Blythe Roberson é conhecida pelos tweets ácidos que compartilha em sua conta pessoal e pelo trabalho como comediante. Também é escritora, tendo artigos publicados na New Yorker. É uma mulher solteira, com uma carreira promissora que acima de tudo é um ser humano que ama outros seres humanos (e amém). Apesar do título nada convencional, o livro de Blythe promete ser um bálsamo para todas aquelas que se encontram em um mundo novo de descobertas a respeito do seu próprio poder pessoal enquanto mulheres. Afinal ser feminista não faz de você uma odiadora de homens, e essa nunca foi a intenção do movimento, que até onde eu entendo, luta apenas por igualdade de gênero.

Como sair com homens quando você odeia homens utiliza o humor como peça chave para mostrar que nos tempos atuais é possível lutar pelos seus direitos e ao mesmo tempo amar esses gatos do sexo oposto. Não é ciência, ou auto-ajuda. Na verdade Blythe utiliza seus anos de experiência entre encontros, flertes, e paixonites para mostrar que ela está tão confusa quanto nós nesse não jogo da sedução.

Na teoria tudo é lindo, mas a verdade é que eu fui tolamente conquistada pelo texto resumo que se encontra na orelha do livro. Benditas mãos que escreveram esse resumo. Infelizmente o livro de Blythe não possui graça alguma, ou é ao menos interessante. Me perdoem. Sinceramente, me parte o coração fazer uma resenha tão negativa, afinal cada um tem uma experiência de leitura, mas se eu pudesse recuperar o tempo perdido nessas páginas, eu assim teria feito. Para que você entenda meu posicionamento sobre o livro é necessário mencionar algumas coisas: A primeira, eu me identifico com o movimento feminista. Segunda coisa, eu queria ler algo leve que abordasse o tema. Terceiro, essa obra pareceu ter o teor exato do que eu estava procurando. Não estava esperando um livro mega inteligente e filosófico sobre as relações humanas e interações românticas. Ou um novo tratado feminista para saber lidar com homens na modernidade recente. Eu nem tinha expectativas verdade seja dita. E mesmo assim foi impossível não me decepcionar.

Existem vários fatores que eu gostaria de entender melhor sobre esse livro, a começar por qual é o público alvo? Blythe ora escreve para um público pueril, dando um B,A,B de como você sabe se um cara está dando mole ou não, ora utiliza termos como patriarcado, poder estrutural, privilégio branco. Parte do princípio que somos adolescentes entrando na puberdade para então escrever um bom texto sobre a influência do machismo nas relações amorosas entre homens (opressores) e mulheres (oprimidas). E eu sinceramente entendo essa linha de raciocínio. Foi a melhor e única parte boa do livro. Mas são termos com os quais eu já estou familiarizada, justamente por ler algo na área. Se o livro é para um público que já deveria conhecer tais expressões e seus significados, por que cargas d’água o restante do livro parece ter sido escrito para uma menina em fase escolar? “Nossa, ele olhou pra mim!Deve estar apaixonado e quer casar.” Era pra ser irônico? Para ser uma piada? Não fica claro.

Em geral, predadores sexuais são homens. As mulheres são, com certeza, capazes de assediar homens, mas não estamos oprimindo eles por milênios, tirando partido da nossa vantagem no ambiente de trabalho nem ante a opinião pública para possibilitar esse assédio.

Se o público alvo era justamente o pré-adolescente, por que Blythe não aproveitou o espaço para explicar melhor sobre o que seria o patriarcado, como ele age e qual a sua relação com o machismo? Se o público alvo era tão jovem ou iniciante dessas relações românticas, por qual motivo a autora tem um subtitulo com o seguinte texto: “Prosa antes da foda”? O livro parece um diário de pseudo-relacionamentos. Namoros que nunca se concretizaram, flertes que só aconteceram na cabeça de Blythe e envolvimentos totalmente platônicos, se tornam o fraco “enredo” do livro. Por meio de monólogos chatos e rasos, a autora nos conta pormenores de sua vida amorosa. Talvez ela esteja acostumada a compartilhar grandes momentos em pequenos tweets, mas isso é um livro e tal instrumento carece de profundidade, de desenvolvimento, de objetivo. O texto é composto por listas, tweets e mais tweets da autora, mais alguns aborrecimentos, mais listas… Em resumo é uma salada. Não consegui definir se Blythe é alguém com muito conhecimento de causa que não sabe se expressar nesse formato de divulgação, ou se ela é alguém que está apenas aprendendo e resolveu jogar termos aleatórios no meio das páginas para criar uma obra extraordinária e a frente do seu tempo (FAIL).

