também é extremamente complicado ver sua vida e evoluir conforme sua imaginação vai tomando conta daquilo que é realidade. É neste ponto que percebemos que Caden não é apenas um garoto que vive só de sua imaginação.
Caden Bosh é esquizofrênico. Nem ele, nem sua família, amigos e nem seus professores percebem isso. Ele parece um garoto normal, até que algo na sua cabeça começa a atormenta-lo e ele passa a pensar que alguém está querendo mata-lo, ele muda seus hábitos, se afasta dos amigos, muda com a família, se sente cada vez mais perseguido.
O bom do livro é que o leitor está dentro da cabeça do menino Bosh a todo momento, tanto nas horas de lucidez como nas horas mais perturbadoras, cheias de preocupações e medos. Eu entendo que a magia de O Fundo é Apenas o Começo esteja ligada a veracidade absurda que a história deve transmitir, fazendo o leitor questionar  se existe alguém próximo que está passando por aquilo, ou, como eu senti algumas vezes, se preocupar com apresentar algum dos sintomas narrados na história e se perguntar se estaria também sofrendo daquilo ou não.  Mas as partes em que o livro me perdia, eram aquelas em eu presenciava todo esse arrastar de modificações que Caden sofre, acompanhar dentro da mente dele tudo que está sendo alterado e como ele vai piorando cada vez mais. Estes momentos que deveriam me causar uma certa empatia, como experiência literária, acabaram numa chatice.
A metáfora com o nome do livro se deve a Caden não saber o que está acontecendo com sua vida e ele precisar “pilotar um barco” sem rumo, para o total desconhecido que pode trazer uma infinidade de problemas, mas que ao mesmo tempo, se ele souber tratar a doença da maneira correta, pode levar ele para o caminho da felicidade e de uma vida maravilhosa. A verdade é que ninguém consegue pilotar um barco sozinho, seja ele um barco de verdade ou a sua própria vida.

Nunca tinha lido nada de Neal Shusterman e também nunca tinha lido nada sobre esquizofrenia. Sendo assim, fica um pouco difícil avaliar se o autor é bom, mas a credibilidade do autor em relação ao assunto vem de sua própria experiência, pois seu filho, Brendan Shusterman, de 29 anos, sofre da doença. Você sente mais realismo, se sente doente junto com Caden e torce por ele o tempo inteiro, para que ele consiga ter uma vida melhor e pilotar o seu barco para o rumo da felicidade. E se serve como curiosidade, ilustrações que recheiam o livro foram feitas por Brendan, o que as tornam ainda mais incríveis.
Infelizmente, eu senti que o livro foi “vendido” como algo diferente do que ele realmente é, não sei se isso foi um problema meu ou se a intenção era realmente esconder um pouco do teor do livro. Mas eu sei que para mim, isso atrapalhou a minha experiência, e por este motivo que resolvi revelar alguns spoilers aqui. Para conseguir compartilhar um pouco desses sentimentos conflitantes, foi muito difícil de eu conseguir me envolver pela essência da obra.
O livro é pesado, é duro de ler. Eu parei a leitura durante vários momentos, principalmente por preferir ler coisas mais ficcionais do que livros que me façam refletir e acabam tirando um pouco o conceito da palavra “hobby” das minhas leituras, o que deixou a minha experiência bem prejudicada e me fez não gostar dele, porém, não tenho dúvidas que eu poderia muito bem dar cinco estrelas e um prêmio para o escritor caso eu tivesse alguém próximo a mim com a doença ou estivesse estudando sobre ela. Neste caso, a leitura seria indispensável. Não é um livro mal escrito, nem nada disso, ele apenas não conversou comigo e estas coisas acontecem.
Eu sinceramente nem sei como terminar esta resenha. Me desculpem por ter arruinado alguma expectativa que tinham sobre o livro, falando dele tão abertamente, mas eu precisava disso para mostrar pra vocês a minha real opinião sobre ele. Acho que este meu papel aqui, debater sobre livros, histórias e experiências. Mas me digam, quem já leu, o que eu não entendi da obra?

  • Challenger Deep
  • Autor: Neal Shusterman
  • Tradução: Heloísa Leal
  • Ano: 2018
  • Editora: Valentina
  • Páginas: 272
  • Amazon

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