Terminar um relacionamento é difícil e muito complicado, ainda mais quando se tem uma criança envolvida nisso. Por isso, eu estava com medo de assistir a História de Um Casamento e preocupada em como o filme mostraria um assunto tão delicado na vida de um casal. Meus medos foram sanados, pois o longa mostrou toda a parte dolorosa dessa situação e em como a rotina de uma pessoa vira de pernas para o ar quando uma criança precisa ser “dividida” de forma sensível e verdadeira. Isso é extremamente importante, pois essa narrativa ajuda a criar uma empatia com quem passou ou vai passar por esse processo.

Nicole (Scarlett Johansson) é uma atriz que deixou de lado alguns de seus sonhos quando casou com o diretor de teatro, Charlie (Adam Driver). Os dois trabalham na mesma companhia de teatro, tem um filho, Henry e estão passando por dificuldades no casamento. Com a oportunidade de fazer uma coisa diferente em sua carreira de atriz, Nicole resolve pedir o divórcio.

Nesse doloroso processo de separação e adaptação da nova vida para essas três pessoas, Nicole e Charlie resolvem que juntos vão chegar a um acordo, sem advogados e toda a parte burocrática de uma separação, assim decidindo o que é melhor para eles, mas principalmente, o que é melhor para o pequeno Henry (Azhy Robertson). Contudo, Nicole, com a insegurança da separação, recebe a indicação de uma ótima advogada, Nora Fanshaw (Laura Dern). Com essa decisão, os dois vão ter que lidar de modo diferente com tudo que eles tinham planejado para esse momento.

Com seis indicações ao Oscar, História de Um Casamento vai mostrar o difícil processo de uma separação judicial. Os motivos dessa decisão são muitos, mas o impacto disso é sempre forte e doloroso. O diretor Noah Baumbach depois de muitos boatos sobre ter criado a narrativa a partir de sua própria experiência de vida, negou o fato. Contudo não podemos deixar de considerar que seu processo de divórcio com a atriz Jennifer Jason Leigh, que aconteceu em 2010 e envolveu, inclusive, uma disputa judicial pela guarda do filho, deve ter ajudado muito na hora de dirigir o filme. Acredito que um diretor sempre deixa algo de seu em seus filmes, por isso acho que por mais que ele negue, sua visão sobre divórcios está ali.

Esse lado pessoal do diretor pode ficar mais evidente quando percebemos a sua preocupação com o personagem Charlie. Por mais que tenha tentado não tomar partido na história, Charlie ganha destaque em muitos momentos significativos. Transitando entre diretor dedicado, marido largado e pai amoroso. Adam Driver cumpriu o papel com maestria. Em muitos momentos ele está confuso e sem saber como conduzir sua nova vida, já sua ex-mulher está em outra cidade com seu filho e ele precisa trabalhar. Para visitar Henry só de avião, o que fica ainda mais complicado. Contudo ele é um pai que não se deixa vencer, faz o esforço que é preciso, não abre mão do seu trabalho e se vira como pode. Fica nítido todo o seu sofrimento.

O fato de que Nicole se mudou para outra cidade, Los Angeles, e Charlie continua em Nova York, local em que eles moraram o tempo todo em que foram casados, foi algo que me fez pensar muito. Uma separação já é complicada para uma criança, imagina com os pais morando cada um em uma cidade? O modo como o diretor resolveu trabalhar essa questão em cada personagem foi algo que me incomodou um pouco, mas acredito que o objetivo era esse, me fazer pensar e me colocar no papel dos personagens. Afinal, a gente nunca sabe como vai reagir a algo até acontecer conosco.

Eu me identifiquei muito com algumas situações vividas por Nicole (Scarlett Johansson sem defeitos), pois eu já passei por uma separação. É aqui que entra dois fatores muito bem trabalhados pelo diretor: a influência das pessoas e a confiança em um ex-companheiro. Estava tudo bem para Nicole o modo como eles tinham combinado o divórcio, mas quando as pessoas, que obviamente não sabem ficar sem se meter, começam a palpitar negativamente sobre a decisão deles, como se Charlie não fosse cumprir com a palavra dele, ela facilmente decide procurar uma advogada. Com isso, ficam vários questionamentos: como ela devia mesmo ter procurado um advogado? Ela devia ter confiado nele? Como saber colocar limites na influência das pessoas em nossa vida?

A intervenção de outra pessoa em nossas decisões atinge diretamente o que pensamos sobre aquilo que estamos passando. Aqui no filme isso fica muito claro quando Nicole está segura das suas decisões e vem uma pessoa de fora, que não sabe nada sobre seu relacionamento e sobre a confiança que ela e Charlie tem um no outro, e começa a “envenenar” a segurança que ela estava nutrindo sobre o divórcio. Assim, o sentimento de confiança fica totalmente abalado e Nicole começa a achar que a pessoa tem razão, que é melhor procurar um advogado.

E assim que a história tem sua carga emocional elevada. A tensão de advogados resolvendo por eles o que devem fazer é impressionante. Eles têm um poder de ir além de tudo que se imagina quando o assunto é um divórcio, veem motivos e vantagens onde antes não existia ou nem importava. Assim, uma coisa que era para ter sido simples vira um baita briga judicial. Sem falar no impacto que isso tem na vida de uma criança. Henry não me convenceu no início, eu não gostava de suas atitudes, mas achei que ele melhorou com o desenvolvimento da história. Contudo, depois do filme eu parei para pensar que não existe o certo no comportamento de uma criança quando o assunto é algo que ele nem mesmo entende direito.

A Advogada, Nora, interpretada por Laura Dern e que já levou três prêmios pelo papel, é uma personagem incrível. Ela tem um poder de convencimento que me fez questionar até onde um advogado deve ir nesses casos. Com isso, o filme dá bastante ênfase ao processo judicial em si, abordando seus custos e quais são os fatores que influenciam na tomada de decisão de um juiz. Não podemos esquecer que todo esse processo desgasta ainda mais um relacionamento, que era agora para ser amigável.

Adam Driver e Scarlett Johansson ganham seus momentos de destaque e é impossível não se emocionar. Eles conseguem transmitir todo o sentimento do momento e a dor de um término, uma dor sensível e que chega a magoar, pois um dia um amor verdadeiro existiu e ele tristemente não existe mais. O filme me destruiu e o final é muito próximo da vida real.

  • Marriage Story
  • Lançamento: 2019
  • Com: Scarlett Johansson, Adam Driver
  • Gênero: Drama
  • Direção: Noah Baumbach

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