Sabe aquele livro que você vê a capa e o nome do autor, de passagem pela livraria, e não se surpreende? Ou que você lê o título dele e imagina algo completamente diferente? Esse era Um Estranho Sonhador para mim, até um amigo me dizer que o mesmo era uma das melhores leituras da vida dele, e que gostaria de saber minha opinião sobre a obra. Bem, mesmo assim eu ainda não dei muita bola, mas tudo mudou quando ele me disse que o personagem principal era um bibliotecário, assim eu decidi que realmente leria, afinal, livros que se passam em livrarias ou bibliotecas quase sempre são ótimos, mas ele falou mais, disse que havia fantasia, que o livro tinha ação, romance, guerras, e algo diferente de tudo que eu já teria lido, então… eu comecei a ler.

Tudo que ele havia me dito era quase verdade, ele só esqueceu de me falar que a fantasia, a ação, o romance, as guerras e tudo mais que eu leria, era único, só iria existir naquele livro e a cada página que eu lesse meu coração ia pulsar mais e eu ia, inclusive, mergulhar num turbilhão de sentimentos durante a leitura. Um Estranho Sonhador é isso, um misto de sentimentos, você literalmente acaba imaginando cenários fantásticos, repletos de cores alegres e esperançosas ou as de breu tenebroso e horrendo.

Lazlo, O Estranho, é um bibliotecário, que na verdade é a representação de todos nós, leitores, com sua busca voraz pelo que aprende nos livros, pela sua vontade de se aventurar através do desconhecido. Em volto a muitos livros e milhares de curiosidades, Lazlo vai em busca da lenda de uma cidade mítica perdida chamada Lamento, ele deseja saber o que houve com ela e se todos os mistérios envoltos dela realmente existem, a qual, obviamente, ele descobriu nos livros, e que segundo dizem, é repleta de magia.

Lazlo queria ir e descobrir. Esse era seu sonho, ousado e magnífico: ir até lá, do outro lado do mundo, e resolver os mistérios. Era impossível, é claro. Mas quando é que isso impediu qualquer sonhador de sonhar?

Mas é claro que isso não pode acabar bem. Lazlo poderá sim encontrar essa cidade, mas vai também encontrar muitos perigos junto com ela e quando ele partir, não poderá mais retornar e sentar-se em frente aos livros como se nada tivesse acontecido, é uma escolha sem volta, que vai mudar a sua vida.

Em meio a essa aventura ele conhece uma garota chamada Sarai, e muitas outras crianças da grande cidade perdida, e, leitores, eu não via um grupo de crianças tão incrivelmente bem descrito e que se completasse tanto. O grupo da cidade de Lamento tem superpoderes, eles têm vilões, eles têm medo, eles têm sentimentos, mas as crianças que lutam contra os monstros dos olhos brancos não têm cor, coisa que só vi em Um Estranho Sonhador.

É difícil tentar explicar isso para quem ainda não leu o livro, mas é como se as cenas formassem pinturas em nossa mente, a maneira como a autora aborda e descreve cada cena passa um sentimento bom para o leitor, e você consegue imaginar tudo como se isso houvesse um fundo colorido, com cores alegres e de paz, como lilás, verde, amarelo e azul. Eu imaginava que isso era só algo da minha cabeça, então fui falar com outras pessoas sobre esta percepção e muitos me disseram que sentiram o mesmo lendo, inclusive, se pesquisarmos fanarts do livro, até as ilustrações feitos por outros leitores possuem essas cores.

Só por esse pequeno detalhe você já pode imaginar o quanto é incrível o trabalho da escritora Laini Taylor, mas isso é só um dos tantos detalhes incríveis da obra dela. Laini consegue descrever as cenas e ambientar não só o local onde elas ocorrem, mas também as feições dos personagens transcritos no papel, indo além da sua aparência. Como se isso já não fosse o bastante, ela vai além narrando de uma forma completamente diferente o status psicológico dos personagens, algo que eu nunca tinha percebido antes em uma leitura.

Um exemplo simples disso é o uso da palavra ictérico, quando ela deseja dizer que o personagem está com a cara abatida, adoentado.  Alguma vez na sua vida de leitor você leu essa palavra? Ictérico ou Adoentado são duas palavras que podem ser quase sinônimos, mas você nunca viu alguém ICTÉRICO, e já viu muitos adoentados, e naquela cena específica, nunca ninguém vira alguém com uma expressão como a do personagem. Dá para entender o que quero dizer?

E esse fato é só um, que exemplifica muito bem o que o leitor vai encontrar nessa obra, o peso desse livro e o choque que ele é capaz de causar a cada página. E quando eu digo que ele vai causar choques a cada página, acredite, ele vai fazer você chorar de verdade, Laini pode ser uma boa escritora, mas não tem pena nenhuma de magoar o leitor e faz isso com prazer.

O livro é divido em cinco partes, cada uma delas muito bem trabalhada possibilitando um enlace para a parte seguinte, todas teu seu ciclo próprio, como a descoberta de Lazlo nos livros, onde ele conhece os manuscritos da lenda da cidade perdida, além de demonstrar como ele é visto na cidade, como todos o acham apenas um estranho sonhador, que ocorre na primeira parte.

Enfim, Um Estranho Sonhador nos apresenta uma narrativa único, um universo incrível e de tirar o fôlego. Se você curte este tipo de narrativa mais poética e mundos mágicos cheios de personagens que ganharam seu coração, se preparem para uma leitura repleta de conflitos emocionais onde o horror vai andar abraçado com o amor e a beleza. Preparem-se para algo completamente épico, mas incrivelmente avassalador.

E para a nossa alegria, este é apenas o primeiro livro da duologia, o segundo volume da série já foi lançado nos Estados Unidos e se chama Muse Of Nightmares ou A Musa dos Pesadelos em tradução livre, este e derradeiro livro da série foi lançado nos EUA em outubro do ano passado, mas ainda não possui data para chegar ao Brasil. Vamos torcer para que a Universo dos Livros traga ele o mais rápido possível para nós! A efeito de curiosidade, a escritora Laini Taylor já tem outros livros de sucesso lançados por aqui, como a trilogia Feita de Fumaça e Osso que teve seu primeiro volume lançado em 2012 aqui pela Editora Intrínseca.

E aí, pronto para sonhar com o impossível junto com Lazlo? Não sei por que, mas o quote que coloquei no início desta resenha me deu vontade de entrar no livro e ir lá ajudar ele a sonhar.

  • Strange The Dreamer
  • Autor: Laini Taylor
  • Tradução: Eloise de Vylder
  • Ano: 2019
  • Editora: Universo Dos Livros
  • Páginas: 544
  • Amazon

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