Esse é meu terceiro contato com a obra de Graciliano Ramos, já li Vidas Secas e São Bernardo, sendo o primeiro meu favorito. Agora chegou a hora de eu conhecer o primeiro livro publicado pelo autor, Caetés, publicado em 1933.

João Valério é guarda-livros no armazém Teixeira & Irmão, em Palmeira dos índios. Ele está apaixonado por Luisa, a mulher de Adrião, seu patrão. Em uma tarde, em um momento de loucura, ele acaba dando um beijo no pescoço de Luisa. Assustado, ele resolve nunca mais voltar na casa do patrão, mas fica em casa se remoendo e pensando que Luisa não devia estar casada com um homem tão velho. em meio a seus devaneios, ele se imagina vivendo com Luisa. 

Além dessa sua paixão, Valério tem um sonho: publicar um livro sobre os índios caetés. Já faz alguns anos que ele está tentando escrever esse livro, mesmo sem ter conhecimentos sobre essa tribo, só sabe por relatos que ela existiu. Entre um amor proibido e a vontade de escrever, vamos aos poucos conhecer a rotina dos moradores de Palmeira dos índios. 

Os caetés realmente existiram. Esse povo indígena brasileiro, com 75.000 pessoas, falava a língua tupi e se encontrava no litoral de Alagoas. Os índios desta tribo praticavam a antropofagia ritual. Esse povo foi escravizado pelos portugueses e anos depois extinto. Por ser uma tribo que não existe mais, para João Valério era tudo um misto de mistério e certeza. Ele sempre afirmava que não tinha prova, mas que sabia da existência desse povo, pois já tinha escutado falar.

Conheça outras obras de Graciliano Ramos

Narrado em primeira pessoa por João Valério, logo gostei do protagonista. Ele é um homem consciente de sua posição na empresa do chefe, mas também é um sonhador. Durante todo o livro ele apresenta várias inquietações sobre seus desejos e sobre o que acontece na cidade, mas pouco ele faz sobre esses assuntos. A trama gira em torno de seu amor por Luisa e de sua frustração em não conseguir escrever seu romance sobre a Caetés, assunto do qual o próprio Valério diz, sem nenhuma vergonha, não saber muito. 

Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora?

A história possui um grande número de personagens, que fazem papel de representantes, através de suas falas, do regionalismo do interior de Alagoas. Caetés é um livro com muitos diálogos, então a leitura flui rapidamente. Achei que pouca coisa acontece no livro, acompanhamos as expectativas de João Valério em relação a Luisa, as conversas com os amigos, as preocupações envolvendo a escrita de seu romance histórico e de seus escritos no jornal local.

Foi uma leitura muito interessante, contudo achei pouco produtiva comparando aos outros livros do autor. Sinto que absorvi algo nos outros livros e nesse não muito, contudo preciso levar em consideração que esse foi a primeira obra de Graciliano. Mas o legal de tudo é que podemos fazer uma analogia dos Caetés com o protagonista, que em determinado momento se chama de selvagem.

  • Caetés
  • Autor: Graciliano Ramos
  • Tradução: -
  • Ano: 2019
  • Editora: Record
  • Páginas: 336
  • Amazon

rela
ciona
dos