Caras legais de verdade. São caras que tratam você com gentileza porque são gentis, não porque estão tentando transar com você.

Parece que 80% dos homens com os quis Blythe flertou/saiu/sonhou é GATO. Se eu tivesse que ler essa palavra sendo usada como adjetivo mais uma vez tinha jogado o livro pela janela. Outro ponto que me tirou a paciência foi o quanto a autora citou o filme “Mens@gem para Você“. Por sorte eu assisti e consegui acompanhar as referências. Mas para quem não conhece o filme é insuportável encontrar uma referência em cada capítulo. E pasmem, tem parágrafos inteiros onde a autora disseca o longa e explica por que Tom Hanks (e não o personagem você leu bem) é o típico boy opressor de Chernobyl. Tom Hanks e Trump são os únicos homens atacados nesse livro, os demais estão apenas perpetuando um sistema machista que os beneficia. Mesmo que a informação esteja disponível para todos, mesmo que para entender sobre feminismo seja preciso apenas um cérebro e empatia, mesmo que tanto homens quanto mulheres possuam esse cérebro já que tê-lo não diz respeito ao gênero.

Satisfazer ou não os punitivos padrões de beleza de nossa cultura determina se as mulheres vão conseguir empregos, encontrar o amor ou se serão tratadas com gentileza por estranhos. As mulheres são duramente policiadas e punidas se não de adaptam – mas, se o fazem, são chamadas de frívolas, superficiais, egoístas, inseguras…

Sim, eu estou indignada com esse livro, mas eu dei duas estrelas e isso significa que eu encontrei algo que valesse à pena. No meio de tantos assuntos aleatórios, é possível encontrar boas frases (essas que usei nas citações) e que nos fazem refletir sobre as relações humanas, sobre amor e sobre aceitação. Um trecho em particular me fez pensar sobre o motivo pelo qual mulheres muito bem sucedidas em sua grande maioria estão solteiras. É quase como se a sociedade dissesse, “você não pode ser as duas coisas”. Você não pode ser amada e ser uma profissional de respeito. Não merece ter um homem e uma família pois precisa se dedicar à carreira. As mulheres precisam fazer mais sacrifícios pelo relacionamento, é isso que fica implícito em algumas culturas. Se você não cozinha, não passa, não cuida da casa, pois está ocupada tentando ser uma super executiva, então você irá fracassar no amor. Você será punida com a solidão. Alguns homens não conseguem se relacionar com mulheres que estão em posições de poder dentro do mercado de trabalho, já ouvi que essas mulheres são consideradas mandonas demais para ser uma boa companheira… Mas o contrário é bem aceito né meus amigos!

Para encerrar gostaria de dizer que talvez com um pouco mais de otimismo, você consiga encontrar na obra algo que satisfaça sua sede de entretenimento. Pois é exatamente à isso que esse livro se destina. Frases de efeito não tiveram a força necessária para tornar esse trabalho em algo memorável ou digno de nota. A introdução é realmente agradável mais o resto do livro chega a ser um desserviço.

Eu só queria ter lido que sair com um homem enquanto mulher feminista, inclui ser apenas você mesma. Sem jogos, sem interpretações, sem esperar que um beijo resulte em um namoro, filhos e casamentos. Nem toda mulher é a neurótica dos relacionamentos, mas foi apenas isso que encontrei ao conhecer a escrita de Blythe. É importante saber que ter ou não um relacionamento não irá interferir no seu valor enquanto ser humano. Mesmo que a sociedade faça parecer que você fracassou enquanto mulher “pois não conseguiu segurar um homem” isso não quer dizer nada a respeito de suas qualidades, sonhos e planos. Querer um relacionamento também não faz de você menos feminista. Meu ponto é que a autora gastou linhas e mais linhas para dissecar a mente masculina na busca incessante por uma compreensão sobre o que outro quer dizer, sente ou espera, quando deveríamos estar ocupadas tentando entender nós mesmas, nossos sentimentos e expectativas. Esse livro que fala sobre feminismo deveria ser sobre nós mulheres, e não mais uma obra voltada ao gênero masculino.

  • How to date men when you hate men
  • Autor: Blythe Roberson
  • Tradução: Adriana Fidalgo
  • Ano: 2020
  • Editora: Galera Record
  • Páginas: 288
  • Amazon

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