Todo mundo já ouviu falar de Frankenstein, a história do monstro feito de pedaços de corpos retalhados pelo Dr. Victor Frankenstein, essa criada há exatos 200 anos, pela maravilhosa escritora Mary Shelley. Ao longo dos anos, diversas adaptações foram feitas baseadas no livro, sejam eles filmes, séries ou quadrinhos, além de tantas outras histórias que possuem como referência o original.
A história de Frankenstein é muito mais que apenas algo sobre terror ou monstro, ela inicia desde o começo da ideia de Shelley começar a escreve-lo. Tudo teve início em uma viagem de verão a Genebra com sua família e amigos. Em uma noite chuvosa eles começaram a conversar sobre terror e todos foram desafiados a criarem um conto sobrenatural, Mary era a única mulher e os homens se quer deram bola a sua imensa capacidade, mas seu conto, chamado Frankenstein, ganhava vida.
Mas mesmo com uma história incrível, sem sombra de dúvidas, com nada igual jamais criado na literatura mundial, mesmo depois de 200 anos, algo faltava para a escritora Kiersten White. Como uma obra tão magnifica, escrita por uma mulher, que provou ser melhor que todos homens a sua volta, não tinha uma mulher como a protagonista da história? Sendo assim, ela resolveu se apoderar da obra de Shelley e reescreve-la pela ótica de uma das poucas coadjuvantes femininas da história: Elizabeth Frankenstein.

Elizabeth era uma menina adotada pela Família Frankenstein, tratada quase como uma dama de companhia de Victor e que acaba virando o amor da sua vida. E assistir alguma história sob a ótica de outra pessoa, passando o protagonismo para outra personagem, faz a história ser completamente diferente, mesmo com o mesmo tema, o mesmo mote e com a maioria dos leitores sabendo o final. Mas o enredo inteiro, para chegar até esse final, é repleto de novidades, coisas inesperadas e desconhecidas.

Em A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein você irá encontrar a história de uma mulher apaixonada em busca do seu marido louco e que havia fugido de casa. Ela sai de casa acompanhada de uma amiga com destino a Ingolstadt, Alemanha, último lugar onde Victor foi visto por alguém da família.
A autora Kiersten White tenta colocar nessas páginas o pensamento que ela imagina que Mary Shelley teria para aquela personagem. Nas notas do final do livro, ela inclusive cita que tem uma curiosidade imensa de saber se a autora original de Frankenstein teria a mesma visão de Elizabeth que ela teve 200 anos depois. A personagem é tão realista, é uma mulher cheia de ideias e que apesar da loucura absurda do amor da sua vida, não muda sua essência e não deixa de acreditar no homem que ama, luta para encontra-lo, luta para protege-lo. Sem dúvidas, Elizabeth não é uma das tantas personagens femininas dependentes de homens que tanto reclamo aqui.

De forma geral, A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein acaba não tendo tanta ação como eu gosto, mas o final é bem intenso, cheio de sangue e chocante. O seu desenvolvimento é um pouco arrastado, as reflexões de Elizabeth e a procura dela por Victor, as vezes, se tornam um pouco repetitivas e deixam o enredo pesado, mas tirando isso só tenho coisas boas para falar da obra.

Além de muito bem escrito, a edição preparada pela Plataforma 21 ficou perfeita. A edição possui uma lombada diferente, imitando uma edição mais crua, como se fosse feita a mão. É ótima ao toque e muito maleável, ao ponto do livro abrir perfeitamente, sem que você precise segura-lo quando solto a mesa, um trabalho de primeira. Dá até a ideia de que o livro foi feito de pedaços, como o próprio monstro de Frankenstein.

Eu nunca li o livro original, mas já vi o filme e conheço a história dele. Não me senti prejudicado em ler o livro de Kiersten primeiro, mas quando terminei o livro fui correndo atrás da obra mais que centenária, e acho que todos deveriam faze-lo. Não é necessário ler o clássico antes desta releitura, porém, é claro, a experiência de saber a história verdadeira e ler o livro com Elizabeth como personagem principal deve ser muito mais prazeroso.

Kiersten White jamais saberá o que Mary Shelley acharia da sua adaptação, mas eu poderia jurar que ela ficaria orgulhosa, de justamente no aniversário do bicentenário de sua obra prima, ter ela relembrada de uma maneira tão atual. Kiersten coloca a figura feminina como protagonista, mostra o quanto o mundo evoluiu ao longo dos anos e o quanto a força de Shelley contribuiu por um mundo ideal na literatura, onde mulheres pudessem se mostrar capazes de escrever melhor que homens. Talvez Mary Shelley não imaginasse que a sua obra pudesse ter uma personagem feminina com a mesma força que ela teve em encarar homens machistas em pleno começo do século XIX, mas Kiersten provou que sim, que poderia.

  • The Dark Descent of Elizabeth Frankenstein
  • Autor: Kiersten White
  • Tradução: Lavínia Fávero
  • Ano: 2018
  • Editora: Plataforma 21
  • Páginas: 352
  • Amazon

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