A Melodia da Água é a obra que abre a nova dualogia de Rebecca Ross. O segundo volume e conclusão dessa duologia, O Fogo Eterno já foi publicado por aqui também.
Essa é uma história de fantasia que combina mistério e um pouquinho de romance e se passa na ilha de Cadence, onde Jack, um bardo que passou anos longe de sua terra natal, é chamado de volta para resolver um mistério: o desaparecimento de garotas. Porém Jack está bastante relutante em retornar à ilha pois isso significa ter que enfrentar seu passado.

Quem o chama de volta é o líder do seu clã, pai de Adaira. Sua relação a filha do barão e futura líder do clã, vai evoluir de uma rivalidade de infância até o ponto em que os dois se encontram hoje, pois apesar da distância ao longo dos anos, a Adaira sabe que a magia de Jack pode ser essencial nesta jornada em encontrar essas garotas desaparecidas.
O elemento da magia aqui neste livro vem através da música e da arte, porém para o Jack e para sua mãe, que também expressa magia como tecelã do clã, vem com um custo, ou seja, quanto mais utilizam essa magia, mais debilitados eles ficam com o tempo.
O que fortalece o enredo é a inclusão de lendas e espíritos elementais neste cenário, esses seres desempenham um papel crucial na trama, criando uma atmosfera mágica e intrigante. Tudo nesta história é muito vivo, o vento tem um papel importante aqui, assim como a terra, principalmente quando iremos acompanhar Sidra, um dos personagens secundários.
Os feericos são comumente citados em diversos livros de fantasia, portanto, o que mais me chamou a atenção aqui foram as referências da mitologia celta na trama, mais precisamente, os contos irlandeses. O fato dos segredos serem os responsáveis sobre a força da magia aqui é simplesmente fantástico. Quanto mais secreta uma informação, mas forte essa magia pode ser.
Na mitologia celta, os segredos e o conhecimento oculto desempenham um papel essencial na magia e na espiritualidade. Os druidas, sacerdotes e sábios celtas, acreditavam que certas verdades não deveriam ser registradas por escrito, pois a palavra falada possuía um poder mágico e sagrado.
Os Tuatha Dé Danann, por exemplo, era um povo mítico de deuses e magos que dominavam a magia e os segredos da natureza. São frequentemente descritos como reis, rainhas, druidas, bardos, guerreiros, heróis, curandeiros e artesãos que têm poderes sobrenaturais e eventualmente, no folclore posterior, passaram a ser chamados de “fadas”, ou como conhecemos, feericos. Todos esses elementos estão presentes em A Melodia da Água!

Também há uma veia política na trama, em Cadence existem dois clãs, bastante diferentes entre si inclusive a relação que cada um desses povos tem em relação a magia. Mesmo assim, isso não quer dizer que Adaira não demonstre interesse em trazer um pouco de paz entre esses dois povos, mesmo com a desconfiança de que esse clã rival possa estar por trás do desaparecimento dessas meninas.
A parceria da Adaira com o Jack vai crescendo, trazendo mais tensão e química para os personagens. Essa dinâmica “enemies-to-lovers” é um dos pontos altos do livro. Mas sinceramente não me pegou muito, pois achei tudo muito apressado, ao ponto de não conseguir me convencer sobre os sentimentos dos personagens, tão repentinos.
Mas embora o romance seja um elemento importante, ele não ofusca a trama principal, que é repleta de mistério e reviravoltas. A busca por respostas leva os personagens a confrontarem segredos antigos e perigos ocultos, mantendo o leitor envolvido até a última página. Então há um equilíbrio aqui entre a trama principal e os plots secundários.
Esse foi meu primeiro contato com a autora Rebecca Ross e eu adorei a escrita dela. Com descrições vívidas e poéticas, ela transporta o leitor para o mundo de Cadence, fazendo com que cada detalhe – desde a brisa do mar até estrofes das músicas de Jack – ganhem vida. A autora sabe armar muito bem o terreno ao apresentar essa história para o leitor, nos preparando para o desfecho que vai ocorrer no em O Fogo Eterno.
A Melodia da Água é uma leitura cativante que combina elementos de fantasia e uma pitada de romance com uma narrativa bem construída. Para quem aprecia histórias com mundos mágicos, com muitas referencias as mitologias e personagens marcantes, esta obra é uma escolha imperdível.