Antes de mais nada quero deixar claro que este não é meu lugar de fala, não sou negro, sou de classe média alta, beneficiado constantemente pelo sistema patriarcal que foi institucionalizado em diversos cantos do mundo, mas esse livro também é para mim, porque ele fala sobre fatos e informações que todos nós precisamos saber para podermos viver em um mundo melhor e com maior igualdade.

Martin Luther King foi o maior ativista social na briga contra o preconceito racial e a segregação, que, durante tantos séculos dominou o mundo de maneira cruel e brutal. Um homem nascido em Atlanta, capital do estado da Geórgia, Martin foi assassinado em 1968, antes de completar 40 anos. E mesmo tendo sua vida abreviada, se tornou um nome inesquecível e que serve deu exemplo e tem suas palavras recitadas até os dias de hoje.

Martin escreveu Por Que Não Podemos Esperar em 1964, o mesmo ano em que foi premiado com o Nobel da Paz, ou seja, muito do que está escrito nessa obra foi responsável para que o prêmio fosse dado a ele, coisas importantes são citadas. Sempre me interessei por textos que tratem do tema racismo, entender a mente das pessoas e estudar sobre tudo que já foi feito na história é necessário para que comportamentos sociais sejam modificados.

Um dos melhores livros que li este ano foi Cartas Para Martin, onde um adolescente negro escreve cartas sobre sua vida para o já falecido Martin Luther King, e este ano, o livro O Reformatório Nickel, de Colsson Whitehead foi o vencedor do Pulitzer, um dos prêmios literários mais importantes do mundo e que também havia sido minha melhor leitura no ano anterior, dois livros emocionantes, duros e necessários, Martin certamente ficaria feliz em lê-los.

É a primeira vez que leio um livro escrito por Luther King, já tinha sim lido textos dele, escutado memoráveis discursos, visto pessoas notáveis falando sobre a sua importância, mas este foi meu primeiro contato com sua obra e a primeira vez que este livro foi lançado no Brasil também. Logo no ano em que os gritos raciais foram tão importantes no mundo inteiro em meio a uma pandemia, sem contar toda confusão eleitoral que acaba de acontecer por lá, tendo como um dos principais cenários a própria Geórgia de Martin.

Confesso que estava mega ansioso para esta leitura desde o anúncio da Faro, queria ter minha primeira experiência com este homem incrível, e foi maravilhoso. A inteligência de Luther King é daquelas poucas vezes vista em uma personagem, a grande capacidade de pensar a frente de seu tempo, a forma como ele fala, como coloca as palavras, que pra mim já era conhecida desde a primeira vez que assisti ao seu famosíssimo discurso “I Have a Dream”. Mas ler as palavras dele teve um peso diferente, em pensar que ele já falava sobre isso nos anos 60, apresentando ideias claras de como fazer para diminuir a segregação racial.

Uma delas é a ideia de que a preocupação dos negros ativistas não deveria ser a Ku Klux Klan, grupo racista de extrema direita, e sim o brancos que não se posicionam, que podem ser “recrutados” para uma associação como esta, caso não houvesse uma preocupação dos negros em exporem seus pensamentos a eles, sem deixar assim, que a KKK fale coisas falsas sobre os ativistas negros, com o intuito de assustar estes brancos “normais”. Outro ponto muito abordado na obra é a importância de se manter o pacifismo do protesto, já que o que os inimigos dos ativistas mais desejavam seria uma balbúrdia para poderem desabonar a integridade do grupo, fazendo o resto da população achar que eles não passariam de meros arruaceiros.

Ideias que são na verdade ideais, uma mentalidade que forma uma estrutura social muito forte, que era necessária para a época e que de tão bem feita, é utilizada como parâmetro ainda nos dias de hoje. Tudo isto com a dificuldade de fazer este trabalho sem auxílio de internet ou redes sociais, até mesmo para que os protestos fossem televisionados era difícil, então a importância desse livro, que era a mídia que poderia viajar mais longe sem ter suas palavras deturpadas por interlocutores mal intencionados.

Por Que Não Podemos Esperar é um livro forte, com relatos de protestos, de dias de luta, de atentados que Martin e sua família sofreram, além de incluir opiniões e pedidos do autor ao seu povo e a quem estaria lendo-o, tudo isto escrito por uma das personalidades mais importantes da história do mundo inteiro, que, infelizmente, viveu pouco e que continuamos precisando ler para que o comportamento seja alterado e consigamos viver em um mundo onde o racismo seja combatido com força e deixe de existir.

  • We Can't Wait
  • Autor: Martin Luther King
  • Tradução: Sarah Pereira
  • Ano: 2020
  • Editora: Faro Editorial
  • Páginas: 176
  • Amazon

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