Eu pensei muitas vezes em como começar essa resenha. Não poderia começar como sempre, primeiro por se tratar do meu grande ídolo e segundo por O Instituto ter se tornado o melhor livro que li no ano! Decidi que vou começar com as primeiras palavras que pensei ao terminar de ler o livro, me desculpem pelos termos, mas acho que a sinceridade neste caso é essencial: Puta que pariu! Que livro do caralho!

Senhoras e senhores, que livro! Que coisa épica, sem dúvidas um dos melhores livros do King!

Ufa… passada a euforia, vamos aos fatos: temos em nossas mãos (e se não está, deveria) uma aula de como deve ser uma obra de ficção, uma aula de como descrever lugares, uma faculdade em como deixar leitores agoniados sem sequer apresentar um monstro, um ensinamento de como transmitir medo ao leitor sem que exista algo sobrenatural. O Instituto é a melhor novela de Stephen King, a obra mais completa que eu li dele que envolva crianças, e aqui eu vos digo, apesar de diferente, de ser menor, de ser completamente outro estilo: Sim, ele é melhor que It: A Coisa.

Quem já me acompanha sabe que há alguns anos que eu não leio os livros do King em português, aprendi a ler em inglês justamente para ler suas obras antes mesmo delas chegarem por aqui. Por este motivo comprei minha edição pela Amazon e ela acabou chegando dois dias antes do lançamento aqui no Brasil, eu estava no céu!

Por não ser minha língua nativa, a intenção era aproveitar para degustar a leitura, mas ao chegar as últimas páginas precisei devorar o livro, tamanha a fixação que ele proporciona. Cada página seguinte se torna mais importante que a anterior, fazendo a leitura ser completamente arrebatadora, prendendo o leitor de uma maneira inexplicável. Eu acabei concluindo a leitura depois de 4 dias de pura ação e choque, medo e agonia, alegria e tristeza, e quando eu digo “tristeza” quero dizer de verdade.


O Instituto conta a história de Lucas Ellis, ou Luke, como todos o chamam, um garoto de apenas 12 anos, com expectativas de ser recrutado para o MIT e para o Emerson College, duas das faculdades mais importantes do mundo, principalmente no que diz respeito à tecnologia, ambas situadas no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. O garoto evidentemente é um prodígio, está muito à frente dos meninos com a mesma idade. Seu futuro será brilhante, ele vai ingressar na faculdade antes do tempo normal, ele irá conseguir um emprego maravilhoso, irá mudar o mundo, salvar diversas pessoas… não!

Luke simplesmente acorda em um lugar diferente, uma grande construção, com algumas poucas crianças, muitos adultos, pessoas andando para cá e para lá. Até que uma garota tenta se aproximar, mas ele a afasta de perto com rispidez, ele só que voltar para casa, só quer seus pais, aliás, onde será que ele está? Onde será que estão seus pais?

Luke está no Instituto, e por incrível que pareça, fica no Maine, Estado Americano recorrente nas obras do mestre. Ele não sabe como foi parar ali ou qual o interesse daquelas pessoas nele, não sabe em quem confiar, só sabe o que a menina educada e interessante tenta lhe contar: ele está ali porque tem poderes especiais. Aquelas pessoas irão fazer testes com ele e assim que eles acabarem poderá voltar para casa, ninguém fica muito tempo no instituto. Ao menos é o que ela pensava.

Kalisha Benson é a garota que apresenta Luke para os demais, e que explica para Luke o que existe ali. O problema é que ela também não sabe ao certo o que existe ali, as crianças que Luke conhece estão apenas habituadas aos cigarros, que podem fumar a vontade, e aos testes que são feitos com elas, apenas imaginando o que há depois de tudo isso, do lado de fora do Instituto. Acho que essa introdução sobre o livro já é suficiente para deixar você, leitor voraz, extremamente interessado pela obra, certo?

