A vida de Natasha não poderia estar mais perfeita, principalmente se comparada a sua infância e adolescência, sua única preocupação é permanecer linda, disponível e fiel ao poderoso Vladimir Stanislas, o homem a quem tem dedicado os últimos anos de sua vida. O acordo não poderia ser mais claro, ela tem tudo o que precisa e muito mais, desde que se mantenha dedicada a ele, não exija que o relacionamento deles mude de status, ou engravide. Ele é um homem muito ocupado e não tem tempo para drama ou falta de confiança. E ainda que o relacionamento pareça mais como um acordo de negócios, existe certa afeição entre ambos, respeito e carinho, mas tudo isso pode mudar em um piscar de olhos.

Vladimir sabe o poder que tem e não o esconde de ninguém. Poderoso, milionário e perigoso, não aceita não como resposta e está disposto a tudo para ter o que deseja. Um dos seus troféus favoritos é Natasha, a exuberante jovem que tomou como amante, sua beleza atrai atenção por onde passa, muitos a cobiçam, mas é ele quem pode dar a ela o que ela precisa. Ou pelo menos sempre assim pensou, já que a mesma nunca questionou outra coisa, até conhecer Theo Luca e por consequência a verdadeira face do homem a quem sempre foi leal.

Ela era como uma joia preciosa mantida em um cofre e raramente exibida ao público.

Natasha esta cega em sua bolha e isso é bem perturbador, eu até compreendo suas motivações e necessidade de se prender, e até mesmo “aceitar” a maneira como é tratada, mas ainda assim… Não é como se ela fosse uma mulher indefesa, sem acesso a informação, ou até mesmo sem condições, ela apenas se apresenta inocente, insegura e talvez um pouco alienada, confortável na pele que tem habitado. O medo de voltar a visitar ainda que remotamente o passado a coloca nessa sinuca de bico, em que ela não consegue se ver de outra maneira, e é tão angustiante… Tudo bem, não devo estar fazendo muito sentido, mas essa personagem me irritou de muitas maneiras, principalmente porque só consegui vislumbrar um pouco mais da mulher que ela poderia se tornar e todo seu potencial, nas últimas dez páginas.

Já Vladimir não é o tipo de homem com quem se brinca, ou engana, ele se revela o tempo todo controlador, egocêntrico e arrogante, suas atitudes falam por ele o tempo todo, ele ama o poder, acha que o dinheiro pode comprar tudo e todos e não mede esforços para ter todas as suas vontades atendidas. E apesar de ser assim na maior parte do tempo, senti que a autora pouco explorou isso em determinado momento da trama, tomando um caminho fácil e simplório, até “romantizando” as escolhas do mesmo.

— Não faça isso com você. Ela é como uma pintura em um museu. Você não pode tê-la. Além disso, não pode pagar por ela.

O que mais amo na narrativa da Daniele Steel, é a forma como ela consegue nos envolver na leitura, realmente nos cativando com personagens marcantes e suas histórias de vida. E isso não aconteceu em A Amante, e estou frustrada por isso. Não que a história seja ruim, ela apenas não aconteceu, revelando um enredo linear, muito ao contrário do que a sinopse propunha. A verdade é que fiquei com a sensação de que a história iria começar no momento em que ela terminou. O romance simplesmente não aconteceu, a autora focou muito mais no “estilo” de vida opulento da protagonista e suas muitas posses de marcas que todo o restante ficou em segundo plano. Faltou intensidade, explorar as muitas possibilidades que iam se revelando ao virar das páginas, desenvolver melhor os personagens, explorar suas vidas, seus sonhos, necessidades… enfim, pra mim a história ficou apenas no diamante bruto, faltando ser lapidado.

Confira a resenha de Reencontro em Paris

Não posso entrar em muitos detalhes, pois é um livro curto e com um enredo rápido. Como mencionei acima, o livro tem uma proposta bacana e uma boa introdução nas histórias que a autora se propôs a contar, sim temos uma segunda narrativa que acabou ofuscando a primeira, pra MIM e isso é muito importante frisar, faltou desenvolver o texto, explorar melhor os acontecimentos, amarrar ambas as tramas e entregar um romance de roubar o fôlego, regado a ameaças e perseguições. E ainda preciso mencionar o quanto algumas falas soaram problemáticas e intragáveis em diversos momentos. E por tudo isso que explanei, A Amante não funcionou pra mim.

Mas, como sempre falo: a melhor forma de saber se você gosta ou não de algo, é lendo. Danielle Steel é uma autora renomada, com dezenas de obras publicadas e com certeza merece uma chance sua.

  • The Mistress
  • Autor: Danielle Steel
  • Tradução: Andréia Barboza
  • Ano: 2019
  • Editora: Record
  • Páginas: 278
  • Amazon

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