O livro começa denso, com a história de Luke tomando conta das páginas e você sem saber onde o Instituto prometido na capa do livro vai aparecer, bem como quando ele aparece, você fica esperando quando irá acontecer alguma ação, ou até mesmo qual será a problemática criada no livro, estilo de construção narrativa bem típica de King, o que vai causando uma certa ansiedade em quem está lendo, mas que pode causar certo incômodo para quem ainda não conhece o escritor.

Esse desenvolvimento leva bastante tempo, talvez uns 40% do livro ou um pouco menos, mas quando a virada se dá ela é perfeita, a ação começa, a curiosidade e o incômodo com a demora para o livro se desenvolver se tornam agonia, desespero e torcida na cabeça do leitor. Volto a salientar, o desenvolvimento é pesado, não tanto quanto em outros livros dele, mesmo assim, bem duro. Inclusive, indico O Instituto para quem quiser iniciar na leitura de King, já que ele é um livro denso, mas não tanto quanto outras obras, mas é uma obra única e representa bem o trabalho incomparável do escritor.

Depois que todos personagens são apresentados, que toda situação central é exposta, ele começa a esmiuçar os problemas, começa a deixar os personagens loucos, começa a descrever cenas de uma forma fluída e aterrorizante, sem apresentar monstros ou fantasmas. Stephen King deixa o leitor amedrontado apenas construindo diálogos, gestos e ações de pessoas de verdade, humanas e, apesar de o livro ser uma ficção, extremamente reais.

O Instituto é real ao ponto de me fazer pensar e de imaginar o que Stephen quis dizer com a obra. Acho que o ponto abordado no livro sobre a separação forçada entre pais e filhos, aliado ao posicionamento político do escritor a alguns quotes do texto, vejo uma clara alusão à forma como Donald Trump tem separado crianças dos pais em problemas de imigração. Posso estar viajando, isso é uma teoria que não sei se pode ser corroborada com algo, mas achei justo comentar com vocês, principalmente para dar uma visão de o que essa obra representou para mim e o que ela pode representar entrelinhas.

A obra também possui uma das melhores sequências de ação de todos os livros de King, são quase 100 páginas de ação pura, de tensão, de pessoas morrendo, matando, fugindo, caindo, se salvando… é de tirar o fôlego, é impossível parar de ler.  Não lembro de uma continuidade de ação tão grande e tão bem escrita, não só nos livros do Stephen como nas minhas últimas leituras, são muitas páginas do mais puro e belo King.

Mas falando um pouquinho agora sobre a edição e sobre o trabalho da Editora Suma, que trouxe o livro para o Brasil exatos 10 dias após o lançamento oficial, ela manteve a capa americana do livro, que tem tudo a ver com a obra e não poderia ser diferente, sem contar que a tradução também está ótima, trabalho já conhecido da Regiane Winarski, tradutora oficial do mestre no Brasil.

Por fim, digo que o maior defeito do livro é que ele acaba, quando virei a última página fiquei sem chão, como vou pegar um novo livro agora e saber que não será King, que não será essa obra de arte da literatura?

O Instituto é mais que um livro, e não sou eu quem diz isso, em pouco mais de uma semana nas livrarias ele já é o mais vendido dos Estados Unidos, já é o primeiro da lista do The New York Times e um dos mais vendidos na Amazon. Aqui temos uma aula de como criar um livro de ação/terror sem apelar, demonstra como um bom livro deve ter suas cenas descritas e como cada detalhe bem ambientado pode fazer uma enorme diferença para quem está tendo o prazer de ler. King retorna com tudo! Aprendam escritores e escritoras, aprendam enquanto este homem é vivo e pode mostrar como fazer uma obra prima de ficção. Stephen King é incomparável e mais uma vez provou isso.

  • The Institute
  • Autor: Stephen King
  • Tradução: Regiane Winarski
  • Ano: 2019
  • Editora: Suma
  • Páginas: 544
  • Amazon